Mães de Verdade filme crítica

‘Mães de Verdade’ traz boas reflexões, mas se estende demais

Ana Rita

Infelizmente, falar de adoção ainda é um forte tabu na sociedade. Muitas vezes é traçada uma rivalidade entre mãe adotiva e biológica, acompanhada por um pré-julgamento do motivo de dar o filho para adoção. No filme Mães de Verdade (Asa ga Kuru), dirigido por Naomi Kawase, é abordada essa reflexão sobre ser uma ‘mãe de verdade’ e os possíveis desenvolvimentos da maternidade.
Partindo de uma abordagem mais humana sobre o ato de adotar uma criança, o casal Kiyokazu (Arata Iura) e Satoko (Hiromi Nagasaku), que tentava engravidar, opta pela adoção. Assim, Kiyokazu e Satoko se tornam agora os pais de Asato, cuja mãe biológica é Hikari (Aju Makita).
Portanto, é exposto no momento inicial do filme a tentativa de construção da família tradicional pelo casal. Afinal, ao pensarem na adoção, participam de um programa no qual reuniões são realizadas para mostrar os benefícios de adotar uma criança. Além disso, o modo que a situação é tratada deixa claro o pensamento da sociedade japonesa conservadora, e o receio de alguns sobre adotar um bebê.
A saber, Mães de Verdade é dividido em três partes, abordando pontos importantes presentes em casos de adoção, como a vontade de ser mãe por Satoko, o encontro do filho, da mãe biológica e da mãe adotiva. Assim como explora de forma detalhada os dramas vividos por Hikari durante a sua gravidez na adolescência.

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A graça do nascimento

As cores claras, cenas com uma iluminação intensa e com longa exposição à luz dão uma sensação de divindade. A estética transcendental mostra a pureza na criação de uma criança. Ter um filho, seja por parto ou adoção, é um momento único.
O uso de enquadramentos móveis dá um caráter mais intimista às cenas. O espectador é quase um observador “materializado”. Em alguns momentos, ao explorar a intimidade nos problemas da família de Satoko e Kiyokazu, a câmera é como quem espia, quem observa escondido, gerando maior tensão e dinamismo.
Mesmo com pouco uso de planos fixos, há uma dialética na utilização dos planos. A câmera móvel associada a um ritmo lento cria toda a ambientação de melancolia à trama, despertando, assim, o emocional da narrativa. Entretanto, Mães de Verdade se estende mais do que deveria. As mais de duas horas de filme trazem muitas cenas que se perdem dentro da história.
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Gravidez na adolescência

A sociedade culpa a mulher pela gravidez na adolescência e, no filme Mães de Verdade, os desdobramentos nessa mudança na vida de Hikari apontam os abandonos e julgamentos que sofrera da família, bem como da sociedade, do pai da criança e até dos pais adotivos de Asato.
Quando Hikari é apresentada enquanto adolescente, é possível notar a necessidade de amadurecimento precoce devido à gravidez. Uma cobrança principalmente da família, afinal seria “uma criança cuidando de outra”, como disse sua mãe.
Para contar como a vida de Hikari mudou, tudo que passou, é usado um longo flashback. Um resgate profundo e detalhado dessa trajetória da jovem. É o melhor momento do filme, apesar de longo. Parece que nessa parte da narrativa, Mães de Verdade encontra o seu foco principal e sabe como tratá-lo, desenvolvendo bem as relações da jovem, seus conflitos e dramas, que, com cenas de contemplação de paisagens, agregam à trama, envolvendo o espectador no ambiente de Hikari.
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Lição

Por fim, o encontro de Hikari, Asato e Satoko se abre para uma lição, usando como base uma gravidez inesperada na adolescência e uma posterior adoção que rompe tabus. Afinal, Asato sabe que é adotado, e tudo é tratado com normalidade e leveza pelos pais. Além de abordar a naturalidade ao se falar de adoção, a gravidez de Hikari e seus desdobramentos expôs os julgamentos que a jovem precisou lidar. Dramas com a família, dar um filho para a adoção e a luta pela sobrevivência – agora sozinha -, lembrando sempre do filho que não pode criar e cuidar.
Há delicadeza no assunto apresentado por Naomi Kawase, com o uso de cores claras, muita luz e cenas contemplativas. Mas essa leveza no simbolismo e na claridade se sobressai à narrativa, transparecendo ser a prioridade da diretora, o que enfatiza o ritmo lento do filme, tornando-se muitas vezes cansativo.
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TRAILER DO FILME ‘MÃES DE VERDADE’

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FICHA TÉCNICA

Título original: Qi Huan Zhi Lv
Direção: Naomi Kawase
Roteiro: Naomi Kawase, Izumi Takahashi
Elenco: Miyoko Asada, Tetsu Hirahara, Arata Iura
Onde assistir filme ‘Mães de Verdade’: nos cinemas
Data de estreia: qui, 13/05/21
País: Japão
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Duração: 140 minutos
Classificação: a definir

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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