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Ficção Americana (American Fiction) - Filme 2023 - Leia a crítica - Ultraverso

Ficção Americana traz história satírica sobre a banalização do estereótipo

Bruno Oliveira

Ficção Americana foi o último filme na lista de indicados a Melhor Filme do Oscar 2024 a estrear no Brasil. Chegou de surpresa no Prime Video, sem um aviso prévio e quando menos percebemos, já estava incluso no catálogo. Apesar de pouco marketing, esse é um longa que tem muito o que falar. Cord Jefferson, mais conhecido como roteirista (Watchmen, Master of None), assina o roteiro e faz sua estreia na direção. E que estreia. O longa é baseado no livro Erasure, de 2001, escrito por Percival Everett. Estrelado por Jeffrey Wright (Batman), em seu melhor momento da carreira, Ficção Americana traz história satírica que nos faz pensar sobre a banalização do estereótipo.

Sinopse do filme Ficção Americana

Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright) é um escritor renomado que nota que seus livros não fazem sucesso comercial por não ser “negro” o suficiente para vender. Pensando nisso, Monk resolve escrever um livro, através de um pseudônimo, completamente estereotipado como forma de protesto. O problema é que as editoras não entendem a “piada” e resolvem lançá-lo como um proeminente best-seller, causando uma dor de cabeça inimaginável ao escritor.

Ótima surpresa

Comecei a assisti-lo e juro que achei que seria só mais um desses filmes dramáticos do Oscar que fazem nossos corações chorarem. Ótimos atores, ótimas atuações, e apenas só mais um Oscar bait, produzido para premiações. Esse início não me preparou de verdade para o que eu iria ver e isso foi ótimo. Quando Monk começa a escrever seu livro paródia é que o filme vai ganhando suas cores e onde vemos a genialidade do que ele quer discutir.

A banalização do estereótipo

Em tempos em que a diversidade está em alta no cinema, esta obra chega para aprofundar mais ainda a discussão. O homem branco que se sente culpado ao assistir obras sobre a escravidão, sobre a realidade de um homem preto pobre, é um dos maiores alvos aqui. Não que a culpa seja deles, entretanto, a banalização é mostrada de forma muito satírica e quem entende a piada vai rir muito, mas, certamente, terão os que não vão entender e que se sentirão totalmente atacados pelo que estão vendo em tela.

Essa é a genialidade. Ela é sútil. O combate chega a ser paradoxal: se não for estereotipado ninguém vai se importar, caso seja, todos vão ver e se sentir comovidos com a história. Será que todos estão presos no que criamos e moldamos sobre certas pessoas? Essa é uma discussão ávida e que mereceria até ser papo de uma mesa de bar.

Roteiro ágil

O roteiro desse filme é simplesmente nota 10. É ágil, mordaz e nos faz refletir sobre costumes enraizados. O racismo estruturado pode estar em qualquer um e é debatido aqui de uma forma muito esperta. Enquanto os brancos estão achando o livro criado por Monk uma genialidade, o próprio Monk fica chocado em como as pessoas podem ser imbecis a ponto de aceitar tudo que escreveu. Era para ser ridículo, mas as pessoas simplesmente amam. Tudo um reflexo de nossa realidade. Uma conversa entre Monk e a escritora Sintara Golden (Issa Rae) mostra, brilhantemente, o ponto e contraponto sob a perspectiva do que é popular e o que é uma obra querendo ganhar o público através do famoso bait. Nada menos que genial.

Jeffrey Wright

Wright é daqueles atores maravilhosos que vemos por aí, mas que só analisamos a sua performance por ser coadjuvante na maioria esmagadora de seus trabalhos. Agora sim, ganhou um papel como protagonista e ele pegou essa oportunidade e não largou. Seu personagem possui algumas camadas que vamos descascando durante a projeção. Sua relação com a mãe, o irmão, a empregada e a namorada nos apresenta uma faceta diferente a cada interação. Isso nos revela que ele é uma pessoa normal como qualquer outra, com qualidades e defeitos. Atributos que o afastam de qualquer pessoa estereotipada. É isso que ele quer mostrar e, pelo menos para o público, consegue.

Conclusão

Ficção Americana é um ótimo filme, engraçado e completamente sarcástico. Tenho certeza que algumas pessoas não entenderão como devem e, possivelmente, se sentirão atacadas e ofendidas. O ponto é que essa é uma obra que não pretende ofender e sim fazer pensar. O final, a meu ver, perfeito, elucida muito sobre o que quer mostrar. O final chocante da história fictícia é justamente o que esperamos ver, e não pessoas ordinárias vivendo vidas normais. Nada menos que brilhante. O homem vestido de escravo em seus momentos finais é o resumo do que Monk abomina e quer evitar.

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