‘Eduardo e Mônica’: quem um dia irá dizer?
Pedro Marco
Não foi apenas uma vez que ouvimos uma música e pensamos: “nossa, essa história daria um filme”. Antes do Brasil presenciar a apoteótica “Faroeste Caboclo”, em 1987, o ano anterior trazia no disco Dois, da Legião Urbana, a cômica e romântica história do casal Eduardo e Mônica. E sobre os versos inconfundíveis de Renato Russo, a imagem do casal era construída individualmente para quem ouvia canção. Bem, até agora.
Após estrear na direção com a adaptação de Faroeste Caboclo, em 2013, René Sampaio avança em sua pretensiosa trilogia ao adaptar mais uma rapsódia candanga no filme Eduardo e Mônica. Entre os dois longas, o diretor, que surgiu em curtas independentes na capital federal, onde nasceu, afinou seu trabalho com a produção de Impuros na Fox Premium e a direção geral de Dupla Identidade, na Rede Globo.
Maturidade
Com essa nova carga, Sampaio apresenta um longa muito mais maduro que o anterior. E, enfim, consegue passar com clareza e carisma a Brasília dos anos 80. Não apenas carros antigos e cenários imortais tentam compor essa viagem no tempo, mas o marasmo e o ócio de uma cidade em seus primeiros passos é sentido nos personagens, transformando o tédio em manifestação artística.
As referências à letra original são inúmeras. Elas abordam praticamente o texto inteiro e fazem mais inserções do que alterações, ao contrário do filme anterior. Além disso, acenos para os aficionados da história de Renato Russo poderão ter seu deleite em vários easter eggs que vão desde camisetas da banda Aborto Elétrico até o clima de influência do rock inglês, bem como do movimento pós-punk que amadureceu o músico.
Mas claro, nada disso teria uma mínima relevância se o casal central não funcionasse. Assim como na música, temos a união de um jovem de 16 anos com uma mulher que faz medicina e fala alemão. O contraste entre o ainda jovem Gabriel Leone (que recentemente apareceu na série Dom, do Amazon Prime Vídeo) e a mundialmente aclamada Alice Braga é um charme à parte na tensão amorosa do casal título.
Expansão de um universo
Dentre cenas que te fazem mentalmente cantar os versos e adaptações que deixam um sorriso bobo no rosto do espectador, o filme Eduardo e Mônica expande o universo de forma orgânica e crível. Girando, assim, em torno de uma química cuidadosamente construída entre os personagens.
Além disso, a direção de Sampaio não apenas evolui como surpreende em tomadas de passada de tempo que mesclam o conceitual artístico com o intimismo simplório de uma comédia romântica clássica, atingindo seu ápice em um quadro final que ficará para a história do cinema brasileiro.
Assim, Eduardo e Mônica avança fluido como uma canção audiovisual que apaixona e envolve. Mas também é auxiliado por um elenco de apoio que casa perfeitamente em drama e alívio cômico. Como era de se esperar, o longa é uma carta de amor para Brasília. Capaz de arrancar lágrimas do brasiliense mais casca grossa, com o clima que Somos Tão Jovens e até o próprio Faroeste Caboclo falharam em tentar alcançar.
Então ficamos no aguardo do terceiro filme que completará esta ambiciosa trilogia, acompanhar a evolução do cineasta brasiliense deixa de ser uma preocupação para se tornar uma positiva ansiedade.
Onde assistir ao filme Eduardo e Mônica?
A saber, o filme Eduardo e Mônica estreia nos cinemas em 6 de janeiro de 2022. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Trailer do filme Eduardo e Mônica
Eduardo e Mônica: elenco do filme
Gabriel Leone
Juliana Carneiro da Cunha
Ficha Técnica
Direção: René Sampaio
Roteiro: Claudia Souto, Jessica Candal, Matheus Souza e Michele Frantz
País: Brasil
Gênero: romance
Ano de produção: 2020
Classificação: 14 anos