‘Little Fires Everywhere’ conta histórias que precisamos ouvir

Guilherme Farizeli

Antes de mais nada, Little Fires Everywhere é uma grata surpresa do Prime Video da Amazon nesta quarentena. Dessas que a gente não pode perder.

A saber, a minissérie é uma adaptação do best-seller homônimo de Celeste Ng (Pequenos Incêndios por Toda Parte, no Brasil), que atua também como produtora no projeto do Hulu com a companhia Hello Sunshine.

Aliás, a trama gira em torno da relação confusa entre Elena Richardson (Reese Witherspoon), jornalista e mãe de quatro filhos e Mia Warren (Kerry Washington), mãe de Pearl Warren (Lexi Underwood) e artista recém chegada à cidade de Shaker Heights, Ohio, no ano de 1997.

Entretanto, diferentemente do livro, Mia e Pearl são negras na série e a chegada das duas em uma comunidade predominantemente branca é o ponto de partida para a história.

Little Fires Everywhere
(Divulgação Hulu)

Conflitos raciais, sexismo e privilégio

De fato, Little Fires Everywhere apresenta algumas semelhanças com outra produção da Hello Sunshine (produtora capitaneada por Reese Whiterspoon) – Big Little Lies. E ela o faz da melhor maneira possível: colocando as mulheres no controle da narrativa, seja em frente ou por trás das câmeras.

Apesar do episódio piloto ser um pouco arrastado, posteriormente, o desenvolvimento da trama é muito eficiente e alterna o foco na relação entre Elena e Mia com o desenvolvimento gradual dos outros personagens.

Além disso, o roteiro explora com maestria as vulnerabilidades das personagens principais, sem necessariamente direcionar o espectador para um dos lados.

É possível sim, por exemplo, se identificar com a narrativa de Mia sem abandonar completamente a jornada de Elena. Isso ocorre especialmente à medida em que ela se aproxima mais de Pearl.

Então, conforme o conflito se intensifica, a trama apresenta outras questões além do conflito racial e da maternidade.

Tudo de maneira igualmente sensível e com a profundidade possível em uma minissérie de oito episódios.

Aliás, sexismo e privilégio são amplamente discutidos na série. Nesse aspecto, destaco os arcos de Izzy (Megan Stott) e Lexie (Jade Pettyjohn), personagens que crescem bastante à medida que a história avança.

Little Fires Everywhere
(Divulgação Hulu)

Grandes canções por toda parte

Situada nos anos 90, Little Fires Everywhere acerta em cheio na ambientação, seja com figurinos, cenários, mas, principalmente, na trilha sonora. É que, diversas vezes ao longo da história, somos levados para lugares emocionais muito pessoais, de fato.

Sensação que acontece ao som de versões de músicas como “On & On”, de Erykah Badu; bem como “Rain King”, do Counting Crows; “Since I Fell For You”, de Nina Simone; “Femme Fatale”, do The Velvet Underground; “Waterfalls”, do TLC, além das clássicas (e lindíssimas) “You Oughta Know” e “Uninvited”, de Alanis Morissette.

Sem melodrama

Aliás, o ritmo tranquilo com o qual a trama de Little Fires Everywhere foi dirigida e editada foge do tom melodramático que poderíamos encontrar neste tipo de adaptação.

Por exemplo, as origens das personagens principais são apresentadas em forma de flashbacks. Isso mantém o interesse do espectador em descobrir quais segredos essas personagens carregam e como foi a jornada que as levou até ali.

Além disso, apesar da relevância dos temas discutidos, a série é um entretenimento de mão cheia.

Por fim, as atuações de Reese Witherspoon e Kerry Washington são, sem dúvida, o elemento catalisador para o sucesso de toda a engrenagem.

Ademais, a performance de Washington lhe rendeu uma indicação ao Emmy 2020. A atriz concorre na categoria Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para a TV.

A saber, Little Fires Everywhere ainda concorre nas categorias Melhor Direção em Minissérie ou Filme para a TV, com a diretora Lynn Shelton (que infelizmente faleceu no último dia 16 de maio), e também como Melhor Minissérie.

Little Fires Everywhere
(Divulgação Hulu)

Teremos uma segunda temporada de ‘Little Fires Everywhere’?

Embora tenha declarado algumas vezes que adoraria fazer uma segunda temporada, a showrunner Liz Tigelaar confirmou que o material foi idealizado como uma minissérie.

De fato, é possível que o sucesso de Little Fires Everywhere tenha um peso na decisão final. Entretanto, nenhum anúncio oficial foi feito nesse sentido. Enfim, é uma sensação agridoce.

Ao mesmo tempo que o arco dos personagens principais tem uma conclusão satisfatória, a qualidade da história faz com que o espectador deseje assistir a uma continuação.

Conclusão

Enfim, Little Fires Everywhere vai além de uma simples adaptação literária para a telinha.

Afinal, ela tem um roteiro conciso, além de uma história bem construída e executada, seja pela fotografia, trilha sonora e edição, que são impecáveis, ou pela desenvoltura do elenco. O casting vai bem além dos incríveis talentos das protagonistas Reese Witherspoon e Kerry Washington.

Portanto, todas essas qualidades reforçam o poder das histórias contadas na série e aprofundam o laço que o espectador desenvolve com elas. Cria-se uma perspectiva única e provocando uma reflexão essencial para a época em que vivemos.

FICHA TÉCNICA

Título original: Little Fires Everywhere
Temporada: 1
Data de estreia: 18 de março de 2020
Criação: Liz Tigelaar
Elenco: Reese Witherspoon, Kerry Washington, Joshua Jackson, Lexi Underwood, Megan Scott, Jade Pettyjohn, Rosemarie DeWitt, Gavin Lewis, Jordan Elsass e Huang Lu.
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: Drama
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos
Onde assistir: Amazon Prime Video

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
NAN