El Efecto e Maglore dividem palco do Circo Voador em noite especial para o rock independente
Fabricio Teixeira
Não é todo dia que temos a oportunidade de celebrar duas das bandas mais importantes do cenário independente brasileiro na mesma noite. Na última sexta-feira (08), o Circo Voador nos proporcionou um desses encontros, juntando os cariocas da El Efecto, que estavam comemorando 20 anos de carreira, com os baianos da Maglore, fazendo sua estreia na lona mais famosa do Brasil.
Mas tu tem que lembrar – com orgulho!
Veterana da cena independente do Rio, a El Efecto fez valer sua pujança e o forte teor político contido em sua obra na hora de subir no palco para fazer um verdadeiro show de rock. O incrível Memórias do Fogo (2018), último trabalho de estúdio da banda, soa igual, quatro anos depois de seu lançamento, e serviu de base para o show. O setlist ainda contou com sucessos mais antigos como “Pedras e Sonhos”; bem como “O Encontro de Lampião com Eike Batista” – que deu uma grande projeção à banda -; e uma música inédita, que ainda não tem nome, mas foi apelidada de “La Comuna”.
Não é de hoje que dizemos aqui no ULTRAVERSO que a El Efecto sabe fazer um show. Não pelas letras modernas e (infelizmente) atuais, nem pelos arranjos impecavelmente trabalhados, mas também por apresentar o que nós esperamos. Músicos extremamente talentosos que se entregam em cima do palco sem precisar de recursos grandiloquentes. Seja na calma e serenidade de Bruno Danton (voz, violão, guitarra e trompete); ou na explosividade de Tomás Rosati (voz, cavaquinho e percussão); a banda transita muito bem nas suas influências do samba, do metal, do hardcore, e consegue levar essa mistura sem parecer forçado.
Novos integrantes da El Efecto
E nesses 20 anos de estrada, além de Tomás e Bruno – únicos membros da formação original da banda -, a El Efecto soube angariar ótimos novos integrantes que só fizeram somar. É o caso de Ygor Helbourn (bateria) e de Vovô Bebê (baixo e voz), que acumulam grande experiência; o suficiente para entender e aplicar a boa técnica de uma “cozinha comportada”, deixando seus companheiros livres para brilharem.
Cristine Ariel (guitarra, cavaquinho e voz) e Aline Gonçalves (flautas, clarinete e voz) completam com maestria o time; a primeira, flutuando muito bem entre as diversas camadas sonoras que ela mesmo ajuda a criar na guitarra; enquanto a segunda, traz um sopro de leveza (com o perdão do trocadilho) ao som, sempre que necessário, e fortalecendo a experiência imersiva que o show da El Efecto proporciona. Esse time de músicos incríveis contou ainda com a participação da Trupe Lona Preta, que veio de São Paulo ajudar a contar em alguns minutos, a história incrível que essa banda nos conta há 20 anos.
Estreia da Maglore no Circo Voador
Com mais de dez anos de estrada, as noites de estreia começam a ficar mais raras. A Maglore teve a chance de experimentar esse frio na barriga, ao subir no palco do Circo Voador já na madrugada de sábado (09). Com um show consistente, e sem muita margem para erros, os soteropolitanos montaram um setlist que revisitou os quatro álbuns de estúdio de sua carreira.
E como a noite pedia por um reforço, Teago Oliveira (voz e guitarra); bem como Lelo Brandão (guitarra e synth); Felipe Dieder (bateria); e Lucas Gonçalves (baixo e voz); chamaram um naipe de metais diretamente do grupo paulista Bixiga 70. A escolha não foi à toa. Afinal, as duas bandas já tem uma estrada juntos. Além disso, a parceria deu uma lufada de cores novas, e contornos harmônicos ao som setentista que já é marca registrada da banda.
Carisma da banda
Para o público, aquecido pelo show anterior, nem mesmo a tempestade que caiu naquela madrugada no Rio de Janeiro esfriou o show da Maglore. Além do setlist muito bem escolhido – e igualmente executado -, o carisma de Teago diminuiu a distância público-artista, e fez com que os fãs entrassem em sintonia com a banda da primeira à última música. Mesmo quando fazem uma pausa para conversar com o público, afinar um instrumento, ou mesmo ao anunciar um single novo (“A Vida é Uma Aventura”, disponível nos serviços de streaming), tudo é feito de uma maneira tão natural, que você não vê o tempo passar.
Talvez o grande segredo do sucesso seja o fato de não haver um destaque individual na Maglore. Guitarra, baixo, bateria, voz – e mesmo os metais, convidados que caíram como uma luva na proposta -, tudo funciona como um grande organismo vivo e pulsante, que destaca e dá força às letras, histórias de situações tão familiares e cotidianas de grande parte dos jovens brasileiros. Os refrões são cantados com força e empenho de um público que sabe estar diante de uma banda que entregou tudo naquela noite.
Cena independente resiste
Nesta sexta-feira, no Circo Voador pudemos constatar um detalhe: se numa primeira vista, El Efecto e Maglore têm sonoridades que não conversam muito entre si, por outro lado há de se julgar o peso das duas na música independente. O show tão aguardado pelas duas bandas foi uma grande celebração de uma cena que luta constantemente para se manter viva, sem as benesses do mainstream.
Em um momento tão triste para a cultura nacional, é gratificante ver em pleno Circo Voador que Maglore e El Efecto, com 13 e 20 anos de estrada, respectivamente, ainda têm muito gás para fazer o que sabem – e o que gostamos tanto. Que sirvam de inspiração para novas gerações, e que possam voltar à principal Lona do Rio de Janeiro o quanto antes – mas em dias melhores.
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