Greta Van Fleet encanta público em sua primeira apresentação no Rio de Janeiro
Fabricio Teixeira
Quando atravessei os portões da Fundição Progresso na última sexta-feira (5), o relógio marcava 23h50. Era uma noite – muito – quente de abril de 2019, e a fila que eu havia enfrentado era gigantesca. Quilométrica. Lá dentro, uma outra atmosfera. Uma outra época. Eram os anos 1970, tenho certeza. As luzes, a fumaça… não vivi os anos 70, isso é bem verdade. Mas acredito que deva ter sido exatamente assim. No palco, Greta Van Fleet, a banda acusada de “parecer demais” com o Led Zeppelin (como se isso fosse ruim).
O show começou quase pontualmente à meia-noite. A escolhida para abrir a noite de estreia no RJ foi The Cold Wind, do primeiro álbum da banda, “Anthem of a Peaceful Army”. O público explodiu mesmo quando a banda encarnou de vez seu espírito setentista e emendou uma sequência com Safari Song, Black Smoke Rising e Flower Power, três faixas do EP “From The Fire”, o primeiro trabalho mais consistente do grupo.
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Um público, aliás, bem variado. Famílias inteiras acompanhando o show como se fosse um programão de sábado; fãs jovens e fãs mais velhos – no melhor estilo “tiozão do rock” – cantavam juntos os sucessos da banda que eu achava até então ser pouco conhecida, ter apenas um público de nicho.
Mas o sucesso é justificável ao ver a banda em ação. A semelhança com o Led Zeppelin se deve ao fato de os rapazes serem, cada um em seus instrumentos, extremamente competentes. Jake Kiszka é um guitarrista fora de série, toca com elegância e virtuosismo, assim como Jimi Page. Josh Kiszka, o vocalista e irmão gêmeo de Jake, é uma mistura muito feliz de Robert Plant com Roger Daltrey, do The Who. Em nenhum momento deixou de agradecer ao carinho do público, e entrou distribuindo flores para os fãs que se abarrotavam próximo ao palco.
O caçula dos Kiszka, o baixista Sam se revezava entre o contrabaixo e o teclado (no melhor estilo John Paul Jones) sabendo dividir a responsabilidade do peso do som com o resto da banda. O ponto alto do show é o único integrante de fora da família. O baterista Danny Wagner é um assombro. Fúria e destreza a serviço de uma bateria tão agressiva que com certeza arrancaria um sorriso de John Bonham. Um solo de bateria depois da primeira música foi o cartão de visitas do músico, mostrando a todos que a noite seria incrível.
Entre riffs espetaculares e a potente voz de Josh – que não se poupou em nenhum momento no palco – a Greta conduziu 1h20 de show, que poderia ser maior, com uma confiança digna de uma banda veterana. A apresentação explosiva terminou com When The Curtains Fall, seguida de Highway Tune, o primeiro single da banda, que já conta com ares de clássico.
Saí da Fundição e me deparei novamente com o ano de 2019. A sensação é um misto de nostalgia com esperança. Saio com a certeza de que Greta Van Fleet não será apenas mais uma banda que surgiu e sumirá na história do rock. Mesmo com a incrível semelhança com o Zeppelin, os rapazes conseguem ter uma identidade própria, algo único. Espero que no futuro eu possa assistir a outra apresentação dessa magnitude e dizer “eu fui ao primeiro show deles no RJ”. Quem sabe como um verdadeiro “tiozão do rock”.
(Foto de capa: Larissa Zanchetta / Rock Press)