Crítica de Filme | Steve Jobs
Cadu Barros
Em 2013 um dos maiores empreendedores do século vinte ganhou uma cinebiografia desastrada, protagonizada pelo canastrão Ashton Kutcher (que até hoje fez somente um filme interessante, o intrigante “Efeito Borboleta”). Eis que agora é lançado mais um filme sobre o fundador da Apple, desta vez comandado pelo talentoso Danny Boyle, responsável por obras fenomenais como “Extermínio”e “Sunshine – Alerta Solar”. Desta vez, o protagonista é interpretado magistralmente pelo ótimo Michael Fassbender, o Magneto da nova trilogia dos X-Men. De fato, “Steve Jobs”, que estreia nesta semana, é muito melhor que “Jobs”, o desastre de três anos atrás, mas ainda contém alguns problemas.
O roteiro de Aaron Sorkin, responsável por “A Rede Social”, apresenta-se como uma colagem de longas DR’s, que acontecem sempre antes do lançamento de algum produto idealizado por Jobs. Sim, há bastante tensão na maioria das cenas, mas ficamos com um sentimento de decepção, já que passamos o filme inteiro ouvindo sobre fatos nteressantes da vida do protagonista, mas nunca as vemos acontecer. Por outro lado, os diálogos são inteligentes e repletos de sarcasmo, graças a um protagonista com muitas nuances e contradições.
O elenco é formidável. Fassbender apresenta mais uma grande performance e se consolida como um dos grandes nomes do cinema atualmente. Kate Winslet, Seth Rogen e Jeff Daniels também fazem bonito. Mas quem rouba a cena é Mark Stuhlbarg, que já havia feito o mesmo em “MIB 3” e agora transforma o nerd Andy Hertzfeld em uma figura adorável, o oposto do egocêntrico Steve Jobs.A montagem se destaca pela habilidade como entrelaça fatos ocorridos em épocas distintas de maneira original e orgânica. Em certo momento da projeção, por exemplo, assistimos a dois diálogos ao mesmo tempo envolvendo os mesmos personagens, mas ocorridos em diferentes locais e com um intervalo de tempo de mais de uma década. A fotografia também é inteligente ao colocar Jobs várias vezes em contra-luz, conferindo a ele uma aura ao mesmo tempo misteriosa e divina. E para completar, a trilha sonora é singela e melancólica ao mesmo tempo, conferindo um ar trágico à narrativa.
Portanto, “Steve Jobs” ainda não é a biografia definitiva sobre o controverso empreendedor, mas apresenta elementos interessantes o bastante para valer uma conferida. Ao final, é capaz de o espectador ficar querendo saber mais sobre um homem que provavelmente foi um canalha arrogante, mas deixou um legado indiscutível para a sociedade moderna.
FICHA TÉCNICA