A catarse coletiva de Francisco, El Hombre no Circo Voador
Cadu Costa
As quintas-feiras no Rio têm sido bem diferentes, graças ao festival “Quintas Quentes” no Circo Voador. Isso porque, em parceria com uma marca de roupas, a casa tem trazido o melhor da música brasileira pro palco mais democrático da cidade. E já em sua terceira noite, nesta última quinta-feira (17), houve muita euforia por conta da Francisco, El Hombre e seu aguardado show de lançamento do disco Casa Francisco pelas terras cariocas.
A festa começou com a discotecagem do duo de DJs TropiCals e seu set de música brasileira mesclado às vertentes da música eletrônica. Disco, House, Boogie, Afro House. Tudo isso não faltou para ir aninhando o público.
Público este que começou a se empolgar já na apresentação de abertura feita por Curumin. Com um som bastante estético, o baterista e produtor musical apresentou um compilado de seus quatro discos. Com uma temática essencialmente urbana em suas letras, o multi-instrumentista paulistano fez um show seguro e performático. Aliás, destaque para o guitarrista Saulo Duarte. Simplesmente absurdo o que esse cara faz com o instrumento.
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Mais do que uma simples apresentação
Mas não adiantava, todos estavam ansiosos pelo show da Francisco, El Hombre no Circo Voador. Seu último trabalho, Casa Francisco figurou na lista do ULTRAVERSO dos 21 melhores discos de 2021 e era inevitável a expectativa pela apresentação.
Para situar, quem nunca foi num show da FEH pode não ter uma certa noção do que presenciar. Não é uma simples apresentação de músicas feitas para dançar. É basicamente uma catarse coletiva. Banda e público são submetidos a um transe e uma sensação que só quem está lá consegue conceber. E ainda assim, minimamente, porque o inconcebível também acontece.
Tudo já acontece nas primeiras músicas, “Loucura”, “Coração Acorda” e “Ocê”. Com performances intensas, não era necessário muito para um verdadeiro delírio musical. “Olha a Chuva”, por exemplo combinava com a água que caía sobre o Rio de Janeiro.
Um dos vários momentos especiais da apresentação de FEH se dá por conta da roda. Em “Tá Com Dólar, Tá Com Deus”, era realmente impressionante assistir público e banda em perfeita sintonia. Era como um balé do caos.
Show político
Antes de mais nada, é importante frisar se tratar de um show político. A FEH chegou a ser convidada pelo ex-presidente Lula (PT) para tocar na Argentina durante a celebração do Dia da Democracia e dos Direitos Humanos no ano passado.
Os irmãos mexicanos naturalizados brasileiros Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte, ao lado de Juliana Strassacapa, Helena Papini e Andrei Kozyreff, mostraram seus discursos progressistas em formatos de canções explosivas como “Bolsonada”, “Calor da Rua” e “TRAVOU :: tela azul”, que são críticas diretas ao presidente atual, ao país, ao mundo e tudo que estiver nele.
Mas de uma forma bem-humorada, com muita batucada, groove, rock e música latina. E o Circo Voador se transformou no caldeirão perfeito para o show da Francisco, El Hombre com essa salada sonora altamente politizada.
Para uma banda tão acostumada ao viés de luta antifascista, é claro que devemos colocar que uma menina subiu ao palco pra denunciar que homens não deixavam as meninas participarem da roda.
Participações especiais
Também houve tempo para participações especiais como da cantora Luê, em “Nada Conterá a Primavera”, bem como de Rubel, em “Se Não Fosse por Ontem”.
O hit “Triste, Louca ou Má” não poderia faltar e foi cantado em uníssono com grande destaque pro alcance vocal de Juliana Strassacapa. Impressiona o timbre e a qualidade de sua voz mesmo em canções mais velozes como “Arrasta” que, mais uma vez, ‘arrastou’ uma gigantesca roda.
Já perto do clímax, mais lenha na fogueira com um final apoteótico envolvendo “CHAMA ADRENALINA :: gasolina” e “CHÃO TETO PAREDE :: pegando fogo” do disco Rasgacabeza, de 2019.
No fim, a Francisco, El Hombre entregou um show quase espiritual no Circo Voador. Sair de uma apresentação sua é como se fosse uma mescla de sessão de descarrego com sensação de liberdade regadas a punk, mpb, folk, música latina, tudo misturado de uma maneira que só eles sabem fazer.
Não foi diferente nesta quinta-feira (17). O Circo Voador dançou, cantou, berrou, protestou, chorou, pulou e viveu uma noite apoteótica. Como a vida. Francisco, El Hombre é como a vida.
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