‘Homem Onça’, um retrato nu e cru das privatizações no Brasil
Wilson Spiler
Situado no final dos anos de 1990, Homem Onça, filme brasileiro dirigido por Vinícius Reis (Praça Saens Peña), teve roteiro inspirado em uma experiência pessoal do cineasta, cujo pai era gerente da Vale do Rio Doce, empresa privatizada em 1996 no governo Fernando Henrique Cardoso. O pai do cineasta, que trabalhava há duas décadas na companhia, não podia ser demitido e foi forçado a se aposentar. Mas, antes disso, foi obrigado a mandar sua equipe pra rua, causando um efeito tsunami em sua vida.
Sinopse de Homem Onça
No filme Homem Onça, situado na segunda metade dos anos 1990, “era das privatizações”, Pedro (Chico Díaz) tem uma vida estável de classe média com sua mulher Sônia (Silvia Buarque), que procura um emprego, e a filha adolescente, Rosa (Valentina Herszage). Ele trabalha em uma grande empresa estatal que será privatizada em breve.
Pressionado por um cruel processo de reestruturação, Pedro tem que demitir sua equipe e antecipar a sua aposentadoria contra a vontade. Seu corpo parece reagir a isso e manchas estranhas aparecem em sua mão. Aposentado e com uma doença na pele, ele decide se separar da família e se mudar para Barbosa, sua pequena cidade natal. Lá, o protagonista vive com uma nova companheira, Lola (Bianca Byington) e descobre que a onça pintada que habitava a floresta ao redor da região, no tempo da sua infância, está mais viva do que nunca.
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Atuações impactantes
O roteiro, assinado por Reis, em colaboração com Flavia Castro e Fellipe Barbosa, examina como o longo processo de privatização de estatais, no final dos anos de 1990, ressoa na vida dos empregados daquelas empresas. Portanto, a perda da estabilidade, bem como a segurança emocional e econômica de Pedro é um reflexo dessa situação. Assim, ao falar do passado, Homem Onça também é um filme que medita sobre o presente do país, que vive uma nova onda de desestatizações.
O longa traz atuações imponentes de Chico Díaz, Sílvia Buarque, Bianca Byington e Valentina Herszage. Dessa forma, a produção transmite exatamente a sensação de deterioração pela qual passam os funcionários demitidos. Se um dia eram estáveis, no outro estão na rua. A segurança do concurso esvai-se num segundo.
Passado e presente
Além disso, o longa-metragem debate um tema extremamente importante do qual muitas pessoas não têm conhecimento. A reforma administrativa e a privatização dos Correios são somente dois dos exemplos mais recentes de uma triste agenda neoliberal pela qual o “mercado” nos obriga a passar. Equipe menores para trabalhos maiores, sem nenhuma compensação na remuneração. Um mundo cada vez mais estressante, onde os sonhos – sejam lá quais eles forem – ficam pouco a pouco mais distantes.
Dessa maneira, resta nos agarrarmos ao que temos. Ainda que ganhando pouco, trabalhando no que não gosta, assim como passar por situações que não desejaríamos nem para nosso pior inimigo. Enfim, um mundo com menos humanidade, menos caráter e mais egoísta.
Em resumo, o filme Homem Onça reproduz toda a sensação de falta de chão pelo qual essas pessoas passam. Um retrato nu e cru das privatizações no Brasil. Além disso, o título ainda sugere uma bela analogia às onças pintadas, que correm risco de extinção. Assim, a percepção de que nada se pode fazer é compreensível. Mas ficar parado também é caminhar a passos largos para o próprio fim.
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Trailer do filme Homem Onça
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Homem Onça: elenco do filme
Chico Díaz
Sílvia Buarque
Bianca Byington
Emílio de Mello
Valentina Herszage
Tom Karabachian
Alamo Facó
Dani Ornellas
Guti Fraga
Ficha Técnica
Direção: Vinícius Reis
Roteiro: Vinícius Reis, Flavia Castro, Fellipe Barbosa
Distribuição: Pandora Filmes
Data de estreia: qui, 26/08/21
Onde assistir ao filme ‘Homem Onça’: nos cinemas
País: Brasil
Gênero: drama
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos