Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça é um jogo que não consegue dizer a que veio
Felipe de Andrade
Após uma recepção duvidosa da comunidade gamer – e de fãs da equipe de vilões, sobre um vídeo de gameplay revelado no início do ano passado, o jogo foi adiado por quase 9 meses. Ao que deu a entender pelo estúdio, o atraso ocorreu para que houvesse mais tempo de trabalho com a intenção de que o jogo proporcionasse a melhor experiência e qualidade para o público.
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Finalmente o dia do lançamento chegou. Em 2 de fevereiro, a Rocksteady – mesmo estúdio responsável pela quase sagrada trilogia Batman Arkham, lança Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça (Suicide Squad: Kill the Justice League). Além disso, o game de ação e tiro em terceira pessoa chega apenas para a nova geração.
Looter shooter
Nesta nova investida o estúdio sai totalmente da sua zona de conforto de jogos single player offline contidos, para lançar um looter shooter de ação em mundo aberto em terceira pessoa, que pode ser jogado por até 4 jogadores por meio do cooperativo online. Inclusive o jogo receberá conteúdos novos e gratuitos por meio de temporadas ao longo do ano e que visam expandir a experiência com novos personagens (o primeiro confirmado é uma versão alternativa do Coringa).
Infelizmente o título já queimou a largada e logo nos primeiros dias de acesso antecipado para quem comprou a versão deluxe. Na Internet surgiram vários relatos de bugs severos que podiam deixar o jogo injogável. Além disso, houve relatos de servidores que foram desligados ao menos duas vezes por problemas técnicos que assolaram o multiplayer online nesses primeiros dias.
Início confuso
A campanha começa bem confusa e parece que estamos jogando uma sequência, ao invés de um primeiro jogo da equipe, pois já inicia com Brainiac tendo dominado Metrópolis desde o primeiro minuto de jogo sem mais explicações. E apesar de parecer não fazer muito sentido, a história do Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça acontece no mesmo universo da trilogia dos jogos do Batman desenvolvidos pelo estúdio, se passando 5 anos após os eventos de Arkham Knight.
Dessa vez, ao invés de assumir o manto do Cavaleiro das Trevas ou qualquer outro herói da DC Comics, tomamos o controle da Força Tarefa X. Formada por Amanda Waller, a equipe é composta por: Pistoleiro, Arlequina, Capitão Boomerangue e Tubarão-Rei, que se veem obrigados a se unirem para encarar a missão de derrotar os maiores super-heróis da DC, a Liga da Justiça, que foi corrompida por Brainiac.
Habilidades e características
Todos os personagens possuem habilidades e características únicas, além de estilos próprios que prometem garantir algumas diferenças de jogabilidade para cada um:
- Arlequina, a Princesa Palhaça do Crime. Com a garra mecânica e o bat-drone que roubou dos equipamentos do Morcego, ela consegue fazer diversas acrobacias a qualquer momento enquanto atravessa os cenários. Utiliza tacos de beisebol ou martelos gigantes para combate corpo a corpo e armas de fogo variadas para causar dano à distância;
- Pistoleiro é perito em combate à distância, além de um atirador com fama mundial. Ele consegue pairar no ar com seu jetpack e ter visão privilegiada do campo de batalha, ganhando vantagem aérea para acertar seus alvos seja com tiros ou granadas. Faz uso de seus canhões de pulso para atingir inimigos próximos com combos improváveis;
- Capitão Bumerangue roubou uma manopla de força de aceleração que consegue simular temporariamente os poderes do Flash. Assim ele consegue se “teletransportar” pelo cenário correndo em alta velocidade. Faz uso de um bumerangue com maestria e não faz feio atirando com escopetas ou rifles;
- Tubarão-Rei é o personagem mais forte da equipe que utilizar saltos gigantes para se locomover verticalmente pelo cenário. O semideus faz uso da sua super-força e poderes divinos para causar dano em áreas com ataques corporais, jogar inimigos longe com suas lâminas duplas e pode ainda manusear armas de grande calibre com facilidade.
Já vi isso em outro lugar
Após as apresentações chegamos a um tutorial onde aprendemos na prática as diferenças de jogabilidade entre os membros da equipe, e quais comandos iguais realizam ações diferentes para cada personagem. Esta primeira hora passa a impressão de que tudo é desenvolvido baseado no gameplay da trilogia Arkham. Com direito a câmera próxima do vilão controlado, velocidade cadenciada e uma exploração mais contida.
Infelizmente, logo na sequência somos atirados ao que o jogo é de verdade: um caos psicodélico em forma de um shooter em terceira pessoa. Tudo é exagerado aqui. O número de inimigos, a poluição visual com excesso de coisas na tela, o tempo que todos do esquadrão conseguem ficar fora do chão, a quantidade de acertos necessários para deitar os inimigos na base da bala, a repetição de missões e objetivos, batalhas de chefe pouco inspiradas contra os membros da Liga da Justiça (em uma delas derrotei o Lanterna Verde sem saber o que fiz para conseguir isso). Tudo unido por uma colcha de retalhos que é o roteiro cheio de furos, que além de forçado consegue desrespeitar décadas de background criado pela DC Comics, descaracterizando os personagens a torto e a direito.
A coisa piora ainda mais com o fato de que tudo o que acontece em Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça se passa 5 anos após o último jogo do Batman. O que passou pela cabeça do pessoal do estúdio para desconstruir o seu legado lançando um produto que traz uma jogabilidade que é uma mistura de jogos como Avengers, Gotham Knights, Guardiões da Galáxia, com pitadas de Destiny, sendo que nada parece se encaixar direito?
Desabafos à parte, vamos ver o que mais o título traz em seu pacote.
Metropolis
A campanha se passa, em sua maior parte, na conhecida cidade de Metropolis, lar do Superman. Seu mundo aberto é bem grande e cheio de locais conhecidos para os fãs da DC, como a Lexcorp, o Planeta Diário, a Sala da Justiça e muitos outros. A cidade apesar de bem retratada na tela, é vazia e sem vida, se tornando bem genérica com o tempo, com a repetição de objetivos e de inimigos para encarar várias e várias vezes seguidas.
Além do quarteto de vilões principal disponível para controlar durante a campanha, outros vilões também dão as caras no jogo formando o Esquadrão de Apoio que inclui o Pinguim, Gizmo, Homem dos Brinquedos, Hack, Hera Venenosa (que foi reimaginada como uma criança). Estes fazem o papel de fornecedores de novos equipamentos e/ou habilidades. Mais alguns figurantes podem dar as caras durante a campanha como Lex Luthor e Rick Flag, para influenciar a equipe de outras maneiras.
Crossplay
O título pode ser jogado tanto offline com um jogador escolhendo um personagem para controlar e deixando o resto da equipe por conta da Inteligência Artificial (IA) do jogo, que é até satisfatória. Ou pode ser “degustado” por até 4 amigos online, mesmo que em plataformas diferentes através do crossplay. Esta é definitivamente a melhor forma de curtir Esquadrão Suicida. Este modo conta com uma forma de compartilhamento de equipamentos, tabela de classificação e premiação para os líderes das missões. Outra adição é uma roda de expressões onde é possível se comunicar com outros jogadores, interagindo e realizando dancinhas.
Com o término da campanha principal um novo modo de jogo com conteúdo genérico é liberado, o Finite Crisis (Crise Finita). O que nada mais é do que novas batalhas contra hordas de inimigos com a intenção de prolongar a vida útil do jogo, sendo possível continuar upando o esquadrão ganhando mais XP e liberando mais equipamentos baseados em alguns super-vilões da DC.
Uma boa notícia é que houve o anúncio de novos conteúdos sazonais e gratuitos que chegarão por temporadas. A ideia é expandir e prolongar a experiência do jogador com novas missões, equipamentos, armas, eventos, ambientes e personagens jogáveis. Tudo baseado em terras alternativas que também sofreram nas mãos de Brainiac.
O que chega
Já em março, a primeira temporada incluirá uma versão alternativa do Coringa que virá dotado de um guarda-chuva-foguete para se deslocar pela cidade, além de um visual bem questionável. E pelo menos mais 3 temporadas estão nos planos do estúdio ainda para 2024, garantindo mais 3 personagens jogáveis ao grupo.
O visual é competente e os cenários são bem construídos, principalmente os fechados. Na cidade tudo perde destaque por causa do caos que é a jogabilidade frenética do game. Dessa maneira, transformando Metropolis em um cenário genérico e sem importância, com prédios e pontes para serem explorados de qualquer jeito.
O destaque fica por conta dos modelos 3D dos personagens principais. Suas animações corporais são muito bem feitas, principalmente as feições durante os diálogos e exploração. A sincronia labial faz parecer que o jogo foi desenvolvido em nosso idioma, dada sua perfeição em conjunto com a dublagem.
O Som ambiente e efeitos sonoros são ok. Algumas trilhas épicas estão presentes, mas tudo se perde ou se mistura em diversos momentos durante o gameplay caótico do título. A dublagem conta com o retorno de vozes conhecidas do grande público de outras produções do universo DC tanto no original quanto em português. Ainda assim, ouvir por horas os diálogos da Arlequina e Bumerangue com uma dublagem forçada e não natural incomoda bastante. Principalmente quando somamos a essa equação, toda a poluição sonora presente.
Veredito de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Com apenas um jogo como serviço mal executado, a Rocksteady conseguiu abalar todo o seu prestígio de quase uma década e meia construído com esmero no universo da premiada trilogia Batman Arkham.
Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça acumula características vistas em diversos outros jogos de estilos variados em um produto que não conseguiu dizer muito bem a que veio. Contudo, caso você seja um fã do esquadrão, vai ter que superar a bagunça que são a jogabilidade e o roteiro ruim para encontrar algum divertimento.
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Prós
- Boas cutscenes entre as missões
- Mudar de personagem a qualquer momento durante a exploração
- Ter como base a Sala da Justiça
- Animações faciais de boa qualidade
Contras
- Jogabilidade caótica
- Roteiro ruim
- Missões repetitivas
- Pouca variedade de inimigos
- Batalhas contra chefes não empolgam
- Poluição visual e sonora