Festival MITA no RJ tem bons shows para um público letárgico
Cadu Costa
Neste último final de semana no Rio, rolou o festival Music Is The Answer, ou simplesmente, MITA. Montado no Jockey Club, que fica na Zona Sul da cidade, o evento teve shows de Two Door Cinema Club, Liniker, The Kooks, Gilberto Gil, Marcelo D2, Black Alien, Gorillaz e vários outros. O ULTRAVERSO esteve na cobertura do evento e conta agora um pouco de tudo que aconteceu por lá.
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Primeiros shows do Festival MITA no RJ
O Festival MITA no RJ começou às 11h no sábado (21) e 12h no domingo (22). E sinceramente: evento de música no Rio – com exceção do Rock In Rio, começar tão cedo não costuma agradar o público carioca. Uma pena porque no sábado perderam a oportunidade de conferirem dois grandes shows com Rachel Reis e o rapper Coruja BC1. Este último é bom guardarem bem o nome, pois possui uma rima envolvente e altamente politizada.
Após a interessante apresentação de Xênia França, às 13h55 em ponto, já existia público suficiente para curtir o grande Black Alien. O rapper de Niterói, cidade colada ao Rio, começou a juntar uma boa galera para curtir suas músicas que desfilaram por seus grandes sucessos como “Chuck Berry”, “Babylon By Gus”, “Sangue de Free”, “Carta Pra Amy” e “Que Nem O Meu Cachorro”.
Logo após, um nada surpreendente e incrível show de Liniker. A cantora emocionou e ficou emocionada com a intensidade de suas letras e o poder envolvente e dançante de sua melodia. Ela chorou, agradeceu, mas, principalmente, elevou a temperatura com seu vozeirão e carisma.
Elite
Em seguida, veio a galera do Heavy Baile com toda a malandragem do funk carioca e a batida do rap. Foi realmente bom de de ver um monte de gente preta talentosa sendo aplaudida por pessoas de um dos lugares mais elitizados do Rio de Janeiro.
Sim, bastante elitizado a começar pelo preço das coisas. Claro que em festivais tudo fica realmente mais caro. É o preço a se pagar para participar da experiência de frequentar um local de muita música, muitos artistas, diversas atividades e… lama. Sim, fazer um grande espetáculo num local onde cavalos correm e ainda mais depois de um grande dia de chuva não parece lá muito esperto. Ainda assim foi pior do que o som baixo de um dos palcos. Estava simplesmente baixo demais. Talvez acompanhando um público deveras letárgico.
O MITA Festival no RJ teve bons shows, mas as pessoas pareciam estar mais ligadas em beber ou curtir as tendas de música eletrônica ou o som do DJ na entrada. Alguns dos shows pareciam mais música ambiente como os gringos do Two Doors Cinema Club e The Kooks. Esse último foi prejudicado pelo já citado som baixo do Palco Deezer.
O grande Gorillaz
Por sorte, o show do Gorillaz deu uma animada maior. É verdade que muita gente ficou frustrada por não ser mais um espetáculo 3D ou os personagens animados interagirem com o público por agora ser diretamente seu criador Damon Albarn no palco. No entanto, que banda, senhoras e senhores.
“19/2000”, “Feel Good Inc” e o maior sucesso da banda, “Clint Eastwood” estiveram no repertório que teve ainda diversas participações de Bootie Brown, De La Soul, Michelle Ndegwa e Sweetie Irie. Com o som no seu máximo, foi o melhor show do festival no primeiro dia.
Segundo dia do Festival MITA no RJ
O domingo, segundo dia do MITA Festival no RJ, começou do mesmo jeito que o primeiro: com famílias entrando devagar, muitas crianças e música de Rachel Reis recepcionando o público. Logo, entra no palco Alice Caymmi convidando Maria Luiza Jobim para cantarem o melhor da MPB.
Às 13h, Marcos Valle e Azymuth levaram ao palco décadas de música brasileira, jazz, samba e blues. O “som de coroa” foi bem curtido pela juventude presente. Mas pra eles, tinha a Letrux com diversos de seus sucessos como “Que Estrago”, “Aos Prantos” e “Ninguém Perguntou por Você”. Em um determinado momento, a cantora colocou uma blusa vermelha com o número 13 nas costas em referência a Lula, que é candidato a presidência da República. Nessa hora, o público não parou de aplaudir.
Depois foi a vez de Tom Misch e o seu som a lá Jack Johnson. Cantou sucessos como “It Runs Through Me”, e foi surpreendentemente um grande show. O público literalmente viajou em sua música e foi à loucura quando Marcos Valle voltou ao palco para cantar junto ao artista britânico, “So Good – a song to Rio”, música composta pelos dois para a cidade do Rio de Janeiro. Saiu do palco aos gritos de “mais um”.
D2, Bolsonaro e o público
Chega a vez então de Marcelo D2 e, com ele, sobe os xingamentos ao comandante do país. Diversos coros de “Fora Bolsonaro”, mas o rapper carioca, no entanto, respondeu com: “deixa esse FDP pra lá, parar de falar desse cara que não merece estar aqui”.
Seus grandes sucessos como “Qual é?”, “1967”, “A Maldição do Samba” foram cantados em uníssono, mas a melhor parte foi quando – mais uma vez – Marcos Valle foi chamado ao palco junto de Mamão, baterista do Azymuth. Juntos, cantaram “Contexto”, clássico do Planet Hemp, que contém samples de “Mentira”, música de “Previsão do Tempo”, álbum de Marcos Valle e Azymuth, lançado em 1973.
“Po##@, juventude, vamo fazer barulho pra esses caras aqui”, dizia um incomodado D2 pela aparente falta de cultura musical dos mais novos.
Gilberto Gil em família
O melhor do dia ainda estava por vir e veio na figura da lenda da nossa música, Gilberto Gil. Esse homem é parte da história da arte desse país e subiu ao palco dos filhos Bem Gil e José Gil, assim como dos netos João Gil e Flor.
O cantor, que completa 80 anos mês que vem, sambou, tocou seu velho violão como ninguém mais sabe fazer e cantou, cantou e cantou. A maior parte de seus maiores sucessos finalmente fez um público pular e agitar do início ao fim. Preta Gil, Bela Gil e a bisneta Sol ainda subiram ao palco para cantar e pular com o pai numa celebração do verdadeiro símbolo do que é uma família brasileira: com amor, música e alegria.
Após esse apoteótico show, faltava pouco gás para entender quem era esse tal de Jão. Mas fazendo bastante sucesso como tem feito, levantou seu público característico com sua cenografia e performance ao cantar seu maior sucesso “Idiota” e até mesmo um pouco de Cazuza.
Rüfus do Sol fechando o Festival MITA no RJ
Por fim, veio o trio australiano do Rüfus do Sol e seu som meio lounge, meio experimental, totalmente perfeito para viagens transcendentais e pegação sem lei. Destaque para “Surrender”, “Make it Happen”, “You Were Right” e “On My Knees”.
E assim, foi o Festival MITA no RJ. Bons shows, público dos mais variados e menos empolgado que de costume. Talvez a fase pós-pandemia seja um alerta de que ainda precisamos nos acostumar com muita coisa. De qualquer modo, estamos no caminho certo para voltarmos a curtir como sempre fomos mundialmente conhecidos: com alegria sem fim.
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