Liniker Índigo Borboleta Anil crítica de álbum

Liniker emociona em seu primeiro álbum solo, ‘Índigo Borboleta Anil’

Cadu Costa

Liniker sempre foi uma artista poderosa e quebradora de correntes. Agora, em seu primeiro disco solo, Índigo Borboleta Anil, a cantora e compositora compartilha as suas vivências do hoje. Desde a primeira faixa, a deliciosa e fofa “Clau”, seu trabalho apresenta vertentes, nuances. Além disso, parece feito pra emocionar e tocar o melhor que a música brasileira pode oferecer.

Ou nas palavras da própria Liniker: “Quando eu o ouço, percebo que é um álbum de groove, um trabalho preto que circula bem no hip hop e, ao mesmo tempo, tem uma orquestra que poderia estar em um filme da Pixar”.

De fato, o álbum de Liniker, Índigo Borboleta Anil, lançado no último dia 9 de setembro, é um passeio musical por uma busca completa pelo alcance vocal num contexto de samba, MPB, groove e blues.

Ritmo emocional único

Com a participação de Milton Santos, Tássia Reis, Orkestra Rumpilezz e Orquestra Jazz Sinfônica, Índigo Borboleta Anil é Liniker do começo ao fim. Com uma experiência artística moldada pela própria vida, seus quase 50 minutos de duração passam num ritmo emocional único.

Por exemplo: a já citada faixa “Clau”, onde Liniker abre o álbum com uma homenagem à sua cachorra chamada Claudete. O ouvinte já é ganho ali ao ouvir de amor e também entendendo a metáfora sobre amar algo, ou alguém, independente de alguns obstáculos. Acompanhada pela Orquestra Jazz Sinfônica, misturando guitarras elétricas, violinos e percussão e latidos de “Clau” no final, a canção é uma declaração de amor, simplesmente amor.

Em seguida, somos brindados por “Antes de Tudo”. A canção é considerada a primeira composição de Liniker, feita aos seus 16 anos. Saxofones e instrumentos de sopro da Orkestra Rumpilezz ditam um jazz perfeito, onde a cantora sustenta todo o seu poderio vocal através de uma composição sublime.

Mix de memórias e ritmos

Índigo Borboleta Anil segue nesse mix de memórias, assim como de ritmos e com diversos destaques como “Lalange”. Na faixa, Liniker começa recitando um sonho seu, no qual ela retorna à sua creche já adulta e começa a procurar sua versão criança, mas não a encontra em lugar nenhum. Mesmo que sua mãe a acompanhe na busca, nunca deixando seu lado.

Essa faixa é importante para a cantora, que diz ser fundamental falar sobre as crianças pretas e suas mães – que, por muitas vezes, não conseguem viver em boas condições devido às intolerâncias da sociedade. Com participação de Milton Santos, as duas potências musicais refletem sobre suas ancestralidades como pessoas pretas e sobre como essas figuras maternas estão constantemente cansadas por ter de defender suas crianças de um mundo que as coloca no alvo todos os dias.

Após isso, com o ouvinte sedado por sua voz, experiências e sonoridade, Liniker prova seu talento, sua sensatez artística e poesia fulminante. Se você não conhece a artista, esse é um modo muito peculiar de ser apresentado a uma voz que tem tudo para ser o novo momento pensante e avassalador da música brasileira.

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Ouça Índigo Borboleta Anil, de Liniker

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN