Madeira e Água Wood and Water crítica do filme Mostra de SP 2021

MOSTRA DE SP 2021 | ‘Madeira e Água’: contemplação de contrastes

Ana Rita

Destacar contrastes é uma interessante maneira de ressaltar mudanças, não necessariamente para apontar críticas ou a existência de uma superioridade.

No filme Madeira e Água, dirigido por Jonas Bak, conhecemos Anke, que após se aposentar do trabalho da igreja, resolve reunir todos os filhos para as férias de verão. Max, seu filho que mora em Hong Kong, não consegue ir ao encontro da mãe, devido aos protestos que acontecem na cidade e que fizeram os aeroportos serem fechados. Sendo assim, ela decide viajar para visitar o filho, se aventurando em um novo e desconhecido mundo, uma cidade bem diferente da que estava acostumada.

Mudanças

A narrativa de Madeira e Água é marcada por constantes mudanças na vida de Anke. Desde o começo da sua aposentadoria à ida a Hong Kong, uma cidade com rotina e movimentação bem distinta a de Floresta Negra, onde morou a vida toda. No início da obra, podemos observar e acompanhar o cotidiano da protagonista, com um dia-a-dia tranquilo, calmo e pacato.

Ao chegar em Hong Kong, o contraste entre as cidades se torna extremamente evidente, mesmo que nada seja dito diretamente. E acompanhemos essas mudanças através do que a câmera capta, o movimento da cidade, as luzes e  o barulho.

Essa transição para uma nova cidade não afeta apenas Anke, que vê aquilo como novidade. Com o filho ocupado, a mãe vai ao médico receber um resultado de Max. Lá descobre que ele está com depressão por ansiedade, que talvez tenha sido causada por essa mudança de ambiente.

Durante um dos passeios pela cidade nova, Anke vai conhecendo a cultura e descobre um lugar que faz leitura da vida, mais especificamente, da sorte. De acordo com essa leitura, há vários elementos, dentre eles a água, associado a Anke. Quem faz a  leitura diz que água é para uma pessoa nobre, mas a mulher tem um ponto fraco: há falta de madeira. Além disso, ainda segundo a previsão, seus filhos vão voar para longe e lutar pelo seu  futuro. Sendo assim, ela deve se mudar para perto da floresta, onde tem madeira, que é exatamente como o local que já mora.

Quase documental

O modo como a câmera é usada em “Madeira e Água” é extremamente agregador à narrativa. Com ângulos específicos, como captam em planos mais abertos, mas deixando fluir a cena de forma natural, e com uma câmera mais externa captando o interno. O diretor Jonas Bak é responsável por uma decupagem que gera uma sensação de ser um documentário  pelo espectador.

O silêncio também é um artifício que corrobora nessa aparente busca pela verossimilhança e esse aspecto documental nessa ficção. Essa câmera tímida e silenciosa acompanha atividades rotineiras de Anke, como comer e assistir TV,  e essa aventura por Hong Kong.

Solidão e contemplação

Os enquadramentos em alguns casos são contemplativos, com composições que usam bem a cidade de Hong Kong como fundo, enfatizando a solidão mesmo em cidades populosas. Quando precisa ficar em um quarto compartilhado de um hotel, Anke conversa com uma desconhecida sobre a vida, bem como a falta de emprego e as impressões da cidade, a relação entre os habitantes.

A câmera passeia pela cidade e nos convida a contemplá-la. Se move com os imóveis, os prédios, mas se mantém mais estática com seus personagens.

Por fim, o filme Madeira e Água traz a solidão e a sensação caótica de grandes cidades, grandes mudanças e suas consequências. A ansiedade com o novo e o tentar se encontrar no meio de tudo isso.

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Trailer do filme Madeira e Água (Wood and Water)

Madeira e Água (Wood and Water): elenco do filme

Lena Ackermann
Anke Bak
Theresa Bak
Alexandra Batten

Ficha Técnica

Título original do filme: Wood and Water
Direção:
Jonas Bak
Roteiro: Jonas Bak
País: Alemanha
Duração: 79 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Classificação: a definir

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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