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‘Ilusões Perdidas’ tem trama instigante e direção de arte impecável

Bruno Oliveira

O filme Ilusões Perdidas (Illusions Perdues) é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito pelo francês Honoré de Balzac. A obra foi dividida em três partes, que foram lançadas entre 1837 e 1843. Assim, o autor tenta buscar várias características da França na época em que o livro foi concebido: as intrigas aristocratas, o contraste entre a capital e suas províncias e o lado sujo dos jornais da época que eram em sua maioria cínicos e envolvidos ativamente na política. O longa retrata isso de forma magistral a ponto de ser cruel e com a ousadia de ser uma das melhores coisas lançadas nesse ano em nosso país.

Sinopse

Lucien de Rubempré (Benjamiun Voisin) é um jovem poeta nascido em uma província da França que consegue conquistar com suas palavras a nobre Louise de Bargeton (Cécile de France). Temendo as más línguas ela se muda para Paris, a capital da França, e leva o rapaz junto.

Lá, o protagonista não consegue se adaptar com toda pompa e etiqueta que a cidade pede e logo a nobre mulher o deixa na rua da amargura. Tentando se vingar da vergonha passada, ele irá ascender profissional e politicamente até estar no mesmo patamar de todos que o humilharam. O problema é que fama, dinheiro e poder, podem ter um revés trágico na vida do rapaz.

A sociedade cruel e a ambição de um jovem

A sinopse pareceu longa, mas foi o mais curto que pude fazer em relação ao tamanho dessa história. Poderia chamá-la até mesmo de epopeia, mas nosso protagonista não é um herói digno de feitos incríveis. Ele é apenas um homem comum movido pela mágoa que acaba sendo seduzido pelas maravilhas materiais e imateriais de um mundo de luxo e cheio de falsidade. A ambição do homem atrás do grande amor de sua vida, ao mesmo tempo em que quer mostrar ao mundo como pode ser melhor do que qualquer um, pode enebriar até os mais sábios. Imagina se estivermos falando de um jovem.

Toda vez que vemos um filme que conta a vida de uma pessoa (ficcional ou não), nós temos algumas etapas a serem seguidas. O início humilde, a subida até o sucesso, a queda vertiginosa e, no final, a volta por cima. Seja voltando para humildade ou até mesmo alcançando a redenção. Aqui, não se segue dessa forma. A humilhação vem no início, vê-se a volta por cima e temos um poderoso soco no estômago em seu final. Essa história não é bonita, pelo contrário. É muito cruel, mas serve de lição para todos que não sabem a hora de parar.

Longa duração mesmo

Quando vi a longa duração de 159 minutos (2 horas e 39 minutos), confesso que dei uma revirada nos olhos. Pensei que para um drama desse tamanho, o filme precisaria ser muito bom para me manter entretido e focado por tanto tempo. Amo ser quebrado dessa forma e seu tempo acabou sendo um mero detalhe para o que acabei vendo aqui. Uma história grandiosa, perversa, mas muito verdadeira sobre a sociedade e sobre nós, seres humanos, que, em sua maioria, nunca estão satisfeitos com o que tem.

Vale mencionar também o papel do jornalismo na época. Se nós achamos que as fake news são obras de nosso momento atual, estamos completamente enganados. Incrível como há quase 200 anos isso também era usado a favor e contra a monarquia. A oposição era caçada e a maioria das coisas que se lia nos jornais era para favorecer ou desfavorecer pessoas intencionalmente sem se ater se os fatos eram verdadeiros ou não. Isso me fez lembrar demais do nosso atual momento.

Conclusão

É uma pena que Ilusões Perdidas tenha chegado ao nosso país de uma forma tão silenciosa e sorrateira. Seu lançamento nos cinemas foi pífio, sendo relegado quase que diretamente às plataformas digitais. Menos mal que ainda temos essa opção e, desde já, indico assisti-lo.

O poder da sua história é o suficiente para nos deixar presos na cadeira esperando o que vai acontecer na sequência. Além disso, tecnicamente, o longa é impecável, vide a direção de arte que nos transporta com maestria para uma França que não conhecíamos.