“ED & LORRAINE WARREN: DEMONOLOGISTAS”, ou “Como saber a diferença entre fantasma, poltergeist e demônio ainda vai salvar sua vida um dia!”

Eduardo Cruz

“Um fantasma pode assustá-lo”, responde Ed. “Um espírito demoníaco vai assustá-lo – e acabará ameaçando a sua vida. Nos estágios iniciais, os fenômenos associados a espíritos tanto humanos quanto inumanos podem ser os mesmos. Ambos os tipos de espírito vão manipular o ambiente físico na tentativa de fazer com que a presença deles seja notada. A diferença é a natureza da atividade associada a cada tipo. Em regra, fantasmas farão coisas à casa, enquanto espíritos demoníacos farão coisas às pessoas. Um tenta assustá-lo para que você saia da casa. O outro tenta assustá-lo para que você enlouqueça (…)”

Sabem, tenho uma confissão a fazer. Nada mais justo, depois desse tempo todo recebendo vocês aqui na Zona, que eu compartilhe alguma intimidade, algo de particular com vocês. Afinal, vocês já são de casa. Então lá vai: Eu tenho uma espécie de compulsão bizarra (não, não é nada sexual, tratem de manter essa mãozinha aí quieta!). Algumas pessoas achariam que seria o caso de, no mínimo, me encher de remédios por conta disso, para que eu tivesse uma vida “normal”. Mas é um impulso que me persegue desde que senti pela primeira vez ainda criança, quando ouvia algumas histórias, assistia a certos filmes ou realizava certas “brincadeiras”, como o jogo do copo.
Eu gosto de sentir medo.
Não qualquer tipo de medo, como “Será que hoje vou ser assaltado no ônibus?” ou “E se alguma coisa caísse do alto desse prédio em construção direto na minha cabeça?”.
Não. Nada tão mundano assim.
Na verdade, só o que satisfaz essa minha compulsão é um pavor intenso, irracional, e de preferência impulsionado por um fato ou evento que a mente racional não consiga explicar. Algo não mensurável ou palpável. Algo como estar sozinho em casa, acordado de madrugada e ouvir barulhos estranhos, ou ter que passar na frente do cemitério à noite. Ah sim, e tem também as histórias de possessão demoníaca.
A possessão demoníaca é algo impressionante e assustador, acredite você ou não na autenticidade do fenômeno. A idéia de ser arrebatado e perder o controle de seu próprio corpo para uma inteligência supostamente autônoma e externa é algo que apavora qualquer pessoa normal, independentemente de qual religião ela pratique, ou até mesmo se não tem nenhum tipo de crença. Muitos preferem não acreditar que algo tão sinistro costuma acontecer, e que nos tempos atuais não há espaço para crenças retrógradas em fantasmas ou espíritos demoníacos, que tudo tem uma explicação racional, científica. Mas não o casal Warren. Eles sabiam bem que a coisa não funcionava desse jeito, e que a realidade que se esconde por baixo da superfície do dia a dia é bem mais sinistra.

Lorraine e Ed Warren

Edward (falecido em 2006) e Lorraine Warren têm investigado estas ocorrências paranormais/sobrenaturais desde a década de 40, e fundaram em 1952 a The New England Society For Psychic Research (A Sociedade de Pesquisas Psíquicas da Nova Inglaterra) para se aprofundarem em suas pesquisas do oculto, e assim se tornaram os primeiros “Caçadores de fantasmas” do século XX. Lorraine é uma médium sensitiva, ou sejE, ela consegue detectar energias no ambiente e determinar se se trata de fato de um espírito de uma pessoa desencarnada ou algo mais sinistro. Edward é um demonologista, que seria algo como um expert em espíritos não humanos. Segundo os Warren, as entidades sobrenaturais se dividem em espíritos de pessoas que um dia foram vivas e entidades espirituais que nunca tiveram uma existência física e existem com o único intuito de se expressarem através de manifestações negativas contra pessoas, incluindo, em último caso a possessão demoníaca. Os Warren os classificavam como “espíritos demoníacos inumanos”, no vocábulo popular, “demônios”. “Estudar o que esse espírito é, o que ele pode fazer e o que sua existência pode significar é, em última análise, o trabalho e a incumbência do demonologista”, nas palavras de Ed. Um demonologista precisa saber identificar o espírito demoníaco, e se for o caso, auxiliar um clérigo ou sacerdote, provendo as condições para que o exorcismo da entidade do local transcorra sem atribulações. O que, pelo que podemos notar em detalhes de alguns casos ao longo da carreira dos Warren (os números de casos assistidos pelo casal varia de 3.500 a 10.000 ocorrência registradas!), nem sempre é possível, e muitas vezes a coisa fica feia.
Entre as ocorrências investigadas pelo casal, algumas se destacam pela proporção de notoriedade, chegando mesmo a terem sido amplamente divulgadas pela imprensa, como o caso Amityville, do qual até nossos avós já ouviram falar, o caso da boneca Anabelle, a assombração de Enfield, entre outros casos escabrosos. Tanta atenção acabou despertando a atenção de Hollywood e vários desses casos foram adaptados para cinema, em filmes como “Invocação do mal“, “Invocação do mal 2“, “Annabelle“, e uma dúzia de filmes sobre o que diabos aconteceu em Amityville.

“(…) como afirma Ed: “Eu e outras testemunhas já vimos as feições de pessoas possuídas se transformarem naquelas de um lobo, de um porco e, mais comumente, de um gorila. Já vi indivíduos possuídos assumirem as feições dos mortos, bem como se transformarem em coisas que poderiam ser descritas apenas como grotescas e macabras. E todas essas mudanças sãofísicas. A pele e os ossos realmente mudam de forma, depois voltam ao normal, quando o episódio de possessão passa.”

Alguns dos casos que o narrador de inglês ruim mostra nesse vídeo
constam no livro, e com detalhes suficientes para tirar o sono…

Claro que uma carreira tão atípica e tão extensa gera muita informação, a longo prazo. Além de um arquivo composto de registros em escrito, testemunhos, reportagens, milhares de fotos de aparições, gravações em vídeo e fitas com milhares de horas de gravações de vozes de espíritos e pessoas sob possessão demoníaca, os Warren acumularam ao longo de sua carreira objetos através dos quais as pessoas fizeram uso para inadvertidamente ou irresponsavelmente estabelecer contato com entidades demoníacas, trazendo o problema para dentro de suas próprias casas. O tal “Museu do Oculto” dos Warren é uma parafernália sem fim composta de tabuleiros de Ouija, adagas rituais, velas negras, livros de magia negra, máscaras, capas cerimoniais, bolas de cristal, estatuetas de demônios, um caixão, e até a própria Annabelle. Enfim, tudo que se puder imaginar que eles levam embora da cena onde ocorreu a atividade sobrenatural/demoníaca provocada por meros curiosos, na maioria das vezes. Cada objeto é um caso, e conta uma história. Alguns dos objetos guardados no museu são tão impregnados de energia negativa que o simples ato de tocá-los pode desencadear uma manifestação ou até mesmo uma possessão. Os Warren mantém os objetos em sua custódia para que não caiam em mãos incautas novamente. Esse é o acervo do museu.

“Se há uma mensagem que Ed e Lorraine Warren tentam transmitir com clareza é que o oculto é basicamente um acidente esperando para acontecer.”

Um tour pelo “museu do Oculto” do casal Warren.
Toque em qualquer objeto e leve como souvenir para casa uma entidade agarrada em você.
Talvez o único museu que não desperte interesse de ladrões.

Em 1980 saía nos EUA o livro “The Demonologist”, onde o leitor poderia acompanhar a rotina dos Warren e conhecer mais a fundo os detalhes dos casos pavorosos citados acima, investigados pelo casal: assombrações, possessões… enfim, o dia a dia normal do casal Warren rs. Infelizmente, como muitos outros livros relevantes mas ignorados pelas editoras, não sei por qual razão, “The Demonologist” nunca havia sido lançado no Brasil. Até que no fim do ano passado a Darkside Books fez bonito de novo e o lançou aqui, com o título “Ed & Lorraine Warren: Demonologistas”. A edição segue o padrão gráfico muito bem elaborado e sempre alinhado com a temática do livro, um padrão da editora da caveirinha, que consegue lançar bons livros com belíssimas capas. O design do livro simula uma encadernação antiga e desgastada, e conseguiu enganar minha tia, que viu a capa e me perguntou se “Eles mandaram o livro assim estragado pra você???”. Então, ao Retina 78, responsáveis pela capa e projeto gráfico da edição, deixo meu mais sincero “Missão cumprida!”, amigos ;>)

Projeto gráfico impecável da Darkside Books
Essa é Annelise Michel, possuída por 6 entidades diferentes:
Hitler, Caim, Nero, Fleischmann, Judas e Lúcifer, como cada uma das vozes se denominou.
Claro, também não estou ignorando as montanhas de evidências que investigadores céticos levantaram contra os Warren ao longo dos anos, afirmando que eles não passavam de charlatões e embusteiros. Nesse campo de estudo, há décadas percebe-se uma constante: todos aqueles que se propõem a comprovar a autenticidade dessas ocorrências conseguem comprová-la, e aqueles  que se propõem a comprovar que causas sobrenaturais não existem também o conseguem. O impasse permanece. Por isso, na pior das hipóteses, “Ed & Lorraine Warren: Demonologistas” é um livro que agrada aos que crêem e também aos céticos, basta decidir lê-lo como um bom terror, ou como um manual de proteção, dependendo da sua inclinação à credulidade ou ceticismo. O livro funciona bem das duas formas. Um excelente livro de terror, daqueles que você lê antes de dormir, mas que vai te fazer hesitar em levantar no meio da madrugada para uma ida ao banheiro. Ótimo também para levar quando for acampar sozinho, ou para passar o tempo naquela viagem de semana santa a parentes que moram no interior, para ler com a janela aberta enquanto espera o sono chegar. Isto é, se você é como eu e gosta de sentir um medo saudável do desconhecido. Agora me dêem licença um instante, vou ali no quarto ao lado verificar porque minha mulher começou a falar aramaico com uma voz cavernosa e está batendo boca com minha sobrinha de 3 anos, que por sua vez está agarrada na parede como uma aranha e falando em grego igual a um velho com asma…

“Qual é o pior caso que Ed e Lorraine já investigaram?

“Isso é uma coisa que eu nunca, nunca falo”, admite Ed, ficando de repente muito sério. “O caso foi quase o nosso fim, isso eu garanto. Nós nos vimos levados a um lugar fora deste mundo, um lugar que você nunca acreditaria existir, mesmo que eu o descrevesse. Cada minuto, cada segundo daquelas longas horas foi tão inacreditável, tão incompreensivelmente horrível, que acho que agora conheço o verdadeiro significado de inferno e o valor da vida na Terra.”

Um áudio de uma das entidades residentes na casa de Enfield falando com o investigador.
Ouça às 3 da manhã para conseguir escutar melhor. Boa noite.
Ficou com medinho???
Então, quem você vai chamar???

Eduardo Cruz

NAN