Gabriel de Almeida Prado e o flerte com a brasilidade

Rafael Vasco

O cantor Gabriel de Almeida Prado é um dos destaques na nova cena da MPB no país. Com influências que vão desde o samba até os clássicos tropicalistas, seu trabalho traz a brasilidade em uma agradável roupagem atual. O resultado dessa mistura pode ser conferido no seu mais recente single, “O fim está próximo”, já disponível em todas as plataformas de streaming.

A canção, que já conta com um vídeo clipe oficial, é responsável pelo início da divulgação de seu novo álbum, chamado “Não aceito ser um só”, ainda em fase de finalização. Ademais, o disco conta com a produção musical do próprio Gabriel, juntamente com Liw Ferreira e Pedro Serapicos, além de ter entre as colaborações nomes como Pascoal da Conceição, Siba e Oswaldinho da Cuíca.

Sendo assim, o ULTRAVERSO convidou o artista para uma conversa sobre seus lançamentos, projetos, criação durante o isolamento social e parcerias musicais. Portanto, acompanhe nosso bate papo:  

ULTRAVERSO: Seu novo disco, “Não aceito ser um só”, está sendo produzido através de um financiamento coletivo. Nesse sentido, em que momento decidiu viabilizar esse projeto musical por meio da colaboração de seus fãs?

GABRIEL: A campanha foi feita com o disco já em andamento, eu comecei a produzir o álbum em meados de 2017 e terminei no ano passado, em especial a parte sonora. Escolhi fazer um financiamento coletivo para que o trabalho tivesse uma organização de lançamento, para conseguir prensar o CD, divulgar de uma maneira mais ampla, por isso senti essa necessidade. A previsão é de que ele chegue ainda no segundo semestre de 2021, mas antes pretendo promover mais duas canções.

A letra do seu novo single, “O fim está próximo”, fala sobre a expectativa de que algo ruim está para acontecer, mas no fim acaba não acontecendo. Dessa forma, fazendo um paralelo com a sociedade atual, você acredita que as pessoas acabam sendo mais pessimistas ou o contrário? 

GABRIEL: Mais do que algo que não acontece, a letra fala sobre como nós pioramos ainda mais uma situação que já não está boa. Eu sinto que o pais está num lugar ruim, principalmente com tudo que tem acontecido politicamente. Claro, a canção tem um paralelo com a realidade atual, mas ela foi escrita em 2016, porém, a expectativa do que está aí hoje já vem desde lá. Portanto, penso que o sentimento vem também disso, mas a canção não foi feita com esse olhar, mas o sentimento está ali, a gente vai construindo a partir das coisas que vamos vivendo.

Videoclipe de “O fim está próximo”, de Gabriel de Almeida Prado. (Youtube)

Nesse disco você traz participações especiais, incluindo alguns ex-alunos do projeto social Escola do Auditório do Ibirapuera. Nesse contexto, como você enxerga a formação de músicos no país e a relevância de iniciativas como esta?

GABRIEL: O álbum nasceu muito das conversas que tive com o Liw Ferreira, que é um dos professores desse projeto social, e também da experiência de trocar sobre música com ele. O considero um grande amigo e parceiro musical, foi ele que me apresentou vários alunos e ex-alunos do projeto.

Eu sinto falta deste tipo de iniciativa, de mais projetos como o da Escola do Auditório do Ibirapuera, que fala de música brasileira e ensina a molecada de uma forma muito séria.

Em relação ao processo criativo, de que maneira concebe as suas composições?

GABRIEL: Meu processo de criação é sempre um diálogo, às vezes silencioso, outras não, entre as pessoas que eu convivo. Portanto, de certa forma há um desejo me comunicar com o outro, mas não necessariamente penso em fazer algo que eu imagine que vá agradar diretamente esse ou aquele, no fim acaba sendo uma construção de querer dialogar mesmo, é como seu eu jogasse uma garrafa no mar esperando que alguém coloque uma mensagem dentro.

A saber, seu primeiro álbum, chamado “A língua e a alma”, traz no título um poema de Antônio Lázaro de Almeida Prado, que é seu avô. Dessa forma, de que modo você se relaciona com a literatura?

GABRIEL: Tenho afinidade principalmente com a poesia, e meu interesse pela palavra veio muito através de um projeto de música e poesia que minha mãe organiza há mais de treze anos, que tem o nome de “Chama poética”. Atualmente, sou um coprodutor deste trabalho junto com ela. O que fazemos lá flerta com todas as artes, mas principalmente a poesia. Por meio desta iniciativa eu conheci muitos artistas e me aproximei de compositores, poetas e foi aí que a faísca da palavra me acendeu.

Gabriel de Almeida Prado é a nova promessa da MPB. (Foto: Claus Lehmann/Divulgação)

Existe algum artista que você curta muito e sonha um dia propor uma parceria musical?

GABRIEL: Nossa, tem tanta gente! Eu admiro muitos artistas, tanto os conhecidos do grande público como aqueles que ainda buscam esse reconhecimento e são tão bons quanto. Mas um cara que eu gostaria de ter uma parceria é o Arnaldo Antunes, um outro nome seria o Tom Zé.

Contudo, de que maneira você tem visto a renovação da MPB e em que medida se enxerga fazendo parte dela? 

GABRIEL: Acredito que na MPB de hoje há um polimento profissional muito bem feito. Para citar alguns nomes que tenho escutado, considero o Daniel Medina um grande compositor, também acompanho os trabalhos da Rhaissa Bittar, Vanessa Moreno entre outros. Esses artistas tem um lugar importante na construção do meu trabalho.

Nesse contexto, eu me enxergo como um compositor que está fazendo música brasileira e tentando construir algo a partir de um olhar que não ignora a música do mundo, mas que também quer falar da sua cultura, do seu olhar, do seu país, tanto com as palavras quanto nos ritmos e melodias.

Em 2018 você foi considerado pelo saudoso Zuza Homem de Melo como uma das promessas da MPB. Sendo assim, como você recebeu essa responsabilidade?

GABRIEL: Foi uma alegria enorme. Conheci o Zuza quando estava na Rádio USP, ele gravava em uma sala ao lado, e assim que deu uma pausa aproveitei para entregar meu CD para que pudesse ouvir. Um ano depois desse encontro eu recebo mensagens de amigos me dizendo que ele havia falado a respeito do meu trabalho. Considero que foi um presente e também uma responsabilidade.

Vídeo “Goela”, lançado em dezembro de 2020. (Youtube)

Estamos há mais de um ano vivendo em uma realidade completamente diferente da que estávamos acostumados. Como tem sido para você criar nesse período de pandemia?

GABRIEL: Esse momento ruim do isolamento me possibilitou compor mais sozinho. Porém, paralelo a isso também acabei criando parcerias que eu não fazia muito, já que minhas composições acabavam sendo com parceiros recorrentes. No entanto, tive a oportunidade de fazer parceiros e até amizades novas através de lives que participei, conheci muitos artistas. Um deles que senti enorme prazer em colaborar foi Jean Garfunkel, amigo de muitos anos, que já foi gravado por Elis Regina, Maria Rita e Zizi Possi, ele é um mestre.

Por fim, acompanhe o Gabriel de Almeida Prado

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Maré do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Rafael Vasco

Um viciado em informação, até mesmo as inúteis. Com dois minutos de conversa, convenço você de que sou legal. Insta: _rafael_vasco
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