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Morre o diretor Jean-Luc Godard, um dos ícones da Nouvelle Vague

Ana Rita

Adieu au Godard: a morte do gênio.

E nesta terça-feira, 13 de setembro de 2022, o mundo se despede de um dos maiores gênios que já existiu: Jean-Luc Godard. O cineasta e pensador francês revolucionou o cinema e o mundo (até porque é impossível desassociar um do outro).

Segundo a agência Reuters, a informação foi confirmada pela mulher do diretor, Anne-Marie Mieville. “Jean-Luc Godard morreu pacificamente em casa, cercado por entes queridos”, informou um comunicado enviado à imprensa francesa. De acordo com o jornal Libération, o cineasta recorreu ao suicídio assistido. “Ele não estava doente, estava simplesmente exausto”, informaram fontes da publicação.

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O mundo chora a morte de Godard

Já ouvi que falar de Godard é falar de cinema, e a afirmativa nunca foi tão assertiva quanto hoje. O mundo chora, se emociona e relembra as obras que o francês deixou. E vale outra afirmativa: o artista se mantém vivo por suas obras e, assim, o cineasta permanece entre nós, seja por suas polêmicas, seus pensamentos e, claro, seus filmes.

Cinema e política

É importante lembrar que tudo é política. Desde o que usamos, ao que vemos, ao que produzimos, e o diretor sempre deixou claro seus ideais. No revolucionário ano de 1968, ao lado de outros grandes diretores, Godard foi um dos líderes da paralisação do Festival de Cannes ao protestar contra o sistema educacional da França. Posteriormente, a edição de 68 terminou por ser cancelada.

“Nós falamos de solidariedade com estudantes e trabalhadores, e vocês de filmagens e close-ups. Vocês são uns idiotas”, Godard.

Nouvelle Vague Francesa

Godard também foi um dos criadores da Nouvelle Vague Francesa, movimento que revolucionou o consumo e as produções cinematográficas. O diretor mudou a sétima arte para sempre. Colocou o cinema nas ruas e levou às ruas ao cinema; pôs a câmera na mão e a deu movimento. Fez cortes e tirou o espectador do conforto.

Acossado: Michel Poiccard, nosso anti herói

Assistir Acossado pela primeira vez no cinema foi, sem dúvida, uma das mais importantes ‘atividades cinéfilas’ que já fiz. Eu já sabia da notoriedade de Godard e do seu primeiro filme para a história do cinema, mas confesso que diante da oportunidade ver em um local destinado a exibição de filmes o tornou mais grandioso (se é que isso é possível). A rebeldia, na contramão do mundo, Jean-Paul Belmondo foi e é um galã da Nouvelle Vague.

Acredito que ali compreendi o que é estar na cinefilia e amar filmes. A inovação, a sua linguagem, pela qual o diretor permitiu amar o cinema e nos transportou pela sétima arte através desse amor.

Godard também era cinéfilo e defendeu o cinema, evidente em Adeus à Linguagem‘, de 2014, um dos últimos filmes do gênio, no qual explora a linguagem cinematográfica, brinca com a tridimensionalidade e mais uma vez ‘faz cinema’.

Polêmico

Brigou com seus amigos: rompimento com Truffaut pelo seu comportamento ‘merda’; não recebeu Agnès Varda durante o documentário “Visages Villages” que diz “eu gosto de você, mas você é desprezivel”.

Seja pelas suas atitudes, pensamentos e filmes, Godard sempre foi muito polêmico, podemos até dizer que entra na categoria de gênios rebeldes incompreendidos e difíceis de lidar.

Faço das palavras do crítico e professor Philippe Leão, ao dizer que a morte de Godard não poderia ter sido mais poética ao evocar o olhar para a ação, ao voyeurismo mais uma vez. JLG escolhe morrer, assim como tenta Alain Delon, decide pela morte assistida.

A morte de Godard e do cinema

A melhor forma de celebrar a vida vivida de Godard é através de seus filmes. Aproveito para indicar Masculin Féminin (1966) e 2 ou 3 choses que je sais d’elle (1967), ambos disponíveis na MUBI. Além destes, não podem faltar Une femme est une femme (1961), com sua musa e ex-esposa Anna Karina; assim como o polêmico Je Vous Salue, Marie (1985).

Infelizmente não estão disponíveis em streaming, mas ficam as indicações de verdadeiras obras-primas o revolucionário Acossado (1960) e a brilhante ficção-científica Alphaville (1965).

Quanto a tudo isso, o que seria do mundo sem Godard?

E agora fica o questionamento do que será o mundo sem Godard.

Fin de cinema

PS.: Deixo aqui uma das melhores participações que o cinema de JLG já teve: Glauber Rocha em Le vent d’est, de 1970.

“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

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Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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