Elas Cantam Elas

Elas Cantam Elas | Arte e luta contra o preconceito

Monique Ferreira

Elas Cantam Elas é um projeto musical performático que tem a intensão de mostrar a força e a identidade femininas, através da música composta e interpretada por mulheres que se destacaram, em diferentes épocas e estilos, nos meios musical e social. A estreia do grupo aconteceu em 2018 em Campos dos Goytacazes, cidade natal do projeto. Desde então, eles já tiveram cinco diferentes formações e deram voz a mais de dez mulheres.

Além da proposta de trazer novas vozes femininas para interpretar canções de grandes intérpretes e compositoras, o projeto Elas Cantam Elas também se posiciona em relação aos direitos das mulheres e na luta contra o preconceito, em prol de uma sociedade igualitária.

Para conversar sobre a presença feminina e LGBTQIA+ na música, convidamos Gleice Merlin, idealizadora do projeto Elas Cantam Elas.

Confira!

Como surgiu a inspiração para criar um projeto tão potente?

Gleice: Eu estava cansada de viver e assistir a toda violência contra nós – mulheres, LGBTQIA+, negros e pessoas em situações desfavorecidas. Estava em casa com um amigo, o Johnny Punk (musicista do projeto), assistindo ao jornal da tarde, e me veio o insight de que precisava fazer algo para alertar essas pessoas e ajudar de alguma forma.

E de qual maneira que eu poderia fazer isso? Percebi que através da música seria mais fácil para as pessoas assimilarem as informações. Então, conversei com Johnny para que me ajudasse a formar o projeto Elas Cantam Elas, que eu queria que fosse composto por vozes femininas que interpretassem músicas de outras mulheres com tom de empoderamento. Assim, começamos a convidar as vozes, que a princípio foram Tamires Freitas, Gabi Cândido, Bec Flor e Maria Eduarda Merlin. E assim surgiu o projeto Elas Cantam Elas!

Vocês utilizam a visibilidade para propor debates sobre os temas pertinentes ao universo feminino e LGBTQIA+. Qual é a importância desses debates na formação cultural do público?

Eu considero essencial. Precisamos levar ao público conhecimento sobre o assunto e fazer com que as pessoas reflitam, percebam a situação em que estão. E assim, serem ajudadas. Tanto que dentro do projeto temos gays, lésbicas, bissexuais, héteros e homens cis.

Como você promove esses debates?

Fazemos alguns bate-papos com pessoas que fazem parte desse meio, para que assim possamos ajudar a esclarecer dúvidas. Dessa forma, a intenção é abrir os olhos não só de mulheres, mas também de pessoas com posturas machistas e homofóbicas, e mostrar a eles que não estamos só e que temos meios de  puni-los e nos defender  desses que se acham os maiorais.

Esse posicionamento também acontece no palco?

Sim! Por exemplo, temos músicas no nosso repertório que informam números de telefones e formas para que possamos nos ajudar e ajudar também a outras pessoas. Assim como existem músicas que mostram a realidade em que ainda estamos vivendo, que a cada dia o número de vítimas só aumenta, seja por medo ou falta de informação. A ideia não é só pregar o feminismo, mas também a igualdade, a equidade, e, principalmente, o respeito.

Elas Cantam Elas (Divulgação Facebook)

A inclusão trans é um tema muito relevante e debatido no meio musical, até dentro do próprio movimento feminista. Você sentiu algum impacto em trazer vozes e compositoras trans e drags para o projeto?

Senti sim, quando a Leona (Léo Ravara, artista drag performático) entrou para o projeto, percebíamos que algumas pessoas olhavam torto para nós. Inclusive, tenho um relato de algo que aconteceu em uma das apresentações que fizemos em um hotel, em uma convenção que tinha o nome de “Por elas”. Na hora do show, acabou a energia elétrica e então resolvemos começar assim mesmo, cantando à capela.

A música em questão era “Triste, Louca ou Má” (Francisco El  Hombre) e a voz principal dessa música era de Leona. Antes mesmo de terminar a música, a energia voltou e quando as pessoas se depararam com a Leona cantando, algumas vibraram e outros fecharam a cara. Isso foi bem doloroso e ao mesmo tempo revoltante, ver algumas pessoas ainda agem com homofobia e machismo em pleno século 21. Mas isso também nos incentiva a continuar a mostrar nossa força e a nossa luta. Não nos calaremos jamais!

Esse tipo de situação se agrava também porque, no interior, os preconceitos são mais aflorados que nas grandes capitais. Como vocês reagem a isso?

Sim, as pessoas ainda tem a mente muito fechada para esses assuntos. Agimos de forma a fazer com que as pessoas possam entender que a nossa relação se baseia em amor e caridade. E respeito, acima de qualquer coisa. Passamos por situações envolvendo falta de respeito, sim, mas conseguimos nos sair bem, sem agressão ou afronta. Procuramos usar palavras empoderadas e música, mostrando que nada, nem ninguém, vai nos fazer calar e muito menos parar de lutar. Por tudo isso, respeitamos e exigimos respeito!

Quais são os três artistas da cena nacional que você convidaria para um karaokê?

Essa realmente é a resposta mais difícil que eu tenho que dar! Na minha admiração cabem bem mais artistas, mas vamos lá: Rita Lee, Liniker e Pitty.

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Monique Ferreira

Monique Ferreira é produtora artística, de eventos e audiovisual. É CEO da agência Na Beira do Palco, que realiza eventos no mercado independente do Rio de Janeiro e atua com lançamentos e produção artística de bandas e músicos. Se dedica à produção de conteúdo web sobre music business para artistas independentes.
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