A Hora do Show é a obra-prima perdida de Spike Lee

Fábio

Reverenciar a obra de Spike Lee nunca é demais. Pelo contrário. É uma obrigação. Antes de mais nada por ele ser um dos maiores cineastas de todos os tempos. Assim como por estarmos também no mês da Consciência Negra e a sua filmografia é essencial para nos fazer refletir e combater o racismo em todas as suas esferas. Pena que a sua obra mais combativa é, a saber, um dos seus maiores fracassos comerciais. O maravilhoso A Hora do Show (Bamboozled) que, apesar de ter comemorados 20 anos de sua estreia, infelizmente continua muito atual.

Sinopse

O afrodescendente Pierre Delacroix (Damon Wayans) é, antes de mais nada, um executivo de televisão. Bem educado, formado em Harvard, bem como de classe média alta, ele não consegue emplacar em sua emissora um show voltado para a população preta com o seu perfil. Seu chefe Michael Rapaport (Thomas Dunwitty), que por acaso é branco, não concorda com essa iniciativa, pois, segundo ele, que acredita ser mais conhecedor da cultura negra que Delacroix, não é o tipo de show que retrata fielmente a comunidade preta.

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Inconformado com a imposição, Delacroix resolve contratar dois artistas de rua e criar um show de menestréis, extremamente racista, com estereótipos pretos condenáveis como blackface, por exemplo, para ser execrado pela sociedade e, por consequência, ser demitido.

O problema é que o show acaba sendo um sucesso de público, bem como o de crítica e, com isso, seus objetivos vão por água abaixo.

Racismo estrutural

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Brilhante como sempre, Lee, assim, esfrega na cara da sociedade todo tipo de racismo institucional que é denunciado pela comunidade preta e tradada como ‘frescura’ pelos brancos, confortáveis em suas posições privilegiadas. A saber, a pintura blackface é apenas uma das críticas do cineasta. Tudo o que se combate em termos de racismo desde sempre está ali. Ou seja, p preto serviçal, que está ali para dançar e alegrar o ‘senhor’, a associação cruel com o povo preto e estereótipos que os acompanham desde a escravidão, como comer melanciais, roubar galinhas e ser tratado sempre como inferior, porém alegre.

Em A Hora do Show, é visível que Lee está irado e muito radical em seu posicionamento. Sua metralhadora giratória não poupa ninguém. Os brancos que sempre trataram e continuam tratando a população preta com estereótipos, inferioridade, bem como violência física e verbal. Artistas que se posicionam de maneira isenta, por não terem sofrido com racismo e acharem que não é sempre assim. Os negros que aceitam serem tratados dessa forma e evitam o confronto com a população branca.

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Luta por mudanças

A proposta de Lee em A Hora do Show é, antes de mais nada, explícita. Não se pode aceitar mais viver nessas condições e, portanto, mudança é mais do que necessária. Para isso, é necessário um enfrentamento e um debate amplo com toda a sociedade. Bem como envolver diversas etnias, classes sociais, grupos políticos e cidadãos comuns.

Por fim, infelizmente é algo que demanda muito tempo. Só o filme tem 20 anos. E praticamente nada mudou. Precisamos evoluir o quanto antes.

A Hora do Show

Ficha técnica

Título Original: Bamboozled
Estreia: 20 de outubro de 2000
Direção e roteiro: Spike Lee
Elenco: Damon Wayans, Savion Glover, Jada Pinkett Smith, Tommy Davidson, Michael Rapaport, Thomas Jefferson Byrd, Paul Mooney, Sarah Jones, Yasiin Bey, Susan Batson, Quest Love
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Duração: 135 minutos
Gênero: Drama, comédia, musical
Classificação: 18 anos

Fábio

Santista de Nascimento, flamenguista de coração, paulistano por opção. Jornalista, assessor de imprensa viciado em cinema, série, HQ, música, games e cultura em geral.
NAN