Jurassic Park Teoria do Caos

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Jurassic Park e a Teoria do Caos

Vanderlei Tenório

A Teoria do Caos, inicialmente descrita pelo matemático e astrónomo francês Henri Poincaré, propõe que um evento ou circunstância pequena e aparentemente insignificante pode desencadear um impacto significativo na evolução futura de um sistema grande e complexo.

Um exemplo emblemático desse conceito é o “Efeito Borboleta”, frequentemente associado à história “A Sound of Thunder”, escrita em 1952 pelo autor de ficção científica Ray Bradbury.

Na trama, um homem viaja ao passado remoto com o objetivo de caçar um Tyrannosaurus rex, mas acidentalmente pisa numa borboleta. Ao retornar ao presente, ele percebe que esse ato aparentemente insignificante teve consequências catastróficas, alterando drasticamente o curso da história de forma negativa.

Desafio para a física clássica

No artigo “Entenda a teoria do caos e o efeito borboleta, que ajudam a explicar o Universo” para a BBC News Mundo, Carlos Serrano destaca que a Teoria do Caos representou um desafio significativo para a física clássica, baseada nos princípios estabelecidos por Isaac Newton. Segundo esses princípios, conhecendo as condições iniciais de um sistema, é possível prever seu comportamento futuro com relativa facilidade. Em outras palavras, as leis de Newton são determinísticas e permitem a previsão de movimentos, como os dos planetas ou a trajetória de uma bala.

Serrano também salienta que a Teoria do Caos adverte que pequenas variações nas condições iniciais podem tornar as previsões impossíveis à medida que o tempo avança. Apesar das leis de Newton sugerirem que previsões precisas são viáveis com dados perfeitos, na prática, a teoria do caos nos ensina que, devido à impossibilidade de obter dados perfeitos, as previsões acabam por se tornar inviáveis.

A teoria em si

Os pesquisadores Djeferson Pereira de Sousa, Julio Klafke e Ailton Marcos Bassini, do CienTec-USP, destacam que além de ser uma simples teoria científica, a “Teoria do Caos” representa um estudo científico de grande importância nos dias atuais. Esta teoria é aplicada em praticamente todas as áreas do conhecimento humano, desde as ciências exatas até as ciências humanas. Eles reiteram que a ideia central por trás dessa teoria é que uma pequena alteração no início de um evento pode resultar em consequências vastas e imprevisíveis ao longo do tempo.

Para ilustrar isso, consideremos o seguinte exemplo: o pai de uma criança perde o prazo para matricular seu filho na escola “A” devido a um problema com uma peça faltando no carro. À primeira vista, isso pode não parecer um grande problema, já que o pai resolve a situação matriculando seu filho em uma escola de outro bairro.

No entanto, essa decisão resulta em seu filho fazendo amizades diferentes das que teria na escola “A”, tendo professores que influenciarão diretamente seu processo de aprendizagem e, possivelmente, desenvolvendo interesses distintos. Em suma, a vida do filho será completamente alterada devido a um pequeno problema mecânico no carro.

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Jurassic Park

Tendo em mente o exemplo acima, a Teoria do Caos surge como um elemento central nos filmes da franquia Jurassic Park (1993-2001) e sua subsequente sequência Jurassic World (2015 – presente), os quais exploram a ideia de que o ser humano não deve assumir o papel de Deus nem tentar dominar a natureza, reconhecendo que toda ação gera uma reação, conforme a terceira lei de Newton. Como expressou o matemático Ian Malcolm, interpretado por Jeff Goldblum no primeiro filme da série Jurassic Park: “A vida, sempre encontra um caminho”.

Numa perspectiva mais ampla, para além da franquia de Spielberg, essa teoria é frequentemente abordada em outros filmes de ficção científica especulativa, especialmente em histórias de desastre ou thriller. No universo dos filmes Jurassic Park e Jurassic World, corporações poderosas e corruptas contratam cientistas renomados para ressuscitar dinossauros visando lucro e entretenimento, sem considerar os impactos no equilíbrio ecológico.

Em cada filme, os dinossauros se revelam uma força indomável, resultando em caos e consequências devastadoras para aqueles que tentam controlá-los. No primeiro filme, “Jurassic Park” (1993), os dinossauros escapam e causam mortes no parque; no segundo, “O Mundo Perdido” (1997), tentativas de captura levam a desastres imprevistos.

Você precisa ver isso:

Jurassic World

Os filmes da sequência Jurassic World exploram ainda mais essa teoria.

No primeiro filme, “O Mundo dos Dinossauros” (2015), um parque em pleno funcionamento entra em colapso quando tentam criar geneticamente um “super dinossauro” chamado Indominus Rex.

Em “Reino Ameaçado” (2018), um leilão ilegal de dinossauros resulta na morte da maioria dos envolvidos. A instalação de Dodgson da BioSyn é destruída (e o próprio Dodgson é morto por Dilofossauros), enquanto em “Domínio” (2022), ocorre a manipulação genética de dinossauros para estabelecer um monopólio na cadeia alimentar.

Tais ações e seus resultados subsequentes exemplificam parte do que os matemáticos Franciele Fey e Jarbas André da Rosa exploram no artigo “Teoria do caos: a ordem na não-linearidade”. Eles discutem como o Caos desafia nossas convicções mais profundas e nos motiva a questionar nossa própria realidade. Neste cenário, a sociedade contemporânea revela uma tendência obsessiva em tentar prever, controlar e manipular todos os aspectos do ambiente ao seu redor.

Além disso, os sistemas caóticos e não-lineares presentes na natureza, na sociedade e em nossas vidas estão além de nossa capacidade de controle. Uma pequena mudança no início de um evento pode acarretar consequências enormes e completamente imprevistas no futuro, como visto em “Domínio” (2022).

Dilemas éticos

Em síntese, a proposta de ressuscitar dinossauros ou outras espécies extintas levanta sérios dilemas éticos, além de apresentar o potencial para desencadear um caos com consequências imprevisíveis, como ilustrado pela Teoria do Caos. Exibir esses animais em zoológicos ou parques temáticos, como visto em “O Mundo dos Dinossauros” (2015), claramente não é uma solução adequada. Portanto, por enquanto, é mais sensato deixar os dinossauros “seguros” no passado.

Enfim, para concluir, recorro novamente ao Dr. Malcolm: “Só porque você pode, não significa que você deve”.

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Vanderlei Tenório

Vanderlei Tenório é colunista dos jornais Tribuna do Sertão e Gazeta Regional de Jaguariúna, dos portais 082 Notícias e JB Notícias, do Web Jornal O Estado RJ – OERJ, colaborador do portal Repórter Nordeste, da Revista Alagoana, do jornal Tribuna de Itapira e do site português Cinema7Arte, além de editor da página Cinema e Geografia. Siga o jornalista no perfil pessoal, como colunista e em Cinema e Geografia.
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