‘Kevin’ se destaca pelo trivial
Bruno Oliveira
Comecei a assistir Kevin sem saber que sua proposta inicial era de ser um documentário. Quando não conheço o longa, prefiro ficar assim para ter uma surpresa mais genuína sobre o que estarei vendo. Essa surpresa veio e não sabia nada do que esperar dele. Sua linguagem documental me chamou a atenção e comecei a ver que os atores eram muito genuínos. Isso porque não eram atores, eram as pessoas sendo elas mesmas na vida real. E digo que isso me pegou de uma certa forma positiva.
Sinopse
Joana Oliveira é uma cineasta brasileira que resolve visitar sua melhor amiga Kevin Adwego em Uganda. Elas se conheceram há mais de 20 anos quando estudaram juntas na Alemanha. E já faz um bom tempo que elas não se veem. A partir da realização desse encontro, o longa nos leva para as maiores conversas triviais entre duas amigas. Entre esses assuntos, temos as histórias do passado, os caminhos trilhados por cada uma, filhos, racismo e os desejos de cada uma para o futuro.
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O trivial como seu ponto forte
Eu nunca tinha visto um documentário nesses moldes. Em seu início, vemos a vida cotidiana de Joana no Brasil, e como a protagonista se mostra um pouco infeliz. Ao falar com sua amiga que quer sua visita, ela resolve ir e tirar um tempo para si. Isso me pegou porque eu realmente não sabia que era tudo vida real e nem que se tratava de um documentário. Tudo me soou muito natural e muito orgânico. A conversa que se segue entre as duas é tão “vida real” que imaginei que o roteiro apresentava apenas cinco páginas e o resto era tudo improvisação. Nota 10 por ter me pego dessa forma.
Dito isso, é bom frisar também que Kevin não possui uma história romanceada e não esperem curvas dramáticas, nem mesmo um desfecho excelente. O filme é tão trivial do início ao fim que isso acaba sendo o seu ponto alto. Uma conversa entre amigas que não se veem há muito tempo, colocando o papo em dia e falando sobre como foram suas vidas durante esse tempo todo. Minha ficha só foi cair de verdade quando elas mostram fotos antigas de quando eram jovens. Só aí percebi que se tratava realmente da vida real.
Diálogos interessantes e importantes
As conversas selecionadas para estarem no longa são todas muito boas. Kevin tem muito o que nos contar e, entre esses papos, o que mais me chamou a atenção foi quando ela diz sobre ter filhos e conversa sobre o racismo. A respeito dos filhos (ela tem três), a personagem diz que nada foi planejado, as coisas aconteceram e isso funcionava bem. Enquanto a maioria das mulheres modernas planejam o nascimento de seus filhos, nossa protagonista simplesmente deixou acontecer.
Quando Kevin fala sobre o racismo que sofreu na Alemanha é um pouco mais interessante. Ela diz que nunca sofreu isso de uma forma tão descarada, comparando o preconceito a um chicote. De acordo com ela, o chicote hoje em dia é mais sútil e está nas pequenas coisas, como alguém perguntar para ela se, por acaso, sabe usar um garfo e faca. Por mais que não haja uma maldade na pergunta, se nota um preconceito estrutural. É um detalhe que me pegou também.
Conclusão
Kevin não é o tipo de longa do tipo comercial que vai fazer o amante casual de filmes entrar na sala de cinema e gostar (infelizmente). É muito intimista e conta uma história real de duas amigas conversando sobre suas vidas. Não é maravilhoso, mas é o suficiente interessante para quem se presta a vê-lo. A obra é digna de um bom festival de cinema e para o público que comparece a eventos do tipo para prestigiá-lo. Afinal, histórias simples também são interessantes.
Onde assistir ao documentário Kevin (2022)?
A saber, Kevin estreia nesta quinta-feira, 3 de novembro de 2022, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
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Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:
Trailer do documentário Kevin (2022)
Kevin (2022): elenco do documentário
Joana Oliveira
Kevin Adewko
Ficha Técnica do documentário Kevin (2022)
Direção: Joana Oliveira
Roteiro: Joana Oliveira, Laura Barile
Duração: 81 minutos
País: Brasil
Gênero: Documentário
Ano: 2022
Classificação: a definir