Lidando com a Morte filme Dood in de Bijlmer

Mostra de SP 2021 | ‘Lidando com a Morte’: diversidade cultural no luto

Ana Rita

Às vezes, acredito que seja imensurável a diversidade cultural do mundo em que vivemos. Pela mídia e outros meios, há uma tendência de padronização e visão direcionada. Mas a verdade é que o mundo é diverso e cheio de culturas e estas possuem duas particularidades. Que vão de simples costumes, alimentação aos rituais de despedida, como velórios e enterros.

O filme Lidando com a Morte, documentário dirigido por Paul Sin Nam Rigter, mostra um pouco dessa diversidade e a tentativa de acomodar e incluir diversos tipos de rituais de despedida, de religiões muçulmanas, hindus a de origem ganesa. A obra foi a vencedora do prêmio de melhor documentário holandês no IDFA.

Respeito à diversidade

Acompanhamos Anita Van Ioon, gerente da empresa funerária Yarden, que busca de forma inovadora criar um centro funerário multicultural, um espaço acessível a todos. Durante conversas e apresentações executivas de Anita, notamos a intenção de compreender as necessidades de cada grupo, conhecer as diversas culturas em Amsterdã.

Ao mesmo tempo que conversa com líderes religiosos, vai entendendo como cada grupo lida com a morte, o que ela significa, para, assim, alcançar uma inclusão e conseguir garantir o serviço funerário a todas, se adequando às necessidades dos rituais.

Diferentes Lutos

Quando o documentário se aprofunda dos rituais, distanciando-se do recorte de Anita, começamos a ver que lidar com a morte não é apenas na necessidade de um espaço que se adeque aos tipos de atividades. Depois que vemos Anita conversando com líderes de uma determinada religião, paralelamente, acontece um ritual de religião distinta, enfatizando a diversidade cultural e como cada um lida com a morte.

É o momento quando o filme Lidando com a Morte começa a criar um sentido e um foco. Tem-se uma família se despedindo de um homem, com uma mulher que chora e grita. Todos se emocionam. Em seguida, fatídico destino, Anita vai também precisar lidar com a morte de uma pessoa próxima. Com cenas expositivas em paralelo, a obra consegue mostrar as discrepâncias dos dois rituais, enriquecendo, dessa forma, o ponto de quem existem muitas e diferentes culturas.

Aliás, essa diferença não é resumida à necessidade de um espaço especial ou como o corpo é preparado. Mas também à intensidade e à emoção que cada cultura tem com a despedida de alguém.

Enquanto um tem gritos, choros, depois dança e música, o outro é mais silencioso, contido e até conformado. Esse fato não quer dizer que uma cultura sente mais do que a outra, mas mostrar a complexidade da morte para cada povo. Com um corte territorial como Amsterdã, notamos também uma certa exclusão que parte de uma sociedade majoritariamente cristã, que, além de ser maioria, acaba por padronizar o que muitos entendem como a despedida de alguém que morreu.

Interesses e entusiasmos

Por outro lado, Anita teve que lidar com a morte de forma direta. E é explícita a diferença quando se mistura cultura e negócios. Sem contar que o objetivo da Yarden gerará, de certa forma, um monopólio em relação aos rituais funerários.  O projeto do centro funerário é bastante ambicioso e a gerente perceberá essa dificuldade. Começamos, então, a observar uma Anita mais contida, mais calada, que já parece não concordar com o projeto, mas que segue os negócios.

No entanto, o que poderia ter sido aprofundado não foi. No desfecho do documentário, Anita já diz incomodada. Que acha que dentro da Yarden dificilmente haverá um interesse genuíno. Existe apenas esse tipo de entusiasmo ingênuo e que, agora, está feliz em deixar a empresa. Esse corte abrupto da mulher ainda trabalhando para a firma, indo direto para uma Anita que apenas comenta sobre deixar a companhia parece tratar de forma frustrante do assunto. Afinal, não houve conflito ou desenvolvimento deste. Apenas uma compreensão de que não há como saber de todas as culturas e suprir suas necessidades.

“Achamos que sabemos o que é melhor para todos”, diz Anita. Assim, com sua conformação, há o desligamento da empresa. Finaliza-se com o centro funerário multicultural já pronto e é como se houvesse uma descaracterização cultural, 19 culturas que farão uso de um mesmo lugar, o qual possui uma arquitetura simples, apática e genérica, sem identidade e sem cultura.

Deste modo, há um reconhecimento da imensa diversidade que reside em apenas um bairro de Amsterdã e que não é tão simples o resumo e definição de tantas culturas, muito menos em relação aos rituais relacionados à morte.

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Trailer do filme Lidando com a Morte

Ficha Técnica

Título original do filme: Dood in de Bijlmer
Direção:
 Paul Rigter
Roteiro: Paul Rigter
País: Holanda
Duração: 74 minutos
Onde assistir ao filme Lidando com a Morte: Mostra de SP 2021
Gênero: documentário
Ano de produção: 2020
Classificação: a definir

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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