‘Filhos do Ódio’ não se aprofunda como deveria sobre discussão racial
Cadu Costa
Ah, a história do salvador branco. Durante muito tempo, todo filme com temática racial ou não, apresentava esse personagem. Não importa quem fosse a vítima, sejam pretxs, mulheres, crianças, lá estava a figura do homem branco. Imponente, sagaz, inteligente, heroico. Um John Wayne para qualquer hora.
No entanto, é quase impossível fazer um filme que conte a história do Movimento dos Direitos Civis pelos olhos de um personagem branco. Assim, o melhor que você poderia esperar ao contar essa história do ponto de vista caucasiano seriam as merecidas acusações de “apropriação cultural”. Ainda mais com Spike Lee listado como produtor. Mas parece que não foi bem dessa forma que aconteceu com o filme Filhos do Ódio (Son of the South).
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A trama
O longa aborda os anos 60 e conta a vida de Bob Zellner (interpretado por Lucas Till, da franquia X-Men), um jovem branco do Alabama e neto de um membro da Ku Klux Klan que decide questionar a segregação racial nos Estados Unidos, no auge das atividades de grupos supremacistas brancos. O roteiro é baseado no livro biográfico “The Wrong Side of Murder Creek”, escrito por Bob Zellner e Constance Curry.
A trama também aborda o encontro de Zellner com importantes líderes negros da época, como Rosa Parks e John Lewis, antes de se tornar o primeiro secretário branco do Comitê Coordenador Estudantil Não-Violento. Lucy Hale (Pretty Little Liars) e Cedric the Entertainer (Uma Turma do Barulho) também estão no elenco. Atualmente, Bob Zellner, com 82 anos, continua presente no movimento dos Direitos Civis americanos, sendo um dos mais respeitados porta-vozes da causa.
Obviamente, Bob é o foco do filme Filhos do Ódio, mas esta é uma história que vê sua conversão através das respostas dos ativistas pretos que ele conhece. Alguns não confiam nele ruidosamente e outros ficam desconfiados. Contudo, o que domina a história é a luta da população preta e a dignidade dessa luta. Imagens e filmagens originais são usadas para cenas de período, lembretes e impacto emocional. Além disso, a produção utiliza uma técnica muito comovente em que filmagens históricas em preto e branco sofrem uma saturação de cor gradual. Dessa forma, trazem o espectador de volta à narrativa.
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Problemas
No entanto, o longa-metragem ainda apresenta problemas. Certamente há um nicho para este filme. Afinal, é bem filmado, com ritmo moderado, repleto de um conjunto de atuações sólidas, fica na linha entre sobrescrito e autêntico, e é visualmente bonito. Só não temos certeza de quem é esse público, pois é muito limpo, polido e estruturado para conseguir atrair aqueles que buscam uma profundidade para qualquer tipo de discussão racial nova.
Seria maravilhoso imaginar que o filme Filhos do Ódio pudesse provocar ou fazer mais do que um lembrete de mais de 100 minutos de que, como espécie, os humanos são indignos de consciência e que nossa evolução foi imerecida e quanto ódio cego continuamos a inventar contra nós mesmos.
Em vez disso, a película simplesmente recapitula um terreno familiar e nos mostra outra variação do que sempre conhecemos; os humanos têm a capacidade de mostrar imenso amor, compaixão e bondade, assim como a capacidade de mostrar imenso ódio, repulsa e hostilidade – e que tão poucos de nós são capazes de não ser indiferentes aos poderosos efeitos de qualquer um dos lados, simplesmente permitindo o mal existir em toda parte, e a história se repetir para sempre.
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‘Filhos do Ódio’ é um bom filme?
Pelo menos, Filhos do Ódio chega com algum endosso e a garantia de que não será mais um constrangimento do tipo Green Book.
Por fim, o drama biográfico Filhos do Ódio, produzido pelo cineasta Spike Lee, chega às plataformas digitais no dia 25 de junho, com distribuição da Synapse Distribution.
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Trailer do filme ‘Filhos do Ódio’
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Ficha Técnica
Título original do filme: Son of the South
Direção: Barry Alexander Brown
Roteiro: Barry Alexander Brown
Elenco: Lucas Till, Jim Klock, Michael Sirow
Data de Estreia: sex, 25/06/21
Onde assistir ao filme ‘Filhos Do Ódio’: Claro Now, Vivo Play, Sky Play, iTunes/Apple Tv,
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2020
Duração: 105 minutos
Google Play, YouTube Filmes
Classificação: 14 anos