Jacob Collier

Jacob Collier celebra o amor no novo álbum ‘Djesse Vol. 3’

Guilherme Farizeli

O cantor, compositor e multi-instrumentista britânico Jacob Collier é uma das figuras mais divertidas e positivas que se pode encontrar por aí. Sua música é linda, complexa e, ao mesmo tempo, totalmente acessível. E essa afirmação é mais real do que nunca na terceira parte de Djesse (uma sacada com a sonoridade, no melhor inglês britânico, das iniciais JC), audacioso “álbum quádruplo” desse ganhador do Grammy que não tem medo de arriscar.

Cada um dos lançamentos apresenta um novo horizonte musical mais excitante e colorido que o outro. Além disso, as músicas são compostas e, em grande parte, gravadas no quarto do músico que fica no Norte de Londres. Local de sua infância onde ele exibe seus quatro gramofones dourados expostos de forma despojada em cima de um de seus pianos.

Jacob Collier
Jacob e sua coleção de Grammys (reprodução Facebook )

No Vol. 1 (lançado em 2018), somos apresentados a um universo musical de proporções épicas, onde Collier conta com a Metropole Orkest, conduzida por Jules Buckley, enquanto, No Vol. 2 (lançado em 2019), impera uma vibe minimalista, com utilização de instrumentos acústicos e uma sonoridade que remete ao folk e ao world music.

Nesse álbum, já podemos sentir um pequeno flerte com aquele R&B gostoso que viria mais adiante, especialmente em faixas como “Feel” (que conta com a incrível participação da mais incrível ainda Lianne La Havas) e “It Don’t Matter”.

Capa de Djesse Vol. 3 (reprodução Facebook)

Terceira parte da obra também é a mais pop

Em Djesse Vol. 3 (lançado no dia 14 de agosto), Jacob Collier nos apresenta um novo universo, com a utilização de mais sons eletrônicos, ritmos dançantes, subvertendo a realidade da própria música eletrônica e dando-lhe uma organicidade muito especial.

Para os fãs mais hardcore, a polirritmia e microtonalidade estão lá, como sempre, porém, em formatos inegavelmente mais palatáveis para todas as audiências.

É uma afirmação estranha, tratando-se de Jacob Collier, mas Vol. 3 certamente é o álbum mais pop de todos que o músico lançou até aqui. E os maiores acertos do disco estão justamente na conexão com aquele groove e R&B que pintaram de forma embrionária no Vol. 2.

Na faixa “In My Bones” (com participações de Kimbra e do grupo Tank and the Bangas) o baixo com slap conduz a música em um ritmo intenso, dançante, que realmente faz com que você sinta o “funk até os ossos”.

Em “Time Alone With You”, Collier e o cantor/compositor canadense Daniel Caesar contam uma deliciosa história de amor com um groove in the pocket para ninguém botar defeito. É a música mais sexy do disco, sem dúvida, aquela que você ouve dançando só com a cabecinha (você sabe como é).

Girl power também marca presença no álbum

Logo na sequência, outra pérola do álbum, “All I Need”, com a participação da cantora Mahalia e do cantor/compositor Ty Dolla $ign. A canção é mais uma celebração ao amor e ao romance (I love the illumination you bring to all the ordinary things I found), dançante, animada, com uma harmonia planejada com o único propósito de provocar o bem-estar do ouvinte.

No refrão, uma explosão de teclados, sintetizadores, camadas e mais camadas de vozes, todas sob o alicerce da linha de synth bass que expande o horizonte do ouvinte e dá aquela arrepiada. Aliás, o synth bass é um dos destaques do álbum, o camisa 10 do trabalho.

Enfim, a canção realmente sobe de nível quando cada um dos refrões explode e é muito bom ouvir esse recurso da música pop sendo utilizado com tanta maestria e musicalidade.

Na faixa “Running Outta Love”, a participação da cantora Tori Kelly faz dessa faixa outra delícia.

Seguindo a mesma vibe do R&B, mas com muitas variações ritmícas, a acentuação do groove muda a cada compasso, provocando novas sensações no ouvinte.

A belíssima “He Won’t Hold You” vai na contramão de outras faixas do disco e fala de uma forma muito sensível sobre uma separação (It’s been so long since your body held me / won’t you come and save me?). A sonoridade minimalista e as lindas camadas de vozes dão o tom da canção, sem deixá-la cair no marasmo.

Na faixa, a rapper Rapsody declama alguns dos versos mais bonitos do álbum (I learn the value of what we had taught by pain / took separation to get closer to you). Destaco ainda as animadíssimas “Sleeping on my Dreams” e “Count The People”.

https://www.youtube.com/watch?v=WZNhesJvQUA

O mágico que não esconde seus truques

A genialidade de Jacob Collier pode ser percebida em cada um de seus trabalhos e também na forma como ele se comunica, pois ele fala com o coração e através da música. Não raramente o músico promove lives com mais de uma hora de duração em seu canal do YouTube, destrinchando suas gravações, instrumento por instrumento.

Além disso, o músico detalha suas ideias para as músicas e toda a arquitetura por trás de estruturas tão complexas, entretanto, o faz com a simplicidade quem solta pipa ou anda de bicicleta.

Ele nos conta como utiliza sons de instrumentos de brinquedo e outras curiosidades como o sample (presente em todos os volumes de Djesse até aqui) das palmas do público durante um show seu em Manchester. Ou até mesmo a eventual participação vocal de sua mãe e irmãs em algumas faixas.

Cantor deve voltar aos palcos em breve (Foto: Reprodução Facebook)

Jacob Collier no Brasil?

Com a pandemia, a turnê para promover o álbum acabou sendo adiada para 2021. Entretanto, ontem o músico divulgou em suas redes sociais uma lista de espera para seus shows, sem nenhum tipo de cobrança prévia.

Dessa forma, as datas e locais podem ser planejados conforme a demanda. Entre dezenas de cidades que o músico pretende visitar, Rio de Janeiro e São Paulo estão na lista. Eba!

Em conclusão, Djesse Vol. 3 é mais uma obra-prima do músico e vale sua audição, querido leitor, com carinho. Só não esqueça de dançar muito e de celebrar o amor!

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
NAN