‘Honeyland’ | CRÍTICA
Jorge Feitosa
A Caçadora de Abelhas.
“Elas dão metade. Nós deixamos metade e fechamos.”
Depois de tanto ouvir a palavra sustentável, que define um processo ou sistema que permite sua permanência por um determinado tempo, a impressão que se tem é que lhe foi dada uma abordagem excessivamente espiritual, a ponto de falarmos dela o tempo inteiro enquanto essa repetição a desgasta até se tornar mais um termo da moda. É como a palavra energia, todo mundo vê energia em todo lugar, até mesmo em pedras que a gerariam espontaneamente.
Mas Honeyland, documentário dos diretores Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, indicado ao Oscar 2020, mostra o verdadeiro nível de esforço para se levar uma vida sustentável, com todos os seus percalços, pequenas alegrias e a pureza de coração da protagonista Hatidze Muratova, a última caçadora de abelhas. Uma atividade que provavelmente só duas ou três pessoas na terra conheciam.
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Sobre ‘Honeyland’
No vilarejo de Bekirlijia, próximo à capital da Macedônia, Skopje, os diretores e sua pequena equipe passaram três anos filmando Hatdize enquanto esta revezava seu dia a dia entre coletar abelhas silvestres para a produção de mel e cuidar de sua mãe, Nazife.
Calejada e desgastada pela labuta, Hatdize ganha ares de feiticeira pela lente dos diretores enquanto manipula suas abelhas entoando cantos e estas respondem ao chamado e se acomodam aos seus cuidados. Mais difícil é cuidar de sua mãe anciã, já velhinha e prostrada.
Mas a paciência da protagonista é colocada à prova com a chegada da família de Hussein Sam, apicultor e pecuarista que vive de forma nômade, explorando de forma predatória os recursos naturais.
Enquanto Hatdize tem o cuidado de deixar sempre metade do mel para suas abelhas e se alegra com os filhos do vizinho, Hussein se vê forçado a produzir cada vez mais pelo seu distribuidor. E se o ser humano se impõe sobre a natureza de uma região, o equilíbrio ecológico fatalmente será derrubado.
Técnica primorosa
E toda a equipe técnica merece os louros da indicação do primeiro filme da Macedônia ao Oscar. Juntando os enquadramentos, a fotografia em luz natural, os cortes precisos na montagem de Atanas Georgiev e o desembaraço das pessoas documentadas, pode-se ver Honeyland como uma obra roteirizada que narra todo um ciclo da vida da personagem principal e seus coadjuvantes, razão da indicação não apenas para melhor documentário, mas para melhor filme estrangeiro.
Dito isso, Honeyland é um filme para ser visto não apenas como uma mera curiosidade sobre o estilo de vida de uma terra distante, mas como a história de Hatdize e suas abelhas, duas espécies tão necessárias à vida na terra, mas aparentemente fadadas à extinção.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Honeyland
Direção: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov
Elenco: Hatidze Muratova, Nazife Muratova, Hussein Sam
País: Macedônia
Gênero: documentário
Ano de produção: 2019
Duração: 89 minutos
Classificação: 12 anos