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Ela Disse She Said crítica do filme 2022

‘Ela Disse’ inspira ao retratar escândalo de Hollywood

Kauan Oliveira

Estreia essa semana nos cinemas brasileiros o filme Ela Disse (She Said), com direção de Maria Schrader e roteiro de Rebecca Lenkiewicz, baseado na investigação de Jodi Kantor e Megan Twohey no New York Times. Com o intuito de encorajar e dar vozes às vítimas e às responsáveis pela investigação, a obra acerta em algumas escolhas, mas peca em outras.

Sobre o Filme

A biografia acompanha as jornalistas Jodi Kantor (Zoe Kazan) e Megan Twohey (Carey Mulligan) numa jornada investigativa em busca das vítimas do abusador e poderoso produtor hollywoodiano Harvey Weinstein. Porém, o que inicialmente parece uma pequena investigação, torna-se algo maior e ainda mais desafiador para a dupla. Ao passo que cada uma passa por questões familiares que lhe atravessam, mas que de alguma forma elas tentam distanciar do trabalho investigativo.

Nesse interim, novas vítimas vão surgindo, e novos desafios também. Além dos casos de abusos e estupros, é descoberto pouco a pouco uma rede de apoio para os abusadores, invisibilizando as vítimas e fortalecendo quem deveria ser condenado. Mas há uma força, sororidade e um sentimento de justiça por parte de Jodi e Megan. O que encoraja uma a uma as vítimas.

Montagem atrapalha

A narrativa tenta dar conta em alguns momentos do filme de dois períodos: os anos 90, onde ocorreram boa parte dos abusos e estupros, e dos anos 2010, onde ocorre a investigação. Com um foco nos anos 2010, muita coisa ocorre durante as investigações, e a linha narrativa do filme torna-se perdida em meio a isso. Há uma preocupação maior na história que se conta, que em como se conta.

Com isso, a montagem acaba se acelerando e não provocando os choques e emoções que tenta. O espectador não tem muito tempo para respirar ou para similar boa parte das investigações que estão acontecendo. Ao passo que muitas informações são jogadas também e pouco desenvolvidas.

Ao final do filme, fica a impressão que houve mais dedicação em criar uma tensão na cena em que finalmente publicam a matéria, que nas cenas em que somos apresentados às vítimas de Weinstein.

Entre a ficção e a realidade

Contudo, Ela Disse ganha na força das personagens. Sejam elas as da ficção – por mais que retratem personagens da vida real -, sejam elas da realidade. Aqui há uma aproximação do espectador às tensões e emoções que envolvem as personagens e, principalmente, as vítimas. É também através da força das personagens que se torna interessante os momentos investigativos da trama.

E nos momentos em que realidade se mistura à ficção, o filme torna-se impactante. É de se remexer das cadeiras quando se ouve ou se vê relatos reais do que aconteceu com as vítimas. Somos então aproximados ainda mais delas e, por fim, temos ainda mais empatia com elas e nojo dos abusadores. É aqui também que o roteiro aproveita para mostrar como esse caso tão marcante está presente nos mínimos detalhes do cotidiano.

Assim, Ela Disse traz luz a uma investigação tão importante na indústria cinematográfica e no mundo como um todo. Coloca em tela personagens potentes e mistura bem ficção e realidade, escancarando um problema estrutural em nossa sociedade. E deixa como mensagem que não dá para mudar o passado, mas é possível dar vozes e mudar o futuro.