Leia a entrevista exclusiva com o diretor da websérie (In)Comum

Disponível no YouTube - Foto: Reprodução / Reel Dreams Filmes

(In)Comum: entre o sobrenatural e o suspense policial; Conheça a websérie de Rodrigo Alves de Jesus

Vanderlei Tenório

As webséries surgiram no YouTube Brasil há quase 14 anos, diferenciando-se do padrão tradicional da televisão. Este formato audiovisual vem ganhando popularidade globalmente, e no nosso país ocupa uma posição significativa no rol de produções originais da plataforma.

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A busca constante por inovação e criatividade tem aprimorado as webséries em termos de qualidade técnica, produção e roteiro original. Isso reafirma a tentativa da internet de competir com a televisão.

Webséries: o que são?

As webséries, como o próprio nome sugere, são séries transmitidas pela internet. Geralmente são acessadas por meio de sites de compartilhamento de vídeos, como YouTube ou Dailymotion. Muitas vezes são produzidas com recursos limitados, o que lhes confere um caráter artesanal e um tom sarcástico que agrada aos jovens. Elas atraem comunidades de fãs que as acompanham, comentam e aguardam ansiosamente a estreia de cada novo episódio.

As webséries são uma excelente oportunidade para jovens diretores se apresentarem a um público jovem.

O exemplo disso é a websérie de suspense e ficção fantástica (In)Comum, criada, dirigida e roteirizada pelo itapirense Rodrigo Alves de Jesus.

Produção

A série (In)Comum foi inteiramente gravada no município de Itapira, interior de São Paulo. Conta com vários locais de gravação, internos e externos, como casas de amigos do produtor, casarões antigos nos arredores da zona rural do município, lugares abertos e praças da cidade.

A primeira temporada da websérie possui 9 episódios, todos disponíveis no canal do YouTube da Reel Dreams Filmes. A estreia foi em 24 de novembro de 2019.

Algum tempo depois, pensando em melhorar alguns pontos e colocar mais dinâmica entre os episódios, a série foi relançada em 23 de janeiro de 2021, dessa vez com a parceria da Rodrigo Produções.

Segunda temporada

A segunda temporada da websérie já está sendo liberada no YouTube. A nova temporada conta com uma parceria com a Rodrigo Produções, do produtor Rodrigo Filipe. Os novos episódios prometem elementos sobrenaturais mais tensos que a primeira temporada, além de novos personagens.

Enredo da websérie (In)Comum

De acordo com Rodrigo Alves de Jesus, a concepção textual foi um processo progressivo. À medida que ele adquiria informações e buscava inspirações, a história começava a ganhar vida em sua mente.

“Um fato interessante é que eu faço algo como uma engenharia reversa; eu imagino um pouco da história até certo ponto e já começo a escrever o final. A partir do final, eu construo o meio de forma a chegar perto do que imaginei como sendo o início da história. Algumas inspirações estão relacionadas a séries e filmes com temática sobrenatural e investigativa. Também houve inspiração vinda de alguns jogos”, detalha Rodrigo Alves de Jesus sobre seu processo de elaboração de texto.

Superando obstáculos

Para Alves de Jesus, a websérie (In)Comum, além de entregar um conteúdo surpreendente em termos de cinema amador, é a prova viva de que, quando nos reunimos com pessoas que compartilham nossos interesses, propósitos e compromissos, tudo flui de uma forma especial.

Alves de Jesus acredita que, ao invés de esperarmos por oportunidades, nós as criamos. Através disso, a websérie entrega entretenimento e incentivo a outras pessoas, incentivando-as a se levantarem e criarem seus próprios caminhos, mesmo quando ainda estão no meio da neblina do reconhecimento.

É claro que houve obstáculos, mas, graças à união do grupo, sempre havia alguém para ajudar. Alves de Jesus vê (In)Comum como um projeto de entretenimento diferenciado e independente, que também incentiva e apoia outras pessoas.

Leia a entrevista exclusiva com Rodrigo Alves de Jesus:

De onde surgiu a ideia de criar uma websérie?

Eu sempre gostei de audiovisual e atuação e depois de participar em dois curtas, eu tive essa vontade de criar algo. Mas eu não queria uma história curta, com alguns sustos e uma resolução rápida. Eu quis contar uma história um pouco mais longa com começo, meio e fim onde haveria um desenrolar da história unido a um clímax que pudesse prender as pessoas.

Também quis criar minha própria mitologia e uma história onde as pessoas pudessem criar um breve vínculo tanto com os personagens, como com a trama. Dessa vontade é que surgiu (In)Comum onde uni duas coisas que mais gosto; investigação e fenômenos sobrenaturais

A concepção da websérie teve origem em quais inspirações estéticas, temáticas e textuais?

Me inspirei um pouco no que acontecia no início da série Sobrenatural onde havia um ambiente mais cru e simples, mas que tinha uma dosagem bem moderada de aspectos sobrenaturais. Também me inspirei em várias obras independentes que tive contato no decorrer dos anos onde se faz o que se pode fazer, sem muitos recursos e uma produção um pouco limitada.

Quais foram os principais desafios enfrentados ao filmar com recursos limitados no interior?

Falando de um modo mais popular, a limitação de recursos não nos permite “viajar” tanto nos prendendo apenas nos recursos que possuímos. O reconhecimento e a divulgação também são um tanto limitados uma vez que a produção em si é algo 100% independente e sem fins lucrativos.

O que nos ajuda um pouco, são alguns comércios na cidade que nos apoiaram tanto na primeira como na segunda temporada e algumas pessoas que também nos ajudam de forma anônima e que admiram o que fazemos e o nosso esforço. Fora isso, também tivemos uma pequena ajuda de algumas bandas da cidade que nos permitiram usar suas músicas como trilha sonora.

Você tem planos de se envolver em mais projetos do mesmo gênero?

No momento estou apenas focado na terceira e última temporada da websérie (In)Comum, porém já estou conversando com um amigo sobre produzir futuramente um curta envolvendo terror psicológico.

Você veio do teatro, tem vontade de fazer algo dramático?

Vontade de fazer a gente sempre tem. Como um amigo meu uma vez disse: “Quando você é picado pelo bichinho do teatro, você quer fazer cada vez mais e mais”. No entanto, estou encarando uma vida um tanto mais ocupada do que antes e isso torna o envolvimento com algo assim um tanto limitado, já que fazer algo dramático iria requerer um pouco mais de trabalho e dedicação.

Quem sabe um dia, com a cabeça mais leve eu consiga levar em frente alguma peça ou musical.

A série combina habilmente elementos emocionais, drama e ação. Como foi dirigir cenas tão diversas?

Cada tipo de cena demandava um certo cuidado especial onde eu previamente montava os detalhes como o texto, os quadros e ângulos e principalmente a atuação. Eu me imaginava vendo aquelas cenas e procurava extrair vários detalhes para depois passar para quem estava na parte técnica e para os atores e confesso que foi uma mistura de sensações e emoções mesmo dirigindo e sabendo o que iria acontecer na cena.

Na parte de atuação devo mencionar que muito dos atores conseguiram extrair momentos muito emocionais e sinceros durante as gravações e isso me deixava na maioria das vezes de boca aberta.

Pode compartilhar um pouco sobre o que podemos esperar na continuação da série e se haverá outra temporada?

Depois de duas temporadas recheadas de mistério, drama e muita ação, a terceira temporada vai vim para fechar com vários arcos trazendo uma aventura contínua e com inúmeras revelações. Ela será a última temporada, então quero terminar essa tríade de uma forma bem marcante para todos, tanto para quem vai assistir como para quem vai estar participando.

Você está atualmente trabalhando em algum outro projeto?

No momento, apenas dando os toques finais para começarmos a gravar a terceira temporada.

Muitos diretores desenvolvem uma linguagem de criação única. Você, Rodrigo, possui uma abordagem específica que utiliza em suas criações?

Tendo uma base um pouco mais realista da situação e bebendo de fontes como o cinema de guerrilha e o mumblecore, tento produzir da forma mais simples possível, na base do “faça você mesmo” (do it yourself) e ao mesmo tempo uso uma dosagem específica de fantasia de modo que passe o que quero para a história sem nenhum exagero.

Os figurinos, cenários, etc, são os mais normais possíveis, mas com alguns detalhes que passam para quem assiste há sensação de existe algo incomum por trás de tudo aquilo. As falas eu também gosto de deixar o mais natural possível e com cada um com seu respectivo sotaque pois isso valoriza ainda mais os vários Brasis que temos por aqui.

Quais são as principais influências artísticas que moldaram seu trabalho?

Séries como Sobrenatural, Cidade Invisível, Sleepy Hollow e True Detective e filmes como Seven, Constantine, Rejeitados pelo Diabo, Skull – A Máscara de Anhangá, Macabro,etc. Também tive uma forte influência das histórias em quadrinhos de um personagem chamado Spawn. Em questão de livros foram: A Divina Comédia, Paraíso Perdido, Anjos e Demônios e O Colecionador de Ossos.

Você tem algum diretor favorito? Se sim, quem é e por que o admira?

Tenho alguns como Stanley Kubrick, Jordan Peele, James Gunn, José Padilha, etc, mas um que eu realmente admiro e que também me incentivou a dirigir e atuar numa mesma obra foi Spike Lee. Me lembro de assistir “Faça a Coisa Certa” onde ele dirige e atua e achei fenomenal o trabalho que ele produziu fazendo essas duas coisas numa mesma obra.

Existe algum gênero cinematográfico no qual você gostaria de se aventurar?

Apesar de achar difícil (minha opinião pessoal) eu gostaria muito de me aventurar em uma comédia. Mas nossa, imagino que o processo mais significativo e um tanto complexo para isso seria o texto e o timing das piadas. Pode ser que futuramente eu possa tentar algo do tipo como um curta ou algumas esquetes.

Pode compartilhar suas experiências com uma série totalmente para o YouTube?

Olha, desde que eu comecei com isso, eu não criei uma expectativa enorme quanto ao Youtube, então posso dizer que estou até que tranquilo quanto a isso. Sei o quanto é difícil e muito trabalhoso você chegar num patamar de ter inúmeras visualizações e inscritos, então eu tento propagar o canal de forma mais simples como postagens para o Instagram e vídeos para o TikTok e vejo o que acontece.

Independente de ter sucesso ou não, gosto de ter algo ali, numa plataforma que se tornou extremamente popular, uma criação minha que criou vida e me alegro muito quando alguém me para em algum lugar dizendo que assistiu minha websérie no Youtube. Isto vale muito para mim.

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Vanderlei Tenório

Vanderlei Tenório é colunista dos jornais Tribuna do Sertão e Gazeta Regional de Jaguariúna, dos portais 082 Notícias e JB Notícias, do Web Jornal O Estado RJ – OERJ, colaborador do portal Repórter Nordeste, da Revista Alagoana, do jornal Tribuna de Itapira e do site português Cinema7Arte, além de editor da página Cinema e Geografia. Siga o jornalista no perfil pessoal, como colunista e em Cinema e Geografia.
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