Com visão pessoal de diretor, ‘Macabro’ traz história real de ‘Irmãos Necrófilos’
Cadu Costa
Em meio a crise do Covid-19 e uma discussão sobre a volta ou não dos cinemas, um filme brasileiro vem dando o que falar. Dos mesmos produtores de Tropa de Elite, assim como dirigido por Marcos Prado (Paraísos Artificiais, 2012), o filme Macabro estreou no último dia 22 nos cinemas de Rio e São Paulo.
A saber, o longa é inspirado na história real de Ibrahim e Henrique de Oliveira, os chamados “Irmãos Necrófilos”, acusados dos assassinatos de oito mulheres, bem como um homem e uma criança, na Serra dos Órgãos, em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, nos anos 90.
História real
Exibido inicialmente durante a 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e no Festival Internacional de Cinema do Rio 2019, o longa estreou internacionalmente na competição oficial do Festival de Austin no Texas, onde levou o prêmio de Melhor Filme na categoria Dark Matters. Além disso, venceu o prêmio de Melhor Filme pelo júri popular na versão online do Brooklin Film Festival, em junho de 2020.
Mas por que a produção tem despertado atenção da mídia? Porque o filme Macabro levanta a questão sobre o que de fato aconteceu naquele período onde os irmãos Oliveira assombraram Janela das Andorinhas, zona rural pacata e paradisíaca de Nova Friburgo.
De acordo com o diretor Marcos Prado, parceiro de José Padilha em Tropa de Elite 1 e 2, ele teve acesso à história dos ‘Irmãos Necrófilos’ em 2009. A busca por Ibraim e Henrique, dois jovens negros, acusados da morte e estupro post-mortem de 10 pessoas, é, até hoje, uma das mais longas e difíceis operações do Batalhão de Operações Especiais (BOPE).
Temas importantes
Com temas como misoginia, racismo, abusos e fanatismo religioso, o filme Macabro leva para as telas uma visão muito pessoal e ficcional dos assassinatos. Nela, passamos a acompanhar tudo pelo olhar de Téo (Renato Góes, de Legalize Já – Amizade Nunca Morre, 2017), um sargento do Bope. Assim, após uma morte em serviço, ele vai à Serra dos Órgãos para colaborar na captura dos irmãos criminosos. Entretanto, Téo é da região e havia sido expulso da localidade onde deixou uma situação familiar e amorosa mal resolvida.
Eventualmente, Téo descobre uma condenação generalizada partindo da imprensa, da polícia e lideranças locais. Ademais, percebe um padrão histórico de abuso tão violento na comunidade quanto os crimes pelos quais Ibraim e Henrique são acusados.
No entanto, o problema de Macabro é justamente tentar absolver e justificar os crimes bárbaros cometidos. Como citado anteriormente, Prado conheceu o advogado de Henrique Oliveira, um dos irmãos que se encontrava preso, em 2009. Ele alegava que seu cliente havia sido condenado injustamente pois não havia provas contra. Ainda segundo o defensor, Henrique não havia participado dos crimes com o irmão Ibrahim.
Mas como ter a certeza disso? Afinal, existem materiais e depoimentos de diversas fontes destacando a participação tanto de Henrique – condenado a 49 anos prisão – quanto a violência de Ibrahim.
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Do horror para o thriller
Antes de mais nada, o roteiro de Macabro foi escrito por Lucas Paraizo e Rita Gloria Curvo. O texto é fruto de uma extensa pesquisa por parte de sua produção através de fóruns, processos, autos de julgamentos, entrevistas com moradores da região e com o próprio acusado, Henrique de Oliveira.
A princípio, o filme tinha uma ideia mais assemelhada com o horror e o macabro, como sugere seu nome. No entanto, a presença de Téo faz com que trafegue pela ação e o thriller. E isso nem é ruim. Mas, como os crimes narrados foram amplamente noticiados na mídia nos anos 90, com pitadas de lendas e histórias sobrenaturais contadas pelos próprios moradores, a mudança de direcionamento de gênero contribuiu muito para uma narrativa lenta, cansativa e com cheiro de inverdades.
Roteiro difícil
Rodado numa região próxima onde os crimes aconteceram, Macabro poderia ter continuado na ideia de filme de terror. Teria rendido mais ao público e à própria história. As justificativas abordando o racismo cotidiano de dois garotos, que viveram em um ambiente de constante violência doméstica e foram violentados pela vida, não sustentam a obra, que brinca com a bruta realidade do que realmente aconteceu.
Por fim, o que fica é mais uma tentativa do cinema nacional em querer entrar no cinema de gênero. Com um desfecho à lá Seven – Os Sete Crimes Capitais, Macabro tem boas atuações, bem como fotografia e direção de arte impecáveis. Infelizmente, devido a um roteiro difícil de ser digerido – e com certo desrespeito às vítimas -, o filme perde a chance de ser reconhecido como uma obra de terror genuinamente brasileira.
TRAILER
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