Especial Quentin Tarantino | O quarto filme: ‘Kill Bill’
Pedro Marco
“O quarto filme de Quentin Tarantino”
Estas palavras proferidas no pôster e até mesmo nos créditos iniciais do filme mostravam duas coisas. Primeiro: que apenas “Cães de Aluguel”, “Pulp Fiction” e “Jackie Brown” faziam parte de sua filmografia considerada. E segundo que, por algum motivo, descobriríamos anos mais tarde, ele estava contando.
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Ideia era fazer apenas um filme
A saber, Kill Bill (inicialmente idealizado como um filme único, mas dividido em 2 partes por conta de sua longa duração) é mais um resultado das parcerias e amizades feitas por Tarantino em seus próprios filmes anteriores. Neste caso, a ideia partiu de diálogos entre Quentin e Uma Thurman, durante as gravações de “Pulp Fiction”. Neste período, criaram uma personagem assassina vingativa, chamada de “A Noiva”. Na década seguinte, no ano de 2000, Tarantino não apenas idealizaria o filme como daria o protagonismo dele para Thurman em seu aniversário de 30 anos.
O fervor de escrever Kill Bill foi tão grande que fez Tarantino engavetar temporariamente o projeto “Bastardos Inglórios”. O longa só voltaria a ver a luz do sol quase dez anos depois. Sua ideia era um grande amalgama de influências que havia adquirido durante os 6 anos na locadora de vídeo e nestes 12 anos como diretor profissional. Traços de Western Spaghetti, Kung Fu, bem como filmes de samurai e animes eram englobados neste grande caldeirão cultural disfarçado em uma história de vingança.
Lucro e polêmicas
Na trama, dividida em 10 capítulos, acompanhamos uma confusa e embaralhada história de uma mulher que, ao ser baleada no dia de seu casamento, busca encontrar e assassinar cada um dos cinco culpados. Em um crescente exponencial acachapante, o que parecia ser um simples filme de ação com protagonismo feminino, evolui para um faroeste oriental, com treinamentos de artes marciais mistas, bem como lutas de espada e uma busca cega por uma filha perdida.
As gravações foram adiadas por conta de uma gravidez de Uma Thurman. Então, a primeira parte do filme veio a sair apenas em outubro de 2003. A saber, o longa teve orçamento de US$ 30 milhões e retorno de seis vezes o valor investido. Tendo o mesmo custo, a segunda parte, enfim, teria sua estreia em abril de 2004. O Volume 2 renderia inferiores US$ 152 milhões, mas se sairia bastante superior na crítica especializada (69% e 83% no Metacritic). Durante as filmagens da sequência, Uma Thurman sofreu um acidente de carro nas gravações que foi abafado por anos pelos produtores. Entretanto, o fato foi assumido por ela e Tarantino em 2018, junto de acusações de abusos vindo de Harvey Weinstein.
Referências
Assim que o filme entrou em cartaz, inspirados pelas influências encontradas nos longas anteriores, os fãs passaram a buscar as grandes fontes inspiradoras de Tarantino em sua mais recente produção. Os atores Sonny Chiba (Hattori Hanzo), da China, e Gordon Liu (Pai Mei), do Japão, foram convidados por sua grande experiência nas artes marciais orientais. Por outro lado, David Carradine representava os Estados Unidos. Se vivo, Tarantino certamente teria chamado o ator Bruce Lee para o longa. Apesar disso, ficaram ao menos duas grandes homenagens a ele. Primeiro, o figurino de Beatriz (Uma Thurman), inspirado na roupa de Lee em “O Jogo da Morte”. Além disso, as máscaras dos Crazy 88 foram usadas pelo lutador na série “Besouro Verde”.
O Volume 1 segue grande influência de “Lady Snowblood” (Toshiya Fujita, 1973). No longa, uma mulher busca vingança contra aqueles que assassinaram sua família. A inspiração, além do enredo, engloba a personagem O-ren Ishii (Lucy Liu) e a luta das duas na neve. Já o Volume 2 se inspira mais em “A Noiva Estava de Preto” (Truffaut, 1968). Neste, uma jovem torna-se viúva no dia do casamento e segue uma jornada para matar os assassinos com métodos diferentes. Para a personagem Elle Drive (Daryl Hannah), houve forte inspiração de “They Call Her One Eye” (Wikstrom, 1973), um clássico thrash sueco. Por fim, inspirações adversas e creditadas como Sergio Leone, Sergio Corbucci, Lee Van Cleef, Kinji Fukasaku, assim como ao mangá “Lobo Solitário”, compõem este amalgama cultural do longa.
::: TRAILER
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Kill Bill – Volume 1 (2003)
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Kill Bill – Volume 2 (2004)