Efeito Flashback crítica do filme

‘Efeito Flashback’: tempo não linear e livre-arbítrio

Ana Rita

Vários filmes já abordaram a existência de universos paralelos e essa aparente incógnita do espaço-tempo que permite sua não linearidade, como Donnie Darko, Efeito Borboleta, Primer e A Chegada. Partindo de explicações diferentes, tal qual suas motivações, falar sobre a linearidade, ou não, do tempo pode render interessantes histórias.

Seguindo uma proposta diferente, Efeito Flashback (Flashback: The Education of Fredrick Fitzell), filme dirigido por Christopher MacBride, traz um elemento bastante interessante que permite a existência de uma liberdade ao personagem, se aprofundando em uma questão mais filosófica sobre o tempo cronologicamente e o livre-arbítrio.

Aparente vida normal

O filme Efeito Flashback acompanha a vida de Fred (Dylan O’Brien), agora já na vida adulta, com obrigações e emprego, uma esposa e sua mãe internada. Ou seja, uma vida considerada normal, mesmo que possa aparentar um tanto quanto pacata às vezes. De repente, começa a ter visões estranhas, que incluem a aparição de Cindy (Maika Monroe), com quem estudou na escola e percebe que não sabe o paradeiro dela.

Nisso, Fred parte em uma busca por Cindy, saber onde está, como está, tentando também entender porquê desses flashbacks que vão atrapalhando sua vida, tirando o foco no seu novo trabalho; mas, ao mesmo tempo, o colocando em outro espaço, e não aquele onde está fisicamente presente. Em Fred, há um forte aspecto de insônia e monotonia, que vai sendo desenvolvido mais ainda nessa procura por Cindy e por respostas.

Ele, então, volta à escola, procura por seus amigos na época para saber o que aconteceu com Cindy, sobre o sumiço dela desde as provas finais, nem chegando a se formar. Conversando com a diretora da época e reencontrando esses antigos amigos, Fred começa a associar o desaparecimento da moça com o uso de uma certa droga que circulava na escola na época: o mercúrio.

Memórias

Essas visões, flashbacks de Fred, vão se tornando cada vez mais reais. Nisso, a montagem do filme Efeito Flashback vai intercalando cenas da atual vida do protagonista com momentos da sua época de escola, buscando criar as associações de Fred com Cindy, assim como o que acontecia entre o grupo de amigos na época. Em especial, a presença de ‘mercúrio’.

Esses flashbacks são, além de possíveis visões, tentativas de comunicação com Fred, que, conflitando com sua vida real e normal, aumentam a expectativa pelo conflito e o suspense na trama.

Entendemos com essa ‘revisitação’ a sua época de escola, que o jovem teve contato mais direto com mercúrio e que a droga foi um dos pontos importantes na sua relação com Cindy. Essas lembranças direcionam o seu desaparecimento a alguma relação com entorpecente. A jovem conta que toma mercúrio para explorar, sente que não pertence a essa prisão que estamos tão acostumados em nossas vidas, esse destino pré-determinado pela sociedade.

O grupo de amigos de Fred era composto por Sebastian (Emory Cohen) e Andre (Keir Gilchrist), que nesse reencontro e busca por Cindy, ajudam na imersão no passado desses jovens, mesclando de forma mais profunda os flashbacks com a realidade. Como um quebra-cabeça, a procura pela jovem e essa falta de informações que vai sendo resolvida, em partes, por flashbacks, prende o espectador mais ainda no filme. Afinal, queremos entender tudo que de fato aconteceu e o porquê.

Universos paralelos

Quando finalmente encontra Cindy, Fred entende o que existe por trás de mercúrio, o que seu uso causa. Na verdade, seus flashbacks vêm da sua conexão com o uso da droga anteriormente, que permite uma espécie de universos paralelos. A moça conta que é mais livre do que jamais imaginou.

É como se o mercúrio inibisse a ordem linear do tempo, permitindo que se siga várias das realidades paralelas existentes. Com a droga, ele é capaz de escolher essa realidade. Isso, no entanto, é, na verdade, uma imposição do sistema, dessas prisões que Cindy tanto queria se libertar.

O agora conhecimento dessas diversas linhas temporais e a possibilidade de escolha de realidades paralelas repercute bastante na vida de Fred. Assim entendemos que tudo está conectado, como o ataque que sofre em distintas realidades paralelas no momento de eventos importantes. Dessa forma, o personagem passa a querer se libertar dessa falsa realidade, essa ‘escolha’ imposta.

A partir daí, Fred se torna livre, pode explorar o mundo com Cindy, não se prende a nada e pode ter tudo que de fato quer. Preencher essa necessidade da existência humana. A possibilidade de explorar o mundo, bem como o espaço-tempo e as realidades paralelas pode ser tudo que lhe faltava. Afinal, agora Fred não está preso a mais nada. Isso implica, aliás, também na sua relação com outras pessoas que ainda estão nessa prisão do sistema, que é o caso de sua mãe que está doente.

Livre arbítrio

Durante muito tempo se discute na filosofia a existência ou não do livre-arbítrio. Será que de fato somos livres para fazer nossas escolhas? Nossas decisões cabem a nós mesmo ou há forças que as impedem? Na filosofia, esse debate pode ser exemplificado entre o “libertismo” e o “determinismo”. Mesmo que falando mais do aspecto moral de nossas escolhas, assim como suas consequências, há um embate sobre a liberdade de cada um. Se somos livres realmente em nossas ações ou se existem forças que determinam nossas escolhas, podendo ser Deus ou até o sistema.

O uso da droga ‘mercúrio’ permitiria explorar o mundo, conhecer novos lugares, praticamente transcender na existência humana, superando amarras e prisões definidas pelo sistema. Não vou mentir que, perto do desfecho final, achei meio frustrante o modo como essa ideia estava sendo levada. Fred explora o mundo por meio da droga, contrastando com o ambiente no qual os usuários de mercúrio ficavam.

Valorização da vida

Mas a forma que Fred lida com a realidade e o conhecimento dessa linha temporal não linear e a existência de um total livre-arbítrio é bem interessante. Agora, ele sabe de tudo, volta na vida e segue o mesmo percurso temporal que já fazia antes de saber da conexão da droga. O jovem faz tudo certo, garante sucesso no emprego, está com sua esposa Karen (Hannah Gross), vai ser pai, pode aproveitar sua mãe enferma. Mesmo com a opção da escolha, por mais redundante que pareça, ele opta pela realidade que já vive, seguir sua vida normal. 

Enfim, trazendo um pouco sobre liberdade com a existência de uma droga que permite uma certa ideia de maior aproveitamento da vida humana, Efeito Flashback finaliza com a uma lição de valorização da vida e daqueles que nos cercam. Mesmo que viva nessa única realidade, podendo ser considerada prisão, é importante salientar-se sobre a ideia de conforto e realização pessoal. Mesmo que seja por uma vida comum sem muitas aventuras. É entender suas reais vontades e desejos.

Onde assistir ao filme Efeito Flashback?

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Trailer do filme Efeito Flashback

Efeito Flashback: elenco do filme

Liisa Repo-Martell
Dylan O’Brien
Hannah Gross
Donald Burda

Ficha Técnica

Título original do filme: Flashback: The Education of Fredrick Fitzell
Direção: Christopher MacBride
Roteiro: Christopher MacBride
País: Canadá
Duração: 97 minutos
Gênero: ficção científica, suspense
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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