ENTREVISTA | Casuarina mais forte e vivo, grupo fala sobre mudanças, influências e processo do novo disco ‘+ 100’
Giovanna Landucci
Com sonoridade impecável, muito “ziriguidum”, leveza e alto astral, o aclamado grupo de samba de origem carioca, Casuarina, subiu ao palco da Casa Natura Musical, no bairro de Pinheiros – SP, no último final de semana. Os talentosos sambistas apresentaram seu mais recente trabalho, intitulado “+100”. Este foi o segundo show do álbum em São Paulo, o primeiro foi no dia do lançamento do disco (25/05), no SESC Pinheiros.
“+100” contém músicas que resgatam a velha guarda do samba, aquele samba de raiz africana, do gueto e que demonstrava luta e resistência. Um repertório que passeia pelo universo do amor, da crença aos Orixás e dos quilombolas. Um álbum rico e diversificado, que nos faz lembrar a beleza de outrora. Com batuque acelerado, traz o ritmo do coração e embala uma nova geração.
O grupo tem 17 anos de formação e já conta com sete álbuns lançados, são cinco discos de estúdio, dois CDs e DVDs ao vivo e merecidos prêmios na bagagem. O time composto por Rafael Freire, João Fernando, Gabriel Azevedo e Daniel Montes comandou a festa na Casa Natura. Com um repertório pra lá de avassalador, os músicos passearam por sucessos consagrados de outras épocas e também pelas inéditas.
Em entrevista ao BLAH CULTURAL, eles contaram um pouco de suas trajetórias, influências e processo de composição do novo disco.
Confere aí:
Em um contexto social onde imperam músicas de pop, funk, sertanejo universitário e pagode, como se colocar abrindo espaço ao samba de raiz que é mais clássico e tradicional?
— Se tratando de música brasileira, mesmo essas tendências mais modernas da música popular brasileira, eu acho que mesmo assim o samba, e principalmente o samba que a gente faz, continua sendo a matriz da música brasileira. O samba tem uma importância muito grande pra gente, pois foi aonde tudo começou. Onde a música popular brasileira nasceu, onde começou a entrar nas rádios, nas casas das pessoas. Desde o início da nossa carreira, a gente procura não forçar muito a barra pra tentar entrar no mercadão de música (como as referências citadas) e por isso tem que soar naturalmente. Somos sempre muito bem recebidos, quando fazemos shows e quando encontramos artistas de outros gêneros, bem colocados por você, há uma troca, sempre muito positiva. Para ambos os lados. E não há necessidade de aplicar muito esforço para buscar nosso espaço. Pois o espaço do samba está ali e a gente navega um pouco nessa maré.
É bom frisar que nos momentos em que o samba tem esses picos e vales de popularidade, outros gêneros ficam mais na moda e o samba um pouco mais na retaguarda. Mas como é um gênero de resistência, sempre vai ter uma galera fazendo samba. Por mais que não esteja exposta na grande mídia, tá ali. E é uma resistência que rola, que faz parte do gênero mesmo.
Falando em repercussão de maneira natural, vocês sentem que o samba é alvo de um público seleto e menos popular? Se sim, existe uma estratégia do grupo ou da assessoria para divulgação e repercussão dos álbuns, ou isso ocorre dessa maneira natural?
— Pela experiência que a gente tem, é lógico que pelo fato da nossa música não ser uma música considerada “mainstreaming”, uma música que está na televisão todo dia, como esses gêneros mais populares, talvez a gente não consiga atingir tanta gente como esses outros gêneros. Mas somos recebidos sempre com muito carinho pelo público e pelas pessoas que curtem o nosso trabalho. Essa diferenciação social não existe, eu não acho que a música que a gente faz seja mais elitizada. Mas acho que por hoje não ser o tipo de música abraçada pelo mercado, as pessoas tendem a conhecer menos.
Com a saída do João Cavalcanti ano passado, vocês repensaram algo na carreira? E sobre o novo disco, alteraram algo no estilo de repertório que vinham trabalhando?
— Se você pegar nossa discografia, são discos muito diferentes entre si, então a gente tem liberdade pra fazer o disco que a gente quiser. Com esse disco a gente resolveu voltar ao samba mais tradicional, tínhamos acabado de comemorar o centenário do samba, fazendo shows, voltando e cantando os sambas. Aí a gente teve a ideia de nesse próximo disco, que é o ‘+100’, apontar para frente, para os próximos 100 anos. E aconteceu um movimento muito bacana, chamamos compositores que estão fazendo a sua história agora e que estão apostando nesse segundo centenário.
Como foi a escolha do repertório e os autores de cada música, qual foi a inspiração?
— A gente recebeu muita música, algumas excelentes acabaram não ficando pra seleção final, mas a gente tem que fechar um repertório. Íamos debatendo sobre o lado legal de explorar, o tipo de samba que a gente queria, assim a gente foi indo e conseguimos chegar nas treze músicas (ué, mas não são 12?). João queria muito que uma entrasse no repertório e essa acabou ficando na cabeça dele.
Como foi o processo de gravação do novo disco?
— Foi feito em estúdio, na Biscoito Fino, a gravadora que nós idealizamos nossos dois primeiros álbuns e “O bom filho a casa torna”. Como já é o nosso oitavo disco, conhecemos como cada um funciona bem no estúdio, assim conseguimos abraçar todo o processo de “feitura” de arranjos e escolha das instrumentações de maneira bem natural.
E por que São Paulo para o lançamento do disco?
— Estamos sempre por aqui, há um público muito quente que recebe o nosso trabalho de maneira muito positiva. Por sermos um grupo do Rio, é muito bom fazer um lançamento de um trabalho em São Paulo. Ainda mais em uma Casa como a Natura Musical, que é uma super casa. A previsão de lançar o álbum no Rio de Janeiro fica para Agosto.
A equipe do BLAH CULTURAL deixa aqui o agradecimento a toda equipe Casuarina. Que venham +100, +1000 e infinitos anos para a música brasileira, especialmente o samba, esse feito com alma, amor e verdade!
FAIXAS DO DISCO ‘+100’:
- Trago no meu pandeiro
Intérprete: Casuarina
Autoria: Rogê / Marcelinho Moreira / Fadico
Editora: Muito Amor e Música (Sony/Atv) / Sony/ATV/ Direto
- Tempo bom na maré
Intérprete: Casuarina e Martinho da Vila
Autoria: Roque Ferreira / Ivor Lancellotti
Editora: Universal MGB
- Eta le lê
Intérprete: Casuarina
Autoria: Claudemir / Serginho Meriti
Editora: Universal MGB / Direto
- Recordação
Intérprete: Casuarina
Autoria: Raul DiCaprio / André da Mata
Editora: Direto / Direto
- Embira
Intérprete: Casuarina e Geraldo Azevedo
Autoria: Raul DiCaprio / Cadé
Editora: Direto / Direto
- Um samba de saudade
Intérprete: Casuarina
Autoria: Chico Alves / Toninho Geraes
Editora: Direto / Sony/Atv
- Falangeiro de ogum
Intérprete: Casuarina
Autoria: Raul DiCaprio / Leandro Fregonesi
Editora: Direto / FRG CULTURAL (Som Livre Edições Musicais)
- Herança de partideiro
Intérprete: Casuarina e Leci Brandão
Autoria: Hamilton Fofão / Ivani Ramos
Editora: Cedro Rosa
- Vovó desata esse nó
Intérprete: Casuarina
Autoria: Pedrinho da Porteira / Mafram do Maracanã
Editora: Direto / Direto
- Marejando
Intérprete: Casuarina
Autoria: Claudemir/ Rafael Delgado /Marcio Alexandre / Mário Cleide / Samuel Permino
Editora: Universal MGB / Show e Cia / Som Livre Edições Musicais / Direto
- Olhos da lembrança
Intérprete: Casuarina
Autoria: Alaan Monteiro / Wanderley Monteiro
Editora: Direto / Direto
- Quero mais um samba
Intérprete: Casuarina e Criolo
Autoria: Raul Sampaio / Rogério Bicudo
Editora: Euterpe / Direto