Especial Quentin Tarantino | Os roteiros perdidos
Wilson Spiler
Antes de iniciar sua carreira como o grande diretor hollywoodiano, Quentin Tarantino já fazia aquilo que marcaria sua carreira para sempre: roteiros. Escrevendo uma adaptação para uma história de seu grande amigo Roger Avary (que seria mais tarde corroteirista de “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”), o diretor conseguiu montar dois roteiros de filmes diferentes e vendê-los, gerando assim o caixa inicial de suas primeiras produções.
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Amor à Queima-Roupa
A primeira parte dessa história viria a ser chamada “Amor à Queima-Roupa” (True Romance, 1993) e seria entregue para o jovem Tony Scott. O cineasta, que havia alçado o estrelato com o clássico “Top Gun” (1986), daria uma roupagem completamente nova ao roteiro. Entretanto, ele não tiraria a essência que Tarantino mostrou ter desde sua primeira escrita. Diálogos marcantes, referências ao cinema clássico e à cultura pop, personagens secundários cativantes e muito, muito sangue.
A saber, a trama segue Clarence (Christian Slater), um nerd aficionado por Elvis, quadrinhos e filmes de Kung Fu do Sonny Chiba (que uma década depois viveria Hatori Hanzo em “Kill Bill”). Ele se apaixona por Alabama (Patricia Arquette), uma garota de programa contratada por seu chefe. O casal foge, se casa e acaba se deparando com uma mala de cocaína, bem como toda uma gama de desventuras e perseguições para sair desta vida do submundo.
Prejuízo sim, mas cult também
Com uma trilha do gênio Hans Zimmer e elenco bastante estrelado com nomes como Val Kilmer, Brad Pitt, Gary Oldman, Christopher Walken – e como a grande maioria dos filmes de Tarantino – Sammuel L. Jackson, o filme acabou causando prejuízo para a Warner Bros Pictures. Orçado em US$ 12,5 milhões, “Amor à Queima-Roupa” arrecadou US$ 12,3 milhões no mundo. O grande motim de seu lucro foi gerado no mercado de home video.
O filme segue bastante desconhecido do grande público, sendo categorizado como um clássico cult. Mas possui momentos grandiosos, como, por exemplo, a eleita segunda melhor linha de diálogo de Tarantino (perdendo apenas para a abertura de “Bastardos Inglórios”); cenas com falas improvisadas de Brad Pitt; assim como uma série de bizarrices no set envolvendo tapas na cara e uma cueca que passou dias sem ser lavada. Entretanto, uma das maiores marcas da adaptação de Scott se deu por uma completa mudança no final escrito originalmente por Tarantino, apesar do original ter sido gravado e conter nos extras do DVD.
Assassinos por Natureza
No ano seguinte, era hora de Oliver Stone adaptar a segunda parte do primeiro roteiro de Tarantino. O diretor vinha de clássicos como “Platoon”, “Wall Street” e “The Doors”. Contudo, em meio a tantas adaptações e alterações na obra, não mais seria uma continuação da história de Clarence e Alabama, mas sim algo completamente novo e diferente.
A trama de “Assassinos por Natureza” (Natural Born Killers, 1994) segue Mickey (Woody Harrelson) e Mallory (Julliette Lewis). O casal está em uma jornada de amor e morte, onde exterminam cerca de 50 pessoas em 3 semanas. Eles ganham grande notoriedade popular por sempre deixarem uma vítima viva para contar a história. Assim, viram atração nacional em artimanhas do jornalista Wayne Gale (interpretado por um jovem Robert Downey Jr.).
Filme banido e alterações desaprovadas
Custando US$ 34 milhões, o filme alcançou US$ 50 milhões nas bilheterias. Mas, para tal, teve de passar por uma edição de 11 meses, onde 150 cenas foram refeitas ou adaptadas para abaixar a censura. Ainda assim, as acusações de glamourização dos crimes acabaram banindo o filme em alguns países e gerando ataques políticos e casos policiais.
Em uma estética bastante psicodélica, o filme traz referências a clássicos de Stanley Kubrick. O longa conta até com um nariz sendo quebrado de verdade em uma de suas cenas. Apesar de uma boa recepção do público, Tarantino desaprovou as alterações feitar por Stone. O diretor, inclusive, lançou seu roteiro original em forma de livro anos mais tarde. Enfim, Tarantino só viria a escrever um filme sem atuar em sua parceria com Robert Rodriguez. Isto, todavia, fica pra mais tarde. Aqui, no especial sobre o cineasta para a estreia de “Era Uma Vez em… Hollywood”.