‘Jesus Kid’ faz rir diante da nossa atual surrealidade
Wilson Spiler
Com roteiro original de Aly Muritiba e protagonizado por Paulo Miklos, Jesus Kid é uma comédia de costumes baseada no livro de Lourenço Mutarelli. Embora o romance tenha sido lançado no início dos anos 2000, a adaptação para o cinema faz uma crítica tanto ao mercado editorial quanto cinematográfico, e mostra como a realidade superou – e muito – a ficção. Ainda mais no Brasil atual.
Na trama, Miklos é Eugênio, um escritor de pocket books de Western, que atravessa uma fase difícil. Seu personagem mais famoso, Jesus Kid, está indo mal de vendas e a editora ameaça parar de publicá-lo. Então aparece o que poderia ser a sua salvação. Ele é contratado por um produtor e um diretor de cinema para escrever o roteiro de um filme. O único problema é que ele tem que escrever este roteiro dentro de um hotel luxuoso, do qual, por contrato, não pode sair por três meses.
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Muitas referências ao Brasil atual
Essa é a sinopse oficial, mas no meio desse enredo aparentemente comum, o filme aborda as situações que o Brasil contemporâneo enfrenta. Desde a ideia de uma república cristã até mesmo o golpe contra a ex-presidenta, bem como donos de lojas que se vestem de maneira exótica e liberais (ou ancaps) fascistas. São tantas referências ao nosso cotidiano, que fica até difícil enumerá-las. Temos o pato da Fiesp, o presidente genocida, os influencers, a romantização da pobreza, entre outros destaques.
Sem citar nomes, Jesus Kid traz outras indicações bem claras ao patamar que o Brasil atingiu, inclusive no título, onde faz uma analogia à política de armamento que o atual presidente defende, com o discurso corroborado por padres, pastores e cidadãos que se dizem cristãos. Além disso, faz associação à americanização dos nossos padrões, endeusando personagens típicos do faroeste da terra do Tio Sam, bem como a violência gratuita tão presente em produções hollywoodianas. Em determinado momento, o protagonista chega a quebrar a quarta parede para dizer: “É violência que vocês querem, né? Então vocês terão”.
Rir para não chorar
O elenco, em geral, vai muito bem, se entregando ao absurdo do roteiro, tornando os personagens, de fato, verdadeiras paródias deles mesmos. Mas vale destacar os dois célebres protagonistas Paulo Miklos e Sergio Marone, intérpretes de Eugênio e Jesus Kid, respectivamente. As cenas em que o caubói aparece, então, são hilárias. É um “herói” que retrata piamente o estado caótico do país.
Enfim, Jesus Kid é um filme divertidíssimo, que não tem medo de ousar, tanto estética quanto textualmente, transformando o que seria uma história simples em uma trama dentro da outra. O longa também não tem receio de parecer ridículo. Aliás, o faz propositalmente, indo ao encontro da situação que vivemos atualmente. É um cotidiano tão surreal que nem o autor mais criativo teria coragem de escrevê-lo, mas o fez. Então vamos rir para não chorar.
Onde assistir ao filme Jesus Kid?
A saber, Jesus Kid estreia nesta quinta-feira, 9 de junho de 2022, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
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Trailer do filme Jesus Kid
Jesus Kid: elenco do filme
Paulo Miklos
Sergio Marone
Maureen Miranda
Leandro Daniel
Luthero Almeida
Fábio Silvestre
Otávio Linhares
Ficha técnica do filme Jesus Kid
Direção: Aly Muritiba
Roteiro: Aly Muritiba
Duração: 88 minutos
Gênero: comédia
País: Brasil
Ano: 2021
Classificação: 14 anos