Mansão Mal-Assombrada é comédia despretensiosa e povoada por personagens carismáticos
Laisa Lima
A fantasmagoria sempre forneceu novas narrativas ao cinema. Concentrada em único lugar então, é sinônimo de playground para o audiovisual. As casas mal-assombradas são revisitadas constantemente por motivos de, além das fórmulas certeiras já comprovadas, uma curiosidade eterna por parte de um público que anseia em conhecer melhor o mundo dos mortos que vagam de cômodo para cômodo. Foi assim com Poltergeist (1982), Os Outros (2001), A Maldição da Casa Winchester (2018), O Grito (2002), por aí vai. Entretanto, será possível adicionar um toque de humor dentro de um escopo tão angustiante? A resposta é sim.
Em 2003, Mansão Mal-Assombrada trouxe Eddie Murphy para cooperar com o ambiente infantil e cômico do filme, produzido pela Walt Disney Pictures. Em 2023, a Disney segue fiel à ideia de Mansão Mal-Assombrada, agora dirigido por Justin Simien, encontrar um eixo entre a distração e o sobrenatural.
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Ben (Lakeith Stanfield) é um guia turístico responsável por um tour em espaços regidos por fantasmas popularmente conhecidos em Nova Orleans. Embora desacredite na veracidade do que conta, o personagem, astrofísico de formação, desenvolve uma câmera capaz de visualizar espíritos; e é desse artifício que padre Kent (Owen Wilson) necessita. Após Gabbie (Rosario Dawson), mãe de um menino de 9 anos, recorrer ao padre para libertá-los das assombrações da mansão em que vivem, um grupo de especialistas em casos espirituais é recrutado, incluindo Ben. Logo, o mais niilista da equipe se deparará com um universo descrente de qualquer crença.
Reboot
Mansão Mal-Assombrada é um reboot do longa-metragem de 2003, porém conserva uma atmosfera bem mais madura do que seu antecessor. Desde as tiradas humorísticas até sua base, pautada mais na realidade de acontecimentos paranormais do que na imaginação, a obra induz o espectador a compreender que aquelas experiências não fogem tanto de ordem concreta. Atividades extracorpóreas, alucinações, conexão com os falecidos etc., não são analisados com o exagero comum de produções da Disney, mas sim com maior sobriedade advinda de questões inexplicáveis ao mesmo tempo que amedrontadoras para qualquer um. Apesar do peso realístico, os grandes resquícios da ênfase em um público jovem não permite virar-se totalmente às indagações de complexidade extrema, estagnando, assim, no puro entretenimento.
O time interligado por padre Kent é, na verdade, o motor hilariante do enredo. Bem trabalhados e diferenciados por temperamentos, estéticas, motivações e senso de humor, tais personagens aplicam à simplicidade da história tons equilibrados de comédia, priorizando a diversão de assistir a trupe lidando com o meio externo ao invés de deixá-lo dominar o filme. A médium falida Harriet (Tiffany Haddish) e um professor de física apaixonado pelos mistérios da mansão onde Gabbie vive, interpretado por Danny DeVito, além do nada ortodoxo padre de Owen Wilson, compõem perfis que engradecem a condução do longa-metragem, tornando-o no mínimo interessante – a participação de Jamie Lee Curtis e sua Madame Leota é igualmente alvo de divertimento, aliás. Também aliado a eles, Ben é o que possui a trama que carrega consigo uma alma tocante: lidando com o luto todos os dias por conta da perda da esposa, seu palpável sofrimento comove quando é mencionado.
Previsível e clichê
A mansão, tal qual como era em 2003, fala por si só. Empoeirada, permeada pelo ranger das madeiras e pelos grunhidos das escadas, com lustres espalhafatos, candelabros escondidos atrás do pó e quadros que perseguem com os olhos, o espaço, explorado à exaustão pela câmera, favorece a escuridão, fazendo-o suscetíveis a possíveis sustos. Contudo, a produção, talvez por construir um ar de passatempo e não tanto de tensão, pouco alcança o patamar de terror. Nem os vislumbres da filmagem de cunho documental e as intensas tentativas de quebra de expectativa atingem momentos exacerbadamente apreensivos. Ao chegar em seu ápice, quase toda cronologia pode ter sido reconhecida pela audiência, afugentando espantos ou reações surpreendidas, levando em consideração os clichês, como a disposição do grupo de especialistas e as fases de descobertas ultrapassadas dentro da casa, e as propostas batidas com objetivo de assustar, ao decorrer da obra.
Mansão Mal-Assombrada não é grandioso, muito menos memorável. Gerado pautadamente em formulaicas experiências não apenas com fantasmas, mas também para com a cinematografia, o longa-metragem é descritível de maneira contínua, sem haver o carecimento de certas cenas que o alongam. Todavia, se a despretensão fizer parte de seu olhar como público, a perspectiva sobre o que se espera do filme muda. Leve (ainda que se trate de uma temática paranormal), divertido, desprovido de maiores intenções e povoado por personagens carismáticos, Mansão Mal-Assombrada é indicativo de lazer, mesmo que este seja por alguns minutos, esvaindo mais tarde da memória deixando poucos rastros.
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Trailer do filme Mansão Mal-Assombrada
Ficha Técnica do filme Mansão Mal-Assombrada
Título original: Haunted Mansion
Direção: Justin Simien
Roteiro: Katie Dippold
Elenco: LaKeith Stanfield, Rosario Dawson, Owen Wilson, Tiffany Haddish, Danny DeVitto, Jamie Lee Curtis, Chase Dillon, Jared Leto
Onde assistir: Cinemas
Data de estreia: 27 de julho de 2023
Duração: 122 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Comédia, Drama, Terror
Ano: 2023
Classificação: 12