Festival Varilux 2019

A importância do Festival Varilux de Cinema Francês

Julio Mantovani

Arte e cultura andam de mãos dadas e, de certa maneira, influenciam uma à outra. Por um lado, é inevitável que um artista transmita a essência do seu país no momento em que cria uma peça artística. Mas são essas peças que, mais tarde, são incorporadas ao gosto, bem como ao comportamento cultural de um povo. Elas servem como referência para quem produz e consome arte. Isso é especialmente perceptível quando o assunto é cinema.

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A importância do Festival Varilux de Cinema Francês

É verdade que há uma certa hegemonia cinematográfica nos dias de hoje. Produtoras estadunidenses fazem grandes produções, que são exportadas para muitos outros países. Nós nos acostumamos a consumir essa cultura. O problema surge quando o público assume que essa fórmula de produção hollywoodiana é a única forma de fazer um filme. Ou então considera um único substrato cultural como superior aos outros. Eis a importância de eventos como o Festival Varilux de Cinema Francês.

A forma de pensar e fazer cinema dos franceses é única. E, ao longo dos anos, tem cativado o público brasileiro. As diferenças começam no que serve de inspiração para os diretores e roteiristas na França. Contrariando a lógica americana, os franceses pegam como ponto de partida a realidade. Ademais, fazem alusão aos acontecimentos, juntamente com discussões que estão em pauta nos dias de hoje. Por isso, muitos desses filmes acabam mostrando uma perspectiva mais intimista dos personagens, bem como de suas lutas e sofrimento diários. Outro reflexo dessa inspiração está na forma como o cinema francês se propõe a discutir temas difíceis, que raramente são abordados pelos filmes americanos.

Os filmes do Festival Varilux de Cinema Francês

Um exemplo da primeira situação é visto na obra de Lisa Azuelos, “Meu Bebê”. O filme gira em torno da experiência de vida da própria roteirista. Além disso, a atriz principal Thaïs Allessandrin é ninguém menos do que a sua filha. Ela está terminando os estudos e pretende viajar ao longo do próximo ano. Essa relação entre mãe e filha, bem como a ansiedade antes da despedida, inspiraram a criação do filme. A parte crítica vem através do questionamento que o longa se propõe a debater. Será que nós estamos vivendo o momento? Porque é fácil se apegar às lembranças do passado ou sofrer com a incerteza do futuro. Entretanto, viver o hoje e o agora é infinitamente mais difícil.

Já a segunda pode ser exemplificada pelos filmes “Inocência Roubada”, de Andréa Bescond, em parceria com Éric Métayer; e “Graças a Deus”, dirigido por François Ozon. Os dois roteiros tratam da mesma questão central, que é o abuso sexual. Esse tipo de coisa raramente aparece em filmes americanos ou até mesmo brasileiros. Talvez por conta do desconforto que ele pode trazer ao público. A verdade é que esse tipo de situação é incômoda para a maior parte das pessoas. Pela perspectiva das produtoras, trabalhar com esse tema é um risco muito grande, visto que elas têm o objetivo de estourar nas bilheterias e arrecadar lucro.

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Foto: Amanda Firmino / BLAH!ZINGA

“A arte influencia a cultura”

Voltando à questão inicial do texto, a arte também influencia a cultura. Por intermédio do cinema, nosso olhar é direcionado para este ou aquele ponto. O que nos leva a uma reflexão, através das quais aprendemos a lidar com problemas do nosso cotidiano. Quando a arte não propõe essa discussão, fica difícil para a sociedade se orientar diante de tópicos polêmicos. Conforme Emmanuele Boudier – curadora do festival – pontuou durante a coletiva de imprensa, “faz parte da sociedade francesa transformar questões que causam comoção pública em roteiros cinematográficos”.

Mas não é apenas de obras contemporâneas que vive o cinema francês. Dentre os filmes do festival, tanto “A Revolução em Paris”, de Pierre Schoeller, quanto “Cyrano, Mon Amour”, de Alexis Michalik, são obras de época que desafiam pela quantidade de personagens, detalhamento em cenário e figurino e complexidade da trama. Pierre Schoeller, roteirista e diretor, nos contou que “o gênero histórico faz parte da tradição francesa, tendo sido deixado de lado por um tempo”. Seu trabalho marca um retorno a essa origem.

É por conta de tudo isso que o Festival Varilux de Cinema Francês é tão relevante, por apresentar um jeito diferente de fazer e – principalmente – de assistir cinema. Ao levar seus filmes para 84 cidades diferentes, muitas das quais não possuem acesso nem mesmo as grandes superproduções hollywoodianas, o evento cria um câmbio cultural interessante. Além disso, alimenta a imaginação e senso crítico da população brasileira. Vale a pena conferir!

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Foto: Amanda Firmino / BLAH!ZINGA

Julio Mantovani

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