Klondike A Guerra na Ucrânia crítica do filme 2022 onde assistir elenco data de estreia lançamento

‘Klondike: A Guerra na Ucrânia’: os horrores do cotidiano de um conflito sem lado certo

Wilson Spiler

Em meio às brutalidades da guerra na Ucrânia, pouca gente sabe, mas o conflito não teve início em 2022. Os primeiros passos para chegarmos ao atual estágio de tensão se deram em 2014, quando a Crimeia foi invadida pelos russos e anexada ao país depois que o ex-presidente ucraniano, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos.

O filme Klondike: A Guerra na Ucrânia (Klondike), de Maryna Er Gorbach, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 5 de maio, conta a partir da chamada guerra na Donbas, antiga região produtora de carvão e aço da Ucrânia, que corresponde à totalidade de duas grandes regiões orientais, Luhansk e Donetsk, que cobrem desde a área próxima a Mariupol, no sul, até a fronteira com a Rússia no norte. Caso conquistasse essas duas grandes localidades, a etapa seguinte seria anexar Donbas ao território russo, da mesma forma que ocorreu com a Crimeia.

Qual o motivo da guerra entre Ucrânia e Rússia?

Na época, o povo ucraniano estava dividido entre aqueles que queriam uma maior integração com a Rússia e os que apoiavam uma aliança com a União Europeia. Após a queda de Yanukovych, o Parlamento da Crimeia elegeu um primeiro-ministro pró-Rússia e votou pela separação da Ucrânia. Líderes pró-Rússia na região alegavam que precisavam proteger a Crimeia dos “extremistas” que haviam tomado o poder em Kiev e ameaçariam o direito de se falar o idioma russo.

Em 16 de março de 2014, eles organizaram um referendo no qual as pessoas foram questionadas se queriam que a república autônoma se juntasse à Rússia. A Ucrânia e países como EUA e Reino Unido consideraram o referendo ilegal, mas a Rússia apoiou o pleito com vigor.

Segundo as autoridades locais, 95,5% dos eleitores na Crimeia apoiaram a opção de se juntar à Rússia no polêmico referendo que foi realizado sem a presença de observadores internacionais confiáveis. Dois dias depois, Vladimir Putin oficializou a invasão ao assinar um projeto de lei incorporando a Crimeia à Federação Russa.

A anexação foi criticada internacionalmente e tanto os EUA quanto a União Europeia impuseram uma série de sanções a indivíduos e empresas russas em resposta à anexação da península.

O que a Crimeia tem a ver com a guerra entre Rússia e Ucrânia?

Em 1º de fevereiro de 2022, Putin acusou países europeus e os Estados Unidos de ignorarem as preocupações de segurança da Rússia depois que os norte-americanos se recusaram a garantir que a Ucrânia não ingressaria na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Para o presidente russo, a possível adesão dos ucranianos à aliança militar “minaria a segurança da Rússia” e que os EUA estavam usando a o país vizinho para “conter os russos”.

Desde a anexação da Crimeia, a península tem sido um ponto de antagonismo entre as quatro frentes: Rússia, Ucrânia, países europeus e os EUA. Enquanto as nações do Velho Continente consideram a Crimeia como parte da Ucrânia, Putin continua determinado a defender a ideia de que a península pertence à Rússia, alertando que a entrada da Ucrânia na Otan poderia conduzir os EUA e a Europa a uma guerra com os russos pelo controle do território.

O filme Klondike: A Guerra na Ucrânia

Por toda essa história contada anteriormente, poucos filmes têm tanta atualidade como Klondike: A Guerra na Ucrânia (Klondike), de Maryna Er Gorbach, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 5 de maio.

Como explicado, embora a trama seja situada em 2014, seus eventos reverberam até hoje com a guerra na Ucrânia em andamento. No filme, Irka (Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin) vivem em Donetsk, nas proximidades da fronteira entre o país e a Rússia, um território em disputa no começo da Guerra em Donbas. O casal aguarda o nascimento do primeiro filho, quando um avião de um voo civil é abatido por mísseis, que cai na região, matando quase 300 pessoas, o que só fez aumentar a tensão e deixando um rastro de tristeza e luto.

Tolik, então, é pressionado por seus amigos separatistas pró-Rússia a se juntar a eles. Por outro lado, Yaryk (Oleg Shcherbina), irmão de Irka, suspeita que o casal esteja traindo o próprio país. Enquanto a angústia é crescente, a jovem se nega a deixar sua casa, mesmo quando o vilarejo onde vivem é capturado pelas forças armadas. Tentando reaproximar seu marido e seu irmão, a protagonista pede que eles unam forças para reconstruir sua casa, que foi destruída num bombardeio.

Contrastes estonteantes

Nascida na Ucrânia e radicada em Istambul, Maryna Er Gorbach disse, em entrevista ao jornal alemão Zeit, que se lembra com clareza do fatídico 17 de julho de 2014, quando houve o ataque ao avião, afinal, é a data de seu aniversário. Como ela revela e o filme Klondike: A Guerra na Ucrânia mostra bem, ninguém esperava uma guerra à época. Em diversas cenas, os protagonistas se perguntam: “estamos mesmo uma guerra?”, “já começou a guerra?”. Não por dúvida do que está acontecendo, mas por não quererem acreditar no que estão vendo.

Klondike: A Guerra na Ucrânia é um filme fenomenal. Com uma fotografia estupenda em tons quase monocromáticos e diversas cenas em planos bem abertos, com longas projeções e até planos-sequência, objetivando mostrar não só a fuga dos ucranianos do país como também significado vazio de uma guerra.

Diálogos e atuações marcantes

Os diálogos também impressionam. Em dado momento do longa, onde Yaryk e Tolik, de “lados opostos”, conversam: “A guerra só vai acabar quando os inimigos estiverem mortos. O mais importante é saber quem é o inimigo. Você não é um separatista, você é um escravo”. Falas que trazem uma profunda reflexão sobre conflitos e quais as verdadeiras razões deles.

As atuações também são convincentes e comoventes. Irka, que está grávida, é a representação maior do filme. Uma mulher prestes a dar à luz em um mundo cercado por armas e ódio. O trabalho de cenografia, inclusive, é brilhante. Afinal, deixa bem claro essa mistura de poder bélico, mortes e o cotidiano, com fuzis em cima da pia da cozinha ou da mesa de jantar, ou corpos espalhados a esmo. Além disso, a falta de uma parede na casa por causa do acidente, reforçada pelos dizeres “eles destroem tudo o que a gente constrói”, explana com perfeição essa divisão de mundo.

Dedicado às mulheres, Klondike: A Guerra na Ucrânia deixa uma mensagem bem clara. O final arrepiante, muitíssimo bem dirigido, é digno de aplaudir de pé, em uma cena que resume bem os horrores do cotidiano de um conflito sem lado certo. Por isso, faço minhas as palavras da diretora: “Não há soldado ou matador sem mãe. Há sempre uma mulher por trás deles. Nenhum homem lutaria por seus valores, por si mesmo. Os homens que lutam na Ucrânia buscam suas forças no fato de terem mães, esposas, filhas”.

Onde assistir ao filme Klondike: A Guerra na Ucrânia?

A saber, o filme Klondike: A Guerra na Ucrânia estreia exclusivamente nos cinemas no dia 5 de maior de 2022. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

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Trailer do filme Klondike: A Guerra na Ucrânia

Klondike: A Guerra na Ucrânia: elenco do filme

Oxana Cherkashyna
Sergey Shadrin
Oleg Scherbina

Ficha Técnica

Título original da série: Klondike
Direção: Maryna Er Gorbach
Roteiro: Maryna Er Gorbach
País: Ucrânia e Turquia
Gênero: drama e guerra
Duração: 100 minutos
Ano: 2022
Classificação: 16 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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