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ENTREVISTA | Ferzan Özpetek, diretor de ‘O Segredo de Nápoles’

Giovanna Landucci

Nascido na Turquia, em Istambul em 1959, o cineasta Ferzan Özpetek é hoje cidadão italiano. Ele se mudou para a Itália em 1976, onde, com 17 anos, estudou História da Arte, História do Cinema e direção teatral. Antes de trabalhar no ramo cinematográfico, trabalhou no Living Theatre. Em 1982, foi assistente de direção em filmes de Massimo Troisi, Ricky Tognazzi e Marco Risi. Foi diretor estreante com o longa-metragem “Hamam – O Banho Turco” (1997) e, logo após, dirigiu “Uma Noite no Harém” (1999), “Um Amor Quase Perfeito” (2001), “A Janela da Frente” (exibido na 27ª Mostra, em 2003), “Cuore Sacro” (2005, 29ª Mostra), “Um Dia Perfeito” (2008) e “O Primeiro que Disse” (2010). Na 42ª Internacional de Cinema de São Paulo, além de estrear seu filme “O Segredo de Napoles”, também foi integrante do júri.

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Em entrevista realizada durante o evento, Özpetek inicia a conversa contando um pouco de sua trajetória e algumas curiosidades. Confira:

BLAH CULTURAL: O que o instigou a fazer cinema e escolher essa carreira? Além disso, o que o inspira em outros filmes e outros diretores?

Ferzan Özpetek: A partir dos sete anos de idade, quando assisti ao primeiro filme, “Cleópatra”, com Elizabeth Taylor, pela primeira vez. Logo percebi que amava cinema. Aos 17 anos, já na Itália, comecei a estudar cinema, fiz universidade, trabalhei como assistente de diretor. Vitorio de Sica é um dos diretores que eu mais admiro pela direção de ator que ele faz. Muitos cineastas diferentes me inspiram, não tem um só, na verdade é um conjunto de diretores que admiro que me motivam e inspiram. Fui diretor de óperas como “La Traviata” e escrevi dois livros considerados best-sellers na Itália e na Turquia. Algo que me inspira são as cidades que visito.

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BC: A partir desse argumento sobre as cidades que visita inspirarem seus trabalhos, por que exatamente Nápoles como local de seu mais novo filme (O Segredo de Nápoles)?

Nápoles foi a cidade que visitei quando fazia “La Traviata”, e eu vi essa cidade com outros olhos. Diferente do que aparece em “Gomorra” (2008) e outros filmes, quis dividir com o público essa Nápoles que vi agora, minha visão da cidade.

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Sobre a história do filme, os argumentos, o que inspirou a escrevê-los?

A história de uma mulher com uma mente perturbada, mas que não tem muitos argumentos, todos os elementos pertencem a uma mesma personagem e ela percorrendo a cidade e descobrindo sobre si mesma. Há 12 anos eu estava em Istambul e começo a conversar com uma mulher. Ela me remeteu muita empatia e disse: eu preciso ir! Quando perguntei o motivo, ela me disse que era médica legista. A partir daí comecei a elaborar a trama. Se ela amanhã de manhã em seu trabalho encontrasse meu corpo, o que ela iria pensar? Depois que fui embora, passou uns seis anos fui fazer “La Traviata” em Nápoles, e recebi um convite para jantar na casa de algumas pessoas que conheci. A casa onde fui jantar era a mesma casa que Joana tinha no filme. A partir da amizade com a dona da casa, Nápoles mudou para mim. Vi a cidade de uma maneira diferente em minha imaginação. Eu vejo Caravaggio e outras coisas nessa casa que parece a da tia da personagem do filme. E Nápoles é isso: arte! Na mente das pessoas, muita cultura. E me deu vontade de dividir essa forma de ver a cidade através do filme.

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Do Brasil, o que você conhece de Cinema e Arte?

Conheço Walter salles, e agora você me fez lembrar de algo, e isso é muito estranho. Estou lembrando que, quando eu era muito muito pequeno, vi um filme, mas não me lembro o nome. Passava-se no Rio de Janeiro e uma menina pequena era a protagonista. Isso há mais de cinquenta anos. Carmem Miranda e Sonia Braga são duas figuras brasileiras que eu conheço. Sonia Braga e eu formamos júri na Espanha em um Festival juntos há anos atrás.

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Em termos de fotografia, qual foi sua inspiração?

Para mim, a fotografia de um filme é muito importante porque ajuda a contar a história. E, sim, você tem razão: as cores usadas foram inspiradas nos sentimentos da personagem. Na manhã seguinte à noite de amor, a luz é mais clara e dá uma ambientação de felicidade e, enquanto ela está em seus dramas, tem a variação de cor, luz e sombra.

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Queria saber se entendi bem o que você quis transmitir com o filme. Para mim, é um filme circular, que começa em um ponto e termina no mesmo ponto de origem, para fazermos a volta na vida e nos sentimentos da personagem. Foi realmente isso que você quis retratar?

Sim, é exatamente isso, absolutamente. Se você prestar atenção, tem muitos elementos circulares. A escadaria filmada no começo do filme, a forma como ela aparece, como a câmera percorre a escadaria em formato circular… Em espiral, seria a simbologia de um olho, ou de um útero. São as duas coisas que quis representar. Um é o olhar, o outro a vida, o dom da vida, mas que não estão só nos elementos do começo e do final do filme, estão presentes em diversas simbologias espalhadas ao longo da trama.

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
NAN