‘Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime’ humaniza a protagonista
Jorge Feitosa
Dentre todos os crimes sob circunstâncias macabras cobertos pela imprensa nos últimos anos, poucos repercutiram tanto quanto o caso Elize Matsunaga. A saber, ela matou seu marido, Marcos Matsunaga, no apartamento do casal, seguido pelo esquartejamento do corpo para transportar o cadáver em malas de viagem e espalhar os restos mortais em uma floresta.
Afinal, como não se horrorizar com a garota de programa que foi tirada de uma vida de prostituição para viver no luxo e conforto à custa do herdeiro de uma das maiores empresas do ramo alimentício do país, pra depois matá-lo e ainda cortar seu corpo em pedaços?
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Elize Matsunaga: Era uma Vez Um Crime
O documentário em cartaz na Netflix, dirigido por Eliza Capai, tenta esmiuçar o ocorrido através de testemunhas que conviveram com o casal, dos profissionais envolvidos no caso e da própria assassina, durante uma saída temporária da prisão.
Iniciando de forma comedida, a documentarista consegue levantar questões relevantes sobre a mulher de voz pequena e ar frágil, em descompasso com a brutalidade do crime e a desfaçatez de interagir com a família do marido após o fato. Assim como a difícil convivência do casal pelas constantes traições do marido, assim como seu sentimento de posse sobre a esposa.
Origem difícil
Vinda de Chopinzinho, interior do Paraná, Elize Matsunaga teve uma vida difícil antes e depois do casamento, inobstante as fotos felizes de viagens, bem como o apoio ao marido em tudo o que ele fazia. Inclusive manter uma quantidade absurda de armas em casa.
E, certamente, muitos poderão ver essa série documental como uma tentativa diminuir a responsabilidade de Elize, já que Marcos não está vivo pra falar por si. Mas o que se faz é analisar ponto por ponto as circunstâncias que levaram ao ocorrido, inclusive as habilidades adquiridas que serviram pra tentativa frustrada de se livrar do corpo. E até mesmo uma tese estapafúrdia de um terceiro envolvido que a diretora insiste em manter como um mistério no ar.
Acusação e defesa
Já o trabalho de Elize como acompanhante foi um caso a parte. Embora isso lhe garantisse alimentação, moradia e até mesmo frequência em um curso universitário, ela teve grande repercussão. Em outras palavras, foi um prato cheio para acusação e a imprensa caírem matando daquela forma preconceituosa e machista da qual os trabalhadores sexuais sempre foram alvo.
Mas o trabalho obstinado da defesa ainda conseguiu rebater a acusação de maneira brilhante. Influenciando, assim, os jurados e diminuindo a pena, que ainda foi estabelecida até o máximo que se poderia pelo juiz da causa.
Por fim, Elize: Era Uma Vez Um Crime consegue humanizar a protagonista (que não se exime de sua responsabilidade). Além disso, ele levanta um importante debate sobre um relacionamento tóxico que foi levado até as últimas consequências, as quais poderiam ter sido evitadas.
Trailer – Elize Matsunaga: Era uma Vez Um Crime
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Ficha técnica
Título original: Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime
Direção: Eliza Capai
Elenco: Elize Matsunaga, José Carlos Cosenzo, Luiz Flávio D’Urso, Mauro Dias, Osvaldo Luiz Figueira, Lucas Martins, Thaís Nunes, Juliana Santoro, Gilli Messer, Stephanie Sherry
Temporada: 1
Episódios: 4
Data de estreia: qui, 0807/21
Onde assistir: Netflix
País: Brasil
Gênero: documentário, drama, crime, policial
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos