El Camino A Breaking Bad Film

‘El Camino’: Breaking Bad precisava mesmo de uma sequência?

Pedro Marco

Desde setembro de 2013 deixamos para trás a grande trama das metanfetamina azuis de Albuquerque. Breaking Bad e toda a saga de um ex-professor de química inserido no império das drogas com seu ex-aluno foi aclamada como uma das maiores produções da história da TV americana. Foram milhões de fãs pedindo mais. Mesmo com um spin-off de Saul Goodman, o advogado da dupla, indo para sua quinta temporada em uma série prequel, o diretor Vince Gilian decidiu revisitar este universo mais uma vez, e mostrar o que aconteceu com Jesse Pinkman.

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A história

Estrelado por Aaron Paul, o filme segue a história exatamente do segundo após o fim de Breaking Bad. A saber, Walter White foi morto e Jesse escapou de seu cativeiro neonazista em um El Camino (carro que dá nome ao longa). A partir daí, a jornada do personagem se inicia em uma série de visitas a pontos chaves de sua história, a fim de levantar o dinheiro necessário para poder desaparecer de vez dos olhares da polícia.

No entanto, ao contrário de sua série matriz, que, desde o início, nos expunha o objetivo central da trama, em El Camino, o foco da jornada de Jesse somente é revelado na segunda metade do filme. Aliás, isso deixa grande parte da trama desinteressante. Afinal, a história fica entre uma jornada desmotivada e flashbacks que não acrescentam nada. Nem desenvolvem melhor o personagem.

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Trama confusa e título sem nexo

A confusão do filme se alastra ao ponto que o espectador passa a se questionar da opção pelo título de El Camino, visto que o carro aparece apenas nas cenas iniciais e, brevemente, em um dos flashbacks. Tendo em vista o teaser e o pôster da série com bastante enfoque no veículo, imaginava-se que haveria uma relação um pouco mais intensa, tornando o carro uma espécie de coadjuvante, à la Impala, de Supernatural, ou mesmo o RV do próprio Breaking Bad.

Sendo um reflexo de sua época, o filme peca com cansativas referências aos fãs, que tentam forçar uma assinatura gasta do diretor. Apesar de serem aspectos amados da série, a cena pesada com música animada, os time lapses, a fotografia árida, bem como as posições ousadas da câmera, acabam sendo um triste respiro de um diretor tentando se auto-referenciar ao invés de trazer algo novo após seis anos.

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Retornos decepcionantes

O retorno de personagens antigos mostra-se a grande decepção para os fãs que tinham boas expectativas e teorias. Onde passamos boa parte da trama em companhia do desconfortável Todd, assim como do personagem terciário de Robert Foster (Ed), enquanto deixamos para trás Saul, Brock e outros personagens tão importantes para a jornada de Jesse.

A participação de Heisenberg chega a ser brega. De tanto que sua construção se torna óbvia ao longo da trama. Apesar de grandes expectativas de que Walter White pudesse retornar como uma espécie de alucinação que atormentasse a cabeça de Jesse após todos os anos de culpa, o roteiro prefere destinar os últimos meses de cativeiro como um trauma definitivo do personagem, como se os anos anteriores tivessem sido apagados.

Filme de Aaron Paul, não de Jesse Pinkman

Talvez um dos maiores atrativos para aqueles que darão play no filme pelo serviço de streaming da Netflix esteja no carisma que nos fez amar Jesse Pinkman, bem como evitar que ele morresse nas primeiras temporadas (como mandava o roteiro original da série). Contudo, é triste ver uma dissociação do personagem quebrado e irreconhecível. Fazendo o longa apenas aparentar ser um novo filme de Aaron Paul, mas não um do Jesse Pinkman. Sem as roupas características, o modo despojado de falar e as atitudes de escolhas erradas que põem tudo em risco de ser perdido, o personagem se mostra completamente descaracterizado e perdido em sua nova aparição.

Mesmo nos momentos de flashbacks, o cansaço e a tristeza que o ator transporta causa uma estranheza. Isso afasta qualquer nostalgia que poderia haver de Breaking Bad. Além disso, provoca uma grande vergonha alheia em seu forçado “Bitch”.

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Ainda sobre caracterização, os visuais crus e viscerais que Breaking Bad trazia no submundo de Albuquerque se perderam no desleixo, onde após meses trancafiado em uma jaula, sujo e sofrendo torturas, Jesse retorna com quilos a mais e dentes absurdamente limpos e clareados. Apesar de parecer detalhes soltos, são estes pequenos pontos que imergiam o espectador na série e que poderão tornar este filme tão esquecível.

Sobremesa sem gosto e de barriga cheia

Por fim, El Camino segue como uma sobremesa sem gosto pedida após comer demais no jantar. Sua trama falha absurdamente. Tanto como desfecho para um personagem que estava melhor com um futuro nebuloso e alternativo na cabeça dos fãs, assim como empobrece o material original com suas tapadas de buraco sem fundamento ou empolgação. Enfim, o que era para ser um sentimento de pena pelo personagem em sofrimento, acaba causando esta sensação aos fãs mais novos que possam julgar a série pela qualidade do longa.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: El Camino: A Breaking Bad Movie
Direção: Vince Gilligan
Roteiro: Vince Gilligan
Elenco: Aaron Paul, Charles Baker, Matt L. Jones, Jonathan Banks, Robert Forster, Bryan Cranston, Jesse Plemons, Krysten Ritter
Distribuição: Netflix
País: Estados Unidos
Gênero: ação, drama
Ano de produção: 2019
Duração: 122 minutos
Classificação: 16 anos

Pedro Marco

Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito
NAN