Chromatica: a volta de Lady Gaga ao pop
Ana Rita
Com baladas animadas, dançantes e acompanhadas dos desabafos de Lady Gaga sobre saúde mental, empoderamento feminino, dores e superação, o mais recente álbum de Gaga, Chromatica, marca o retorno da cantora ao pop. Trazendo uma pegada futurística e de outro universo, a identidade visual de Chromatica lembra bastante filmes como Mad Max (1979) e Barbarella (1968).
Continuação de Born This Way
Chromatica se assemelha mais a Gaga que conhecemos em The Fame Monster, e principalmente a artista que transcendeu com Born This Way. No segundo trabalho da cantora, temos o nascimento da realidade e fantasia da Mother Monster. Chromatica parece ser a concretização desse universo, do planeta de Gaga, criando tribos com características diferentes, mas que permitem que cada um se identifique com sua tribo.
A inspiração no eurodance dos anos 90 remete mais ainda o eletropop de Born This Way, sendo as batidas de dança que Artpop (3º álbum) não alcançou, e contrapõe bem o country em Joanne (5º álbum).
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Chromatica I
A cantora dividiu a obra em possíveis 3 atos, cada um deles antecedidos por um interlude, no caso, temos o primeiro, “Chromatica I”, que antecede as músicas “Alice”, “Stupid Love”, Rain On Me”, “Free Woman”e “Fun Tonight”.
Assim, temos o também o lead single nessa nova Era, Stupid Love. As batidas se assemelham bastante as de “The Edge of Glory”, de Born This Way, sendo uma das músicas mais enérgicas do álbum. O clipe apresenta da melhor forma o visual da nova era de Lady Gaga e evidencia as influências dos anos 90 em Chromatica.
Nesse primeiro momento, temos uma das canções menos animadas, carregando uma balada mais romântica, com um verdadeiro desabafo sobre pressões da mídia, e um possível relato de término.
A faixa que mais marcou as mídias sobre a era Chromatica foi “Rain on Me”, com participação de Ariana Grande. Apesar de bem dançante, uma verdadeira música de balada, a letra fala sobre os problemas com bebida enfrentados por Gaga e traumas por Ariana, porém de forma a celebrar esses conflitos, sentir esse sofrimento, mas se sentir viva, como dito em uma parte do refrão, “I’d rather be dry but at least I’m alive”.
“Alice” é o ápice de Chromatica I, com beats influenciados pelo groove de Donna Summer, a rainha do Disco. A faixa se encaixa bem na temática do álbum, a vontade de se libertar, a busca pelo “País das Maravilhas”, do livro de Lewis Carroll.
Chromatica II
O segundo momento de Chromatica se inicia da melhor maneira possível, com a música mais poderosa do álbum, 911. Com sintetizadores de voz e influência funk, a cantora fala sobre sua luta contra antipsicóticos, que seria o 911.
Tem-se então, a força de Lady Gaga contra a depressão e seu transtorno obsessivo compulsivo, que para não se ver chorar, toma 911 (a pílula), que a levará para o paraíso (podendo ser uma referência ao “Wonderland” de “Alice”) e assim, fugirá de seu maior inimigo, ela mesma. O clipe de 911 é chei de simbologias e possui referências do surrealismo de Felini (do filme “8 ½”) e o estilo de Frida Kahlo.
Com o auge do Kpop, temos a faixa “Sour Candy”, com participação do grupo BLACKPINK, que devido ao vazamento da música, acabou sendo lançada um dia antes do lançamento de Chromatica. Fazendo uso de sample de “What They Say”, de Maya Jane Coles, a música faz o perfeito casamento entre o pop da Mother Monster e o Kpop que cresce a cada dia. Chromatica II se encerra com a faixa “Replay”. Nela, Lady Gaga fala dos “monstros” que a torturam, sobre as ânsias que a assombram. Com um groove disco dos anos 70, “Replay” foi eleita a melhor música de Chromatica pela Billboard.
Chromatica III
O terceiro “ato” começa por “Sine From Above”, a faixa que conta com a participação de Elton John. A música parece ser um faixa um tanto quanto experimental, com mais graves. A voz de Elton não encaixa de forma tão natural com a de Gaga no refrão durante o segundo momento da música. Nos últimos 30 segundos, a mudança deixa mais evidente o caráter “experimental” de “Sine From Above”, sendo a música mais distinta de Chromatica.
O encerramento do álbum se torna coeso com “Babylon”. A canção parece ter sido feita para um desfile, se assemelhando bastante ao hino “Vogue” de Madonna, por conter influência disco dos anos 90.
O Retorno do Pop
O álbum ainda está no seu processo de divulgação, então nos resta esperar por mais clipes e claro, a tour “The Chromatica Ball”, que concretizará o universo de balada pop criado por Lady Gaga.
Sendo um dos álbuns mais pops de 2020, Chromatica terá mais sucesso quando as baladas e boates voltarem, para que assim, se celebre o pop da forma mais autêntica e original possível, enquanto isso, aproveitamos para apreciar o trabalho de Gaga de modo mais individual e absorver também as mensagens transmitidas pela Mother Monster.