Jards Macalé volta ao Circo Voador e justifica o apelido de Professor
Fabricio Teixeira
Uma Lapa fria e chuvosa serviu de cenário para o retorno de Jards Macalé aos palcos do Circo Voador. Depois de quase dois anos longe do calor do público, o artista voltou a apresentar a turnê do seu último disco, o sensacional “Besta Fera”, lançado em 2019 e indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”.
Acompanhado de Pedro Dantas no baixo; Guilherme Held na guitarra; Marcelo Callado na bateria; e com contribuições luxuosas no pandeiro e na voz de Thai Halfed; um mascarado Jards entrou no palco sendo ovacionado por um Circo Voador que, embora não estivesse lotado, manteve a energia alta do início ao fim. Apesar desse início cênico, o show conserva pouco do clima presente no último trabalho. Enquanto o disco mantém um aspecto soturno, em perfeito casamento com as letras um tanto herméticas, o show é uma festividade, que celebra a carreira de um artista que sabe como poucos se divertir na mesma medida que diverte o público.
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Pura festa
Jards no palco é uma pura festa, entre dissonâncias – propositais – e experimentações que ele consegue tornar familiares aos nossos ouvidos mortais. Mesmo quando fica sozinho no palco, parece uma multidão. Munido apenas de seu violão e de sua peculiar voz, o artista hipnotiza a casa, criando um clima de comunhão através de suas músicas. Ou melhor, de seus hinos. Porque um artista do quilate de Macao, mesmo não tendo – injustamente – o mesmo destaque de seus contemporâneos, é o autor de um verdadeiro hinário da música brasileira.
E estavam quase todos os sucessos lá: “Let’s Play That”, parceria com Torquato Neto; “Farinha do Desprezo”, parceria com Capinam; a visceral “Soluços”, parceria com Duda; e as parcerias com seu grande parceiro, Wally Salomão; “Farinha do Desprezo” e “Vapor Barato”, que criou uma catarse coletiva no Circo Voador.Um dos poucos pontos negativos do show foi o setlist não ter incluído outras pérolas de sua carreira, como “Gotham City”, “78 Rotações” e “Hotel das Estrelas”, bem como a belíssima “Buraco da Consolação”, composição de Tim Bernardes; e umas das músicas mais bonitas do “Besta Fera”.
Bis
No bis, ele voltou sem o violão, como um verdadeiro bandleader para cantar a balada rock and roll de Walter Franco, “Canalha”; que ele aproveitou para dedicar ao governo federal. Saiu do palco ovacionado e agradecido, saltitante como uma criança que teve um dia feliz de brincadeira. Talvez esteja aí o segredo da longevidade. Por fim, o incansável Macalé, se firma como a besta-fera que segue encantando o Brasil com sua poesia cada vez mais afiada, e justifica o apelido de Professor: durante quase duas horas ele deu uma aula de música no Rio de Janeiro.
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