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6 filmes para conhecer Jane Campion, favorita ao Oscar de Melhor Direção

Vanderlei Tenório

A conexão de Jane Campion com as artes e os filmes está no DNA. Junto de seus irmãos Anna e Michael, a cineasta cresceu na coxia de um teatro na distante Nova Zelândia, por conta de seus pais Richard (diretor de teatro e professor de interpretação) e Edith (atriz e dramaturga) terem fundado a companhia teatral New Zealand Players – a New Zealand Players foi uma das primeiras companhias de teatro profissional da Nova Zelândia.

Entretanto, inicialmente, a diretora renegou a ideia de seguir carreira nas artes dramáticas, formando-se em Antropologia, em 1975.

No entanto, Campion não conseguiu fugir de suas raízes. Em 1976, matriculou-se na Chelsea Art School, de Londres. Mais tarde, ela obteve um diploma de pós-graduação em artes visuais pela Sydney College of the Arts, da Universidade de Sydney, em 1981.

Seu cerne artístico foi moldado em parte por sua educação na Sydney College of the Arts, citando a célere pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) e o provocativo escultor alemão Joseph Beuys (1921-1981), como suas grandes influências.

Jane Campion no mundo dos filmes

Ainda assim, sua insatisfação com as limitações da pintura levou-a ao cinema e à criação de seu primeiro curta-metragem, “Tissues”, em 1980. Nesse sentido, em 1981, ela começou a estudar na Australian Film, Television and Radio School. Lá produziu dezenas de outros curtas e se formou, em 1984.

A fama em seu país chegou com “Sweetie”, de 1989. O filme lhe rendeu destaque no Festival de Cannes e foi premiado no Independent Spirit e no AACTA Award

Jane começou a se destacar internacionalmente com “Um Anjo em Minha Mesa” (1990). Mas seu sucesso veio apenas quatro anos depois, com o espetacular “O Piano” (1993), longa que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original e uma nomeação ao Oscar de Melhor Direção. Os dramas “The Portrait of a Lady” (1996) e “Ataque dos Cães” (2021), são outros destaques de sua carreira.

Em sua célere filmografia, alguns temas e elementos são recorrentes. Como adaptações de densas obras literárias; bem como o erotismo; o impacto do poder entre homens e mulheres que permeia as relações sociais; os conflitos geracionais entre integrantes de uma mesma família; as relações sociais simbolicamente construídas; os personagens que lidam com algum tipo de opressão ou abuso psicológico; a forte presença da natureza e de paisagens na construção dos estados emocionais; e os espaços vazios deixados pelas mudanças, por exemplo.

Perfeccionista

Campion é perfeccionista com todas as minúcias do processo de produção. Ela também é criteriosa com a parte técnica de suas produções, sobretudo, com a fotografia, direção de arte, figurino e a trilha sonora. Até o momento, a neozelandesa dirigiu oito longas, vários deles escritos, coescritos e adaptados por ela mesma.

A neozelandesa fez história ao ser indicada a Melhor Direção no Oscar 2022 pelo filme “Ataque dos Cães” – recordista de indicações no Oscar 2022, com 12, ao total. O longa foi indicado a Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Fotografia e às categorias de atuação. Nesse aspecto, Ari Wegner, diretora de fotografia do filme, é apenas a segunda mulher a ser indicada na categoria de Melhor Fotografia na história da premiação.

Além disso, Campion é a primeira mulher a ser indicada duas vezes na categoria ao longo de sua carreira. Como comentei acima, sua primeira nomeação veio em 1994 pelo longa “O Piano”, que não levou o prêmio de realização, mas venceu na categoria de Melhor Roteiro Original.

Em 1994, ela foi a segunda mulher indicada na categoria – sua indicação ocorreu quase 20 anos após a nomeação da primeira mulher. A primeira foi Lina Wertmüller, nomeada em 1976, por “Pasqualino Sete Belezas”.

Mulheres no Oscar

Felizmente, nos últimos anos, as mulheres têm sido melhor representadas na categoria. Em 2021, pela primeira vez na história do prêmio, duas mulheres foram indicadas ao prêmio de direção: Emerald Fennell por “Bela Vingança”Chloé Zhao por “Nomadland”. Outras mulheres já indicadas na categoria: Sofia Coppola por “Encontros e Desencontros” Greta Gerwig por “Lady Bird”.

Em 2022, ela tem a chance de ser a terceira mulher a vencer na categoria na história da premiação, após as vitórias de Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” – a primeira mulher a ganhar o prêmio de melhor diretora, e Chloé Zhao pelo elogiado “Nomadland”.

Nesta edição, a neozelandesa enfrentará Paul Thomas Anderson com seu incrível trabalho em “Licorice Pizza”Kenneth Branagh com seu intenso drama familiar “Belfast”Steven Spielberg com sua versão do clássico “West Side Story” e o japonês Ryûsuke Hamaguchi com o sublime “Drive my Car” – Spielberg já venceu Campion em 1994 com “A Lista de Schindler”.

Abaixo, o ULTRAVERSO lista seis filmes para quem quer conhecer ou se conectar mais com a obra da excepcional Jane Campion.

Filmes de Jane Campion

O Piano (1993)

Campion tornou-se a primeira diretora a ganhar a Palma de Ouro em Cannes com este longa que também liderou a votação de 100 melhores filmes dirigidos por mulheres de todos os tempos promovida pela BBC em 2019. Holly Hunter interpreta Ada McGrath, uma mulher muda enviada à Nova Zelândia do século 19 para um casamento arranjado. Junto com ela viajam sua filha e seu bem mais precioso: um piano. O filme ganhou três Oscars: roteiro original para Campion, melhor atriz para Hunter a atriz coadjuvante para Anna Paquin (na época com apenas nove anos).

Para Campion, em “O Piano”, a mudez, mais do que uma deficiência pessoal, significa a impossibilidade da mulher de expressar-se pela palavra. A música torna-se, assim, um derivativo, uma maneira de driblar a opressão de um universo masculino e fechado à compreensão da feminilidade. Nisso, não há gratuidade na ambientação do filme numa Nova Zelândia ainda em fase de colonização: a rusticidade do local compõe o quadro ideal para Campion desenvolver seu tema.

Retratos de uma Mulher (1996)

O longa é baseado em um livro de Henry James (1843-1916). É estrelado por Nicole Kidman que interpreta Isabel Archer, uma decidida jovem americana que visita parentes na Europa dos anos 1870. Cobiçada por vários pretendentes, ela quer conhecer o mundo e a si mesma antes de se casar. Até que uma herança inesperada e um relacionamento com um homem sedutor alteram seus planos.

Em 1997, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Barbara Hershey) e Melhor Figurino (Janet Patterson).

Em “Retratos de uma Mulher”Campion alcança o ápice ao criar cenas esteticamente impactantes, para o que colabora a impecável e detalhista reconstituição de época e a fotografia inesquecível do neozelandês Stuart Dryburgh.

Fogo Sagrado! (1999)

Harvey Keitel voltou a trabalhar com Campion neste drama exibido no Festival de Cannes e protagonizado por Kate Winslet. Ela interpreta Ruth, uma jovem australiana que entra para um culto religioso durante visita à Índia. Tentando reverter o processo, os pais de Ruth inventam uma mentira para que ela volte à Austrália e contratam PJ Waters (Keitel), um especialista em “desprogramar” convertidos. O argumento foi escrito pela diretora em parceria com sua irmã, Anna Campion.

“Fogo Sagrado” não chega a ser um ótimo filme, mas merece ser visto. O filme peca um pouco por seu argumento não tão bem estruturado, o que é uma surpresa, já que Campion ganhou um Oscar de Melhor Roteito Original por seu magnum opus “O Piano”, em 1993.

Em Carne Viva (2003)

Na época de seu lançamento, o longa foi mal recebido pela crítica especializada. A polêmica central foi a escalação de Meg Ryan, tida como “namoradinha da América”, em um thriller erótico com cenas de sexo e nudez.

Felizmente, nos últimos anos, muita gente tem revisitado o polêmico cult. “Em Carne Viva” foi escrito por Campion, em parceria com Susanna Moore e Stavros Kazantzidis. A história é centrada em Frannie Avery, professora ouvida pela polícia local após uma jovem ser assassinada perto de onde ela mora. Aos poucos, Frannie se envolve cada vez mais com a investigação e com o detetive responsável, interpretado por Mark Ruffalo.

Em “Em Carne Viva”Campion procura desenvolver dois temas nada estranhos à sua obra, sendo o primeiro destes temas a grande diferença entre homens e mulheres no que diz respeito ao amor. Ao longo da projeção, a cineasta retrata todos os personagens masculinos como indivíduos instáveis e pouco confiáveis, contrastando com a natureza romântica e sonhadora das figuras femininas que costumam desiludir.

Infelizmente, a necessidade de se concentrar nos elementos policiais da trama acabam impedindo que a diretora se aprofunde nas discussões pelas quais obviamente se interessa, transformando o filme em uma experiência fria e sem foco.

Brilho de uma Paixão (2009)

O longa é a adaptação de uma biografia do poeta inglês John Keats (1795-1821) escrita por Andrew Motion. A diretora focou o filme nos três últimos anos da vida do escritor e em seu relacionamento com a jovem Fanny Brawne (1800-1865), interpretados no filme por Ben Whishaw e Abbie Cornish.

O longa integrou a competição oficial do Festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino, novamente assinado por Janet Patterson.

No roteiro de “Brilho de uma Paixão”, Campion não fez muito na tarefa de fascinar o público com as poesias de John Keats, algo comum em trabalhos biográficos que se dedicam mais em esmiuçar a pessoa e menos o seu trabalho.

No entanto, no quesito cênico, ela usufruiu desse respiro de contemplação com tomadas que, graças a um trabalho técnico arrebatador e o desempenho de Abbie Cornish.

Ataque dos Cães (2021)

Irmãos e parceiros de negócios, Phil (Benedict Cumberbatch) e George Burbank (Jesse Plemons) administram o rancho de seus pais juntos, mas não poderiam estar mais separados. Por um lado, Phil é grosseiro e sujo, recusando-se a tomar banho na banheira da casa enquanto conduz rudemente os trabalhadores do rancho; o cão alfa caubói clássico sem o tiroteio. 

George é quieto e culto, suas roupas imaculadas e elegantes se projetando em meio a um mar de planícies de Montana (principalmente filmadas na Nova Zelândia) e lacaios corpulentos que preferem respeitar laços e calças em vez de gravatas borboleta e graxa de sapato. Enquanto Phil pode encorajar seus homens a intimidar seu irmão, chamando-o abertamente de “gordo”, os dois dividem um quarto, Phil está bêbado com a necessidade parasitária de seu irmão por ele.

Há um vínculo sensível, mas tácito, entre os dois homens, então, quando George de repente se casa com Rose (Kirsten Dunst), uma viúva suicida que administra uma pousada, ele fica furioso. Como essa mulher se atreve a entrar na família, especialmente considerando a disparidade financeira entre os recém-casados. O filho adolescente de Rose, Peter (Kodi Smit-McPhee) faz parte do pacote e é tudo menos normal, sua estranha estranheza chamando a atenção da ira reprimida de seu novo tio.

Tensão

Em “Ataque dos Cães”Campion cozinha lentamente uma tensão palpável que resulta em um final não tão óbvio, mas não muito surpreendente, encerrando uma jornada definida por sua esperança melancólica e fúria digna.

O longa é amplamente considerado um dos melhores filmes do ano, mas isso não significa que ele se revelará a você na primeira vez que você assistir. Em linhas gerais, o filme começa como um western, flerta com se tornar um romance e, no final, revela-se como um thriller lento, completo com uma surpresa, cuja resposta é sugerida quase tão sutilmente quanto o próprio assassinato. O filme foi nomeado ao Oscar 2022 nas categorias: Melhor Filme (Jane Campion, Tanya Seghatchian, Emile Sherman, Iain Canning e Roger Frappier), Melhor Direção (Jane Campion), Melhor Ator (Benedict Cumberbatch), Melhor Ator Coadjuvante (Kodi Smit-McPhee e Jesse Plemons), Melhor Atriz Coadjuvante (Kirsten Dunst) e Melhor Roteiro Adaptado (Jane Campion).

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Vanderlei Tenório

Vanderlei Tenório é colunista dos jornais Tribuna do Sertão e Gazeta Regional de Jaguariúna, dos portais 082 Notícias e JB Notícias, do Web Jornal O Estado RJ – OERJ, colaborador do portal Repórter Nordeste, da Revista Alagoana, do jornal Tribuna de Itapira e do site português Cinema7Arte, além de editor da página Cinema e Geografia. Siga o jornalista no perfil pessoal, como colunista e em Cinema e Geografia.
NAN