Lennon – Biografia em HQ | Resenha
Alvaro Tallarico
John Lennon no divã. A biografia de um verdadeiro mito a partir dele mesmo se abrindo para uma terapeuta. Apenas um sonhador em busca de um manual de instruções para a felicidade. Esse homem nos ajudou a imaginar um mundo diferente, sem fronteiras, sem guerras, sem religiões. Todos vivendo em paz. Utopia cada vez mais necessária. Você foi um sonhador, John. Mas não o único, nem o último.
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Afinal, sob a arte em preto e branco expressiva e realista do francês Horn Perreard, caminhamos pela biografia de um dos músicos mais influentes no mundo. “Não posso expressar nada de artístico se não for pessoal”, diz Lennon. O romance gráfico é composto por dezessete sessões de terapia de John e um epílogo. Há quadros tão belos e sensíveis, assim como tantos outros caricaturais ou irônicos, entre sonhos e pesadelos.
Ademais, essa obra da nona arte contém uma gostosa ludicidade, pois cada imagem é uma passagem para outra dimensão, onde Lennon ainda vive. A impressão é que está ouvindo-o falar diretamente com você, frente a frente, falando sobre suas dores e traumas da infância, o distanciamento dos pais, o tédio. Além disso, a influência de Elvis Presley, a descoberta da música, a carência, e como todos esses fatores formaram um genial artista. Ao mesmo tempo, e acima de tudo, um ser humano falho como nós. Lennon sabia como ser um grande canalha arrogante.
O TRISTE ESCAPE ATRAVÉS DAS DROGAS
Como é bonito saber mais sobre como foi o primeiro encontro com Paul McCartney (ainda vivo, vegetariano e na ativa até hoje). Aquele aperto de mão mudaria o mundo inteiro, quem poderia saber? Lennon não esconde nada, está na terapia, abre o coração e fala sobre as tantas drogas que consumia, do álcool a heroína, passando pelo LSD. O vazio lhe espreitava. Contudo, “All You Need is Love”! Yoko Ono aparece como tábua de salvação. A mulher odiada por muitos como causadora do fim de uma das maiores bandas de todos os tempos é tida por John como a pessoa que salvou sua vida. Seria Yoko um oportunista? Para muitos sim, para John, não, jamais.
David Foenkinos, francês que estudou literatura e música, foi o responsável pelo texto original que virou primeiramente um livro, para depois tornar-se quadrinhos. Eric Corbeyran, outro francês (como gostam do Lennon, não?), roteirizou com simplicidade sofisticada a história. A tradução é de Fernando Scheibe.
paz e amor, por favor
Os Beatles mudaram o mundo e John Lennon deixou sua marca. ‘Imagine’ é uma das músicas que marcaram minha infância, minha vida, meus caminhos, minhas escolhas. Lembro de ouvir no rádio e viajar naquela melodia, procurar a tradução da letra. Um menino que nem sabia o que o mundo era, mas sabia que era daquele jeito que devia ser. Ou assim imaginava.
Em suma, em tempos de filme com tema dos Beatles (leia a crítica: ‘Yesterday‘), Lennon é uma biografia em quadrinhos maravilhosa, tocante, com um final triste e conhecido. Como outro grande pacifista, Gandhi, foi assassinado por tiros. Covardes armados. Contudo, a jornada desse mito, seus (muitos) erros e acertos, nos fazem sentir mais humanos – e mais fãs. E a última página fornece um lampejo de esperança pela maior luta de Lennon: a paz.