‘Freaky’: filme crava seu nome no terror moderno
Pedro Marco
Analisando friamente as duas últimas décadas do cinema, é cada vez mais evidente a forma que elas abordam sua originalidade em recontar histórias e reinventar fórmulas. Seja por meio de incontáveis remakes, sequências ou mesmo adaptações literárias, as histórias novas nascem de um fenômeno de mescla de gêneros e subgêneros. Apesar disso filtrar ainda mais seu público-alvo, cria tendências originalmente inimagináveis.
Slasher
Sendo esta uma regra que pouco a pouco atinge todos os gêneros, o terror não teria como ficar de fora dessa. E uma mistura do gênero slasher com um humor mais ácido vem finalmente encontrando um caminho fixo e constante.
Desde que o conceito do subgênero slasher foi cunhado com o clássico Massacre da Serra Elétrica nos anos 70, as tramas de um psicopata perseguindo um grupo de jovens se tornou a principal faceta pop do horror. Máscaras, facas e o termo “final girl”, atribuído à garota que sempre acaba sendo deixada por última na chacina, atravessaram os séculos em uma metamorfose nítida. Contudo, sem deixar de lado sua essência primordial.
Avançamos os anos 80 com Freddy, Jason, Michael e suas sequências infindáveis. Onde a comédia era mais uma sequência do esgotamento e do viés thrash da produção do que algo de fato proposital. Nos anos 90, Pânico e Chucky moldando o gênero para uma veia satírica que discutia o próprio gênero. Eles cimentaram uma estrada que somente seria percorrida duas décadas depois. Então, sobrevivemos aos anos 2000 e 2010 com uma onda de remakes de opiniões divididas. Neles, a violência gráfica sobressaía às ideias originais e um clima mais sombrio e sujo falhava em tentar reconquistar seu nicho.
Reinvenção do estilo
Mas, agora, em Freaky: No Corpo de um Assassino (Freaky), uma nova década crava uma reinvenção desse tipo de filme que reúne o aprendizado de quase 50 anos do estilo. Christopher Landon e o produtor Jason Blum, que já haviam trago uma grata surpresa em A Morte Te Dá Parabéns, mais uma vez usam por base conceitos já cansados do cinema comum. Assim, trazem um terror que diverte, assusta e renova o gênero nas medidas certas.
Se no seu primeiro grande sucesso (A Morte Te Dá Parabéns), o alvo era um remake bizarro de Feitiço do Tempo, bem como toda a brincadeira com o conceito do dia da marmota em uma trama de horror, a bola da vez são os filmes de troca de corpos. Algo marcado por clássicos como Sexta-Feira Muito Louca, Garota Veneno e até o brasileiro Se Eu Fosse Você.
Clichês atualizados e padrões desconstruídos
O plot de fundo também não poderia ser mais simples no filme Freaky: No Corpo de um Assassino. Uma garota (Kathryn Newton), passando pela perda do pai, assim como pelo período de mudança entre escola e faculdade, tenta suportar as provocações escolares e um amor não correspondido. É quando ela se vê perseguida por um maníaco serial killer, sem grandes explicações. E este, coroando a veia satírica da obra, é interpretado por ninguém menos que Vince Vaug. Estamos falando de ninguém menos que o Norman Bates do catastrófico remake de Psicose.
Com esta fórmula mágica de clichês atualizados e padrões desconstruídos, a veia cômica do diretor e o timing de comédia de Vaugh criam uma inversão de serial killer e final girl que marca este subgênero com uma sensibilidade única. Além disso, a visão metalinguística da obra homenageia o trabalho de Wes Craven em Pânico. Dessa forma, não deixa de ser gore, tenso e envolvente como poucos desta categoria se mostraram nos últimos anos. Apesar de ter sido lançado durante a época de pandemia, o filme é coroado como um dos mais pipocas de 2020. Ademais, é uma das produções que mais trouxe o espírito de diversão com os amigos neste ano.
Pressa pra quê?
Se há o que de fato ser consertado no filme Freaky: No Corpo de um Assassino, além da forma com que ele quase peca por excesso de simplicidade, é a maneira apressada com que o roteiro é transportado para as telas. Por mais padronizada e rebatida que seja a trama base e o plot principal, o longa encerra com a sensação de que poderia ser abordado de forma mais ambiciosa. Além disso, poderia ter sido construída com maior esmero, parecendo até mesmo inferior em certos aspectos com os filmes anteriores da dupla.
Apesar de divertido e importante para manter o gênero ativo, e quem sabe firmar uma nova tendência no mesmo, Freaky: No Corpo de um Assassino, o novo filme de Blum e Landom, não deixa tantas possibilidades para sequências como seu antecessor. No entanto, não há dúvidas de que firmou seus nomes dentre os que devem ser seguidos com atenção no cenário de terror moderno.
TRAILER
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