Laura Canabrava por Ana Alexandrino capa Ultraverso

Laura Canabrava e sua música multicultural brasileira

Cadu Costa

O Brasil é um país multi. Multiétnico, multicultural, multissensorial, múltiplo. Em todas as suas camadas, mazelas e maravilhas, ser brasileiro é algo além do que se vê. Ou ouve. Essa pequena introdução é apenas para explicar o sentimento ao conhecer o trabalho da cantora e compositora carioca Laura Canabrava.

Conhecida pelo elogiado “Aiye“, lançado em 2018, Laura nos presenteou em maio deste ano com o gostoso EP “Vontade“. Além da faixa-título, o independente possui mais três canções tão diversas quanto poderosas. Desafio o leitor a não cantar junto o refrão de “Amor Livre”, com os braços abertos…

E, como artista bom é aquela que produz nas mais variadas plataformas, Laura Canabrava apresentou o clipe de “Vontade” no último dia 03/12. Dirigido e produzido pela artista visual multimídia Letícia Pantoja, o vídeo possui elementos surrealistas que lindamente conectam a música, num estilo techno-brega-pop, com sua letra que mais parece um hino ao que todo mundo sentiu neste 2020 nefasto.

Por isso, neste mês de lançamento desta pequena obra-prima, o ULTRAVERSO conseguiu conversar com esta talentosa cantora. Soubemos um pouco mais como tudo foi produzido e ainda descobrimos a simpatia em pessoa. Confere aí!

Laura, fale pra nós como foi o lançamento do EP e videoclipe “Vontade”

O EP “Vontade” foi lançado em maio deste ano, no meio de toda essa loucura da pandemia, mas como já estava tudo preparado, foi importante compartilharmos um pouco de música neste momento. Já o videoclipe da canção “Vontade” foi uma parceria com a VJ e artista visual Letícia Pantoja que tem um trabalho lindo com colagens e onde pudemos fazer essa brincadeira visual.

Mas antes, eu já tinha conseguido lançar um clipe caseiro da música “Eu Fico Doida” com diversos bailarinos que filmaram de suas casas mesmo. Ficou bem legal. Simplesmente aproveitamos o momento para continuar fazendo arte.

Conte um pouco sobre você, sua carreira

Meu primeiro álbum foi lançado em 2018, o disco “Aiye” com músicas minhas. Esse trabalho nasceu antes do próprio lançamento, em shows mesmo pois eu já cantava e tocava aquelas canções e tudo aquilo resultou no disco. O que é o contrário do “Vontade” onde eu não pude fazer shows ainda. Então minha carreira começa antes dos discos, com shows e tudo.

Participei da banda Brasil de Cara, uma banda super legal que tem uma mistura que adoro que é ritmos brasileiros com rock, pop, jazz e tudo mais que for. Também estive num grupo de cultura popular que é o Coletivo Matuba, além de ter tocado e ainda gostar de tocar muito forró. É uma pergunta muito ampla, já fiz de tudo (risos).

E que “Vontade” é essa? Como foi lançar esse projeto durante uma pandemia?

Foi muito engraçado isso pois “Vontade” foi uma música feita há dois anos atrás e que coincidiu com este momento. Essa “Vontade” surge da liberdade, de estar cansada da rotina do dia-a-dia que nos massacra, que nos limita, que me limita como mulher de fazer minhas vontades.

E como foi lançar o primeiro clipe do EP, da música “Eu Fico Doida” durante essa crise no mundo?

O plano era lançar o clipe “Vontade” primeiro, a ideia já tinha sido pensada desde quando chamei a Pantoja para produzir a concepção visual mas com o atropelo da quarentena, a gente foi adiando e pensamos em uma outra música. E aí, chamei muitos dançarinos de diversos estilos para mostrar a diversidade dos movimentos e pessoas.

Como surgiu a letra de “Eu Fico Doida”?

Foi uma música muito íntima. Eu comecei a fazer ela pelo refrão que é muito a vontade do outro, de se embriagar de paixão. Mas depois, quando fui me aprofundando para escrever o resto, eu fui para um caminho mais interno de mim comigo mesma.

De me aprofundar no meu desejo, olhar pra ele e tentar entender como eu permito que ele aconteça, como eu me visto dele e como eu fluo dentro dessa energia.

Já a canção “Vaidade” vai por um caminho interessante sobre a valorização da mulher? Seria mais ou menos por aí?

Sim, é isso porque eu acho importante quando estamos numa relação, nos questionarmos se a pessoa está te dando valor, te tratando como você merece. A mulher sempre foi subjugada, esteve no lugar de submissa ao homem, então é muito fácil cairmos nesse lugar novamente. Às vezes, as coisas não são tão escancaradas como a violência doméstica.

Às vezes, de um modo muito sutil, uma relação que parece saudável esconde diversas questões. Precisamos encontrar pessoas que nos admirem e que estejam do seu lado, crescendo junto. Mas essa música é uma questão em si. Será que a ‘vaidade’ é isso ou alguma coisa minha? Até porque acho que a gente precisa de uma parcela de vaidade, nada como egocentrismo e tal, mas um pouco de amor próprio.

Uma das melhores canções do EP é justamente a última, “Amor Livre”, que exala uma liberdade ao cantar. O amor é livre, Laura?

Demais. O amor é livre e precisamos lembrar disso. Nesta sociedade de hoje, estamos sempre lembrando disso e tentando se conectar com essa liberdade, com essa alegria do amor em todos os sentidos.

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Foto: Ana Alexandrino / Divulgação

Foi uma decisão pessoal lançar um disco com apenas quatro músicas?

Sim, foi uma decisão pessoal mesmo. Teve a questão financeira porque meu trabalho anterior, “Aiye”, foi feito com a arrecadação por crownfunding. O que é muito legal, mas fazer isso novamente é muito difícil pelo trabalho que dá, pela necessidade de mobilizar muitas pessoas e eu também queria experimentar fazer um EP com menos músicas, com coisas diferentes. Eu gosto muito de um trabalho com conceito, tudo amarradinho. Se eu faço um EP, ele tem um conceito. Se eu faço outro, posso brincar com outra coisa. Eu gosto disso.

Suas músicas têm uma forte temática feminista. No seu canal há um programa de entrevistas chamado “Lugar de Fala”, onde você conversa com mulheres de diferentes meios. Você enxerga a interseccionalidade dentro do feminismo?

Sim, totalmente. Minha visão feminista é interseccional pois são diferenças de privilégios que temos de olhar, se questionar. Eu vou estar em lugares de privilégio às vezes, outras vezes não. E é uma grande desconstrução, uma coisa que está na raiz da construção da sociedade. Temos de procurar aprender e essa minha série “Lugar de Fala” foi feita para ouvir as mulheres e seus diferentes trabalhos. E nesse momento do país, é uma longa caminhada.

Meu trabalho caminha muito com a minha vida. É uma busca de me entender nesse mundo e nisso vou querendo aprender e isso tudo vai me afetando e eu vou colocando nas músicas de uma forma muito pessoal. E eu faço isso porque esse é o meu lugar de fala, é o meu lugar mais verdadeiro, onde eu posso mais contribuir. Mas eu gosto de trazer outras pessoas para conversar pra entender que tudo isso que eu sinto faz parte de um contexto, de uma questão histórica e social porque somos seres sociais. Tudo nos afeta em conjunto.

Por fim, como você vê o futuro da música num futuro pós-pandemia?

Sinceramente, não tenho a menor ideia e nem tenho uma visão positiva. Aqui no Rio de Janeiro, já estava ruim antes da pandemia com várias casas de show fechando, teatros fechando. Eu acho que um futuro diferente a gente tem que correr pra construir agora porque eu não sei o que vai acontecer. Tenho medo.

Conheça o trabalho de Laura Canabrava

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho.

Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN