‘Escola de Solteiras’ (Netflix) | CRÍTICA
Jorge Feitosa
Escola de desencalhe.
Há não muito tempo atrás, vivemos uma era de ouro da autoajuda, com o lançamento massivo de conteúdo motivacional em todos os formatos para que as pessoas pudessem lidar com seus problemas. Quase sempre com frases feitas, livros como O Segredo, O Monge e o Executivo e Quem roubou meu Queijo? abriram espaço para que alguns desses profissionais da autoajuda explorassem o nicho de mercado daqueles que demandam um apoio mais específico para se vestir, trabalhar, praticar esportes e até mesmo nos relacionamentos pessoais.
Leia mais:
– ‘SOMBRA LUNAR’ (NETFLIX) | CRÍTICA
– BETWEEN TWO FERNS: O FILME (NETFLIX) | CRÍTICA
– ‘CRUSH À ALTURA’ (NETFLIX) | CRÍTICA
Enfim, Escola de Solteiras (Solteras), filme de Luis Javier Hernaine, vem tirar proveito desse filão do coaching pra mostrar que sempre dá pra arrancar alguma cosita a más.
A trama
Na trama, Ana (Cassandra Ciangherotti) é abandonada pelo namorado justamente porque quer se casar. Desiludida e depois daquele vexame básico pra mostrar que chegou ao fundo do poço, resolve entrar pra escola do título e com uma classe formada pelos estereótipos mais básicos do gênero feminino, da periguete àquela confusa com sua própria sexualidade.
Mas no que poderia ser mais uma comédia romântica onde a protagonista encontra seu grande amor, o roteiro escrito pelo diretor e Alejandra Olivera Avila nos traz uma evolução de personagem muito bem amarrada com o teor leve da obra. Com todo o enfoque em Ana e sem didatismo nos diálogos, a história anda muito bem para mostrar que, apesar do desejo justificado de juntar sua escova com a de outro alguém, o que a move na maioria das vezes é um grande egoísmo para se igualar aos parentes casados ou às colegas de classe que conseguiram seu intento.
Além disso, os enquadramentos de câmera junto à fotografia, o design de produção e a decoração de set fazem um ótimo trabalho, nos mostrando o contraste entre o ambiente limpinho da escola de solteiras, com predominância do branco, bem como o apartamento da protagonista, escuro e em um fundo verde que denota um certo desvio de personalidade.
Tirando leite de pedra
Já Cassandra Ciangherotti consegue carregar bem o filme nas costas, dando a sua Ana aquele misto de desleixo e desespero de quem, mesmo sabendo que precisa mudar de atitude, literalmente sente náuseas por tentar agradar aos outros.
Muito justo, já que até que dá pra ensinar uns macetes pra arranjar um marido, mas não como mantê-lo. Nesse ponto, Escola de Solteiras consegue tirar leite de pedra pra contar uma boa história, mas se autoajuda e coaching resolvessem tudo não haveria mercado para terapeutas.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Solteras
Direção: Luis Javier M. Henaine
Roteiro: Luis Javier M. Henaine, Alejandra Olivera Avila
Elenco: Cassandra Ciangherotti, Irán Castillo, Sophie Alexander-Katz
Distribuição: Netflix
País: México
Gênero: comédia, romance
Ano de produção: 2019
Duração: 97 minutos
Classificação: 14 anos