‘Flee’, indicado ao Oscar 2022, é empático, sensível e impressionante
Fernanda Fernandes
Atenção, porque esta resenha do filme Flee (Flugt) contém spoilers.
O filme Flee entrega uma animação esteticamente bela, com um roteiro sensível, emocionante e intimista. Indicado ao Oscar de Melhor Animação, Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário, o longa-metragem nos faz mergulhar na história de Amin Nawabi, pseudônimo de um amigo próximo de Jonas Poher Rasmussen, diretor da obra.
No entanto, Amin, agora adulto, com uma carreira bem-sucedida e noivo de seu namorado, decide contar uma história que escondeu por duas décadas.
Inicialmente, somos apresentados à infância de Amin em sua cidade natal, Kabul, no Afeganistão. O contexto do país é o do conflito civil que assolou o local por décadas e gerou um fluxo grande de refugiados, incluindo ele. Quando o Talibã invadiu o Afeganistão, o pai dele desapareceu. Forçados a fugir, a família de Amin, composta por sua mãe, bem como um irmão mais velho (Saif) e duas irmãs, pegam um voo com um visto de turista para a Rússia.
Neste momento, além da narrativa, um ponto de destaque do filme Flee é que ele é contado no formato de entrevista. Os diálogos da história aparecem, mas a forma como o protagonista te prende com a narração é impressionante. Assim como o cuidado do entrevistador.
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A fuga de Amin
Aliás, o intuito da viagem para a Rússia era ganhar tempo para poderem ir para a Suécia. O irmão mais velho de Amin, Abbas, estava morando lá há alguns anos. Mas a travessia custa caro e a família escolhe enviar as irmãs primeiro, as quais quase morreram no trajeto.
Em seguida, os três membros restantes da família tentam fazer a travessia pelo mar báltico, mas acabam sendo encontrados pela polícia da Estônia e enviados de volta para a Rússia. Depois disso, a mãe e o irmão mais velho de Amin decidem pagar um preço maior para enviá-lo em segurança.
Imigração
Portanto, Amin fará o trajeto sozinho e acaba conhecendo outro garoto um pouco mais velho do que ele. Eles fazem amizade brevemente – embora o jovem tenha uma queda pelo rapaz. Mas as coisas ficam por isso porque eles são mandados com documentos falsificados para lugares diferentes. E com uma história para contar para a imigração.
Assim, ao invés de ir para a Suécia, Amin é enviado para a Dinamarca e precisa manter a narrativa de que sua família inteira está morta, sendo ele o único sobrevivente de uma travessia que fez andando por meses. A história funciona e o protagonista é enviado para um abrigo, além de conseguir contatar Abbas escondido para avisar que está vivo.
O documentário traz tudo isso de forma sensível e delicada, mostrando uma empatia da parte do diretor. Afinal, estamos falando de um amigo de longa data de Amin. Tanto que, o filme mostra o momento em que se conheceram.
A homossexualidade em Flee
De antemão, a forma como o filme Flee traz à tona a sexualidade de Nawabi é o auge da animação. Além da naturalidade trazida, acompanhamos toda a descoberta dele desde quando era criança e usava os vestidos da irmã até o momento em que conta para os seus irmãos.
Logo, Amin apresenta de forma sábia que ser gay era moralmente vergonhoso para a sociedade do seu país. Por muito tempo, ele se escondia buscando não desapontar seus familiares e quando estava no abrigo chegou a pedir para tomar remédio para se curar. Saliento aqui, não há cura para o que não é doença.
Por fim, o ápice desse arco é um jantar que Amin tem com Abbas e suas irmãs mais velhas. Após ser acolhido no abrigo, o jovem consegue viajar até a Suécia para ver seus irmãos pela primeira vez em muito tempo.
Namorada*
Nesse evento, Abbas passa a noite perguntando sobre quando o garoto irá arranjar uma namorada. Cheio do assunto, Amin acaba contando para todos. E, além disso, o filme nos leva a esperar uma rejeição pela forma como os irmãos dele reagem. Mas não é o que acontece.
Depois de ter contado, Abbas leva Amin para sair e, honestamente, esperamos que ele pense em levá-lo para o forçar a sair com uma garota. No entanto, a história nos surpreende quando o irmão do protagonista o leva para que se divirta em uma boate gay. Aqui, é possível sentir exatamente a aceitação que o protagonista deve ter sentido.
Contudo, Flee traça uma narrativa verdadeira, delicada e cheia de conteúdo com maestria e simplicidade. É um longa-metragem autêntico, bem executado, e leve, mesmo tratando de temas bastante sérios. Cada momento é bem pensado, encaixando neste filme dinamarquês que une a animação e o documentário numa história impressionante.
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Trailer do filme Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar
Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar – elenco do filme
Maxi Iglesias
Stephanie Cayo
Wendy Ramos
Ficha Técnica
Título original: Flugt
Diretor: Jonas Poher Rasmussen
Roteiro: Amin Nawabi e Jonas Poher Rasmussen
Duração: 89 minutos
País: Dinamarca
Gênero: documentário e animação
Classificação: a definir