Série ‘Falcão e o Soldado Invernal’ deixa um grande legado para o MCU
Fernando Coutinho
Assim como um dos incríveis rasantes do Falcão (Anthony Mackie), a série Falcão e o Soldado Invernal (The Falcon and the Winter Soldier), de apenas seis episódios do Disney Plus estrelada por ele em conjunto com o Soldado Invernal (Sebastian Stan), passou num sopro. Felizmente deixando ótimas impressões, história e muitas possibilidades abertas no MCU. Aliás, nesse sentido indo muito além de WandaVision.
Blip
O mote básico da série, como já era de se esperar, é a continuação da vida de dois personagens que não são exatamente amigos, mas que tinham fortes laços com um amigo em comum, o Capitão América. Paralelo a isso, segue também a continuação da vida em nível mundial daqueles que retornaram após o blip causado pelo estalo de Thanos, cerca de cinco anos depois de virarem poeira, assim como todas as dificuldades sócio-político-burocráticas geradas por conta disso.
Além disso, um conjunto de jovens descontente com a segregação dos retornados e a falta de políticas efetivas para a reintegração desses à sociedade formam os Apátridas, um grupo anarquista que acaba se utilizando de ações terroristas para se fazer ouvir. Eles acabem se tornando os vilões diretos da trama, muito embora haja algumas outras camadas de vilania na série. Como o maquiavélico Zemo e o enigmático Mercador do Poder, por exemplo.
Histórias dos protagonistas
Enfim, voltando aos personagens principais, o Falcão segue atuando em algumas operações especiais de resgate etc. E mesmo sendo quem é se vê as voltas com dificuldades financeiras quando tenta salvar o negócio da família junto com a irmã. Por outro lado, Bucky, em condicional e sob supervisão psicológica, se encontra em uma jornada de busca por redenção por seus atos enquanto Soldado Invernal.
Sam Wilson – o Falcão – não se julga digno de empunhar o escudo deixado para ele pelo Capitão América. E decide doá-lo a um museu. Algo com que Bucky obviamente não concorda. Mais do que o escudo do Capitão América, o objeto é um símbolo de tudo que ele foi e de tudo em que ele acreditava.
Tal “desistência” leva o governo americano a fazer uma manobra de tentar criar um novo símbolo americano, um novo Capitão América. Paul Walker, um militar condecorado, é nomeado como o novo Capitão América. Mas seu perfil militar (radicalmente militarista), com um sentimento ultranacionalista que como de praxe resvala no fascismo, iria muito em breve iria comprometer a iniciativa e manchar o símbolo nacional.
Isaiah Bradley
Para completar esse caldeirão de conflitos, descobre-se que os Apátridas não são simples “guerrilheiros”, mas na verdade são supersoldados, com suas habilidades conseguidas por meio de um novo soro conseguido a partir de um dos episódios mais controversos da Marvel (por sua vez, inspirados em fatos reais*). Aliás, é nesse ponto que a série entra em contextos que podem ser bastante impactantes e polêmicos diante de fatos atuais e recentes. Um amigo disse que foi um tapa na cara do governo americano. Pessoalmente eu diria que foi uma voadora com os dois pés.
Então surge a figura de Isaiah Bradley (Carl Lumbly), considerado canonicamente nos quadrinhos como o primeiro homem a ostentar o título de “Capitão América” depois de Steve Rogers. E por que isso é tão polêmico? Isaiah é um homem afro-americano. Sua origem remonta a um experimento secreto do governo americano com a tentativa de recriar o soro do supersoldado. Entretanto, para isso, escolheram apenas soldados negros como cobaias para a experiência. Várias versões do soro foram testadas e de 300 cobaias, apenas 5 sobreviveram.
Depois de uma última missão, apenas Isaiah sobreviveu, e aparentemente o único em que a experiência foi um sucesso. Para piorar, sua recompensa foi que os Estados Unidos não poderiam ter um herói, um símbolo, negro. Ele foi feito prisioneiro e objeto de estudo por anos, até encontrar alguém que teve pena e o ajudou, forjando sua morte.
Sua história mexe profundamente com Sam Wilson e, de certa forma, reforça nele seus princípios e a ideia de que mesmo com (e apesar de) todo o preconceito, seu povo construiu aquele país, e ele é digno sim de lutar por esse país.
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Apátridas e Zemo
E de onde veio o novo soro usado pelos Apátridas? Foi financiado pelo Mercador do Poder, um misterioso chefão de Madripoor, famosa ilha nos quadrinhos da Marvel que é um território sem lei e espécie de paraíso do crime.
Auxiliados por Zemo (Daniel Brühl) na investigação, que tem seus próprios princípios contra os super-humanos (e aparentemente supersoldados em especial), acabam encontrando a Agente 13 Sharon Carter (Emily VanCamp), que está refugiada na ilha já que é considerada traidora desde que auxiliou o Capitão e o Falcão no longa.
John Walker
A queda do novo Capitão John Walker não demoraria muito. Após conseguir a última dose do novo soro do supersoldado, agindo de forma cega para vingar um colega, ele passa dos limites e executa um apátrida indefeso diante das câmeras e do mundo. É derrotado numa luta conjunta contra Falcão e Bucky, sendo em seguida dispensado do cargo e da carreira militar, sem no entanto aceitar essa decisão governamental.
Recuperado o escudo, após a conversa com Isaiah e com uma ajuda wakandiana conseguida por Bucky com as Dora Milaje, Sam finalmente se convence que será o novo Capitão América – sem poderes, mas mantendo suas asas. E o conflito final se dá com o Falcão agora autoproclamado Capitão América e Bucky enfrentando a tentativa de sequestrar os líderes do Comitê de Restauração Global que iriam votar uma realocação forçada dos retornados do Blip. Quem também dá as caras para auxiliar é Sharon Carter, que na verdade acaba revelando seu verdadeiro papel e interesse na história.
Reconhecimento
Apesar de ainda tentar manter o papel de Capitão América forjando uma imitação do escudo original, Walker acaba por reconhecer que o manto passou para Sam Wilson. Mas o agora ex-Capitão não sai simplesmente de cena: ele é contatado pela Condessa Valentina Allegra de Fontaine (que nos quadrinhos já fez parte da SHIELD ao lado de Nicky Fury e também já foi a Madame Hydra), para que possa agir como um agente especial, ressurgindo então como o Agente Americano (com o mesmo uniforme, só que agora preto e mantendo apenas as listras vermelhas e brancas do original).
Derrotados os Apátridas e salvos os membros do CRG, com um discurso de várias matizes de consciência humana e social, o “Capitão Falcão” convence os membros a rever a situação, pesando menos as questões burocráticas, políticas e econômicas mas sim focando na questão humanitária.
‘Falcão e o Soldado Invernal’ é uma boa série?
A série Falcão e o Soldado Invernal fecha como um encerramento e recomeço para Sam e Bucky. O Falcão, agora estabelecido como novo Capitão América, e Bucky conseguindo finalizar sua lista de “reparações” das atividades dos tempos de Soldado Invernal. O clima inicial que era o limite da cordialidade entre os dois se mostra agora o de uma verdadeira amizade. E um leque gigantesco de opções não só para continuação da série em futuras temporadas, como de efeitos para o MCU em si.
Algo digno de nota é o fato da cronologia do MCU não seguir a dos quadrinhos. Isso pode fazer com que os fãs possam estranhar ou desgostar um pouco da série. Originalmente nos quadrinhos, Bucky assumiu o posto e o escudo do Capitão América bem antes do Falcão. Mas, analisando pelo contexto do MCU, realmente faz mais sentido dessa forma como a série desenvolveu. O Bucky enquanto personagem no MCU não tinha a essa altura bagagem pra assumir o escudo ainda. Algo que certamente mudou a partir de seu papel aqui. A série Falcão e Soldado Invernal/Bucky agora são personagens com carisma mais que suficiente para sustentarem o protagonismo.
*Para quem se interessar, o fato que baseou a história de Isaiah Bradley é conhecido como Experimento de Tuskegee, onde o governo americano manteve uma pesquisa entre os anos 1930 e 1970 com homens negros portadores de sífilis, oferecendo um sigilosamente um falso tratamento apenas com placebos para poder acompanhar a evolução da doença.
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TRAILER DA SÉRIE ‘FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL’
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FICHA TÉCNICA
Título original: The Falcon and the Winter Soldier
Temporada: 1
Criador: Malcolm Spellman
Direção: Kari Skogland
Roteiro: Malcolm Spellman, Michael Kastelein, Derek Kolstad, Dalan Musson, Josef Sawyer
Elenco: Sebastian Stan, Anthony Mackie, Wyatt Russell, Erin Kellyman, Danny Ramirez, Georges St. Pierre, Adepero Oduye, Don Cheadle, Daniel Brühl, Emily VanCamp, Florence Kasumba, Julia Louis-Dreyfus
Onde assistir à série ‘Falcão e o Soldado Invernal’: Disney Plus
Data de estreia: sex, 19/03/21
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2021
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos