Unhas, cabelos, dentes… o importante trabalho da maquiagem no cinema
Wilson Spiler
Olhos macabros, unhas enormes, dentes saltando pela boca, cabelos bizarros… estamos falando do nosso querido Zé do Caixão, certo? Não. Até poderíamos, se forçássemos um pouco a barra, mas estamos nos referindo mesmo à maquiagem no mundo da sétima arte.
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A criação do Oscar de Maquiagem
A saber, a primeira cerimônia do Oscar aconteceu em 1927, mas a categoria de Melhor Maquiagem (hoje com o acréscimo do termo “Penteados”) foi criada apenas em 1982. Entretanto, não foi uma ideia brilhante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ela só foi criada após reclamações de que o trabalho de maquiagem do filme “The Elephant Man” (1980) não seria honrado.
Enfim, o excepcional filme de David Lynch não recebeu prêmio nenhum, mas foi o grande inspirador dessa categoria dedicada apenas aos profissionais de maquiagem. Antes disso, os maquiadores tinham que se contentar apenas com prêmios de “realização especial”.
Primeiro premiado
E o primeiro longa a receber a honraria foi o clássico “Um Lobisomem Americano em Londres”, de 1981. Com uma maquiagem precursora e desafiadora para a época, o trabalho de Rick Baker, de fato, foi uma revolução no quesito. Afinal, o filme trouxe para as telas efeitos especiais inovadores, destacando-se, principalmente, por não utilizar nenhum efeito especial e, ainda assim, não ficou devendo em nada para as grandes produções.
Além disso, em uma das das melhores sequências de transformação do homem em lobisomem da história do cinema, o diretor John Landis (Os Irmãos Cara de Pau e Um Príncipe em Nova York) queria não só ver aquelas unhas em gel e dentes de borracha crescendo, mas também os ossos – principalmente o crânio -, sendo transformados diante dos olhos do público. O resultado final são alterações no crânio, juntamente com os dentes, as unhas de gel rasgando a pele com a palma da mão se esticando, bem como pelos crescendo e a espinha dorsal se modificando de forma dolorosa. De fato, um trabalho primoroso de maquiagem.
A saber, o filme ganhou uma sequência em 1997, intitulada de “Um Lobisomem Americano em Paris”. Entretanto, o longa não repetiu o sucesso do anterior, mesmo contando com gente do gabarito de uma Julie Delpy no elenco principal. A produção teve um orçamento maior (US$ 25 milhões contra US$ 10 milhões da original), mas um capricho menor no que tange à maquiagem e aos efeitos especial. Tanto é que sequer foi cogitada para o Oscar.
O árduo trabalho da maquiagem
A maquiagem, de fato, não é um trabalho simples. É preciso passar um ar de veracidade, mesmo que estejamos falando de filmes de ficção. Muitas vezes, estamos tão envolvidos com a trama que não percebemos este detalhe espantoso. Mesmo em produções que envolvem altas doses de CGI, a maquiagem não fica de lado. E este é um trabalho em conjunto feito pela equipe envolvida, como diretor, atores, diretor de arte, figurinista e maquiador.
Na franquia X-Men, por exemplo, Jennifer Lawrence, que interpreta a personagem Mística, tinha que ficar cerca de sete horas disponível para realizar este trabalho. Todos os dias. Ao todo, seis mulheres faziam parte da equipe responsável pelo trabalho. Segundo a maquiadora Frances Hannon, foi necessário fazer cerca de 20 testes — com pinturas corporais em diferentes mulheres — a fim de encontrar o tom de azul perfeito para a vilã (ou heroína, sei lá). É um processo tão trabalhoso que levou a atriz a desistir do papel ao fim de “Fênix Negra”.
Já Siva Rama, maquiadora responsável pela caracterização de filmes brasileiros como “O Cheiro do Ralo” (que contou com uma transformação impressionante do ator Selton Mello), “Todas as Canções de Amor” e “Serra Pelada”, bem como de séries de TV como “Me Chama de Bruna”, da Fox, afirmou certa vez que “tem diretores que já chegam com uma ideia preconcebida da caracterização e depois chega o ator com outra. Acho que o que eu mais faço é ajustar todas as ideias de cada departamento e trabalhar a curva dramática de cada personagem”.
Outra curiosidade revelada pela profissional diz respeito aos materiais usados. Segundo a artista, nem sempre são cosméticos.
“A gente chama de ‘kit sujeira’. Nesse kit tem carvão ralado para sujar debaixo das unhas, argila para misturar com água e fazer craquelado ou sujeira com resíduo”, explicou Siva ao Guia da Semana.
Mudança de patamar
A maquiagem, atualmente, atingiu um patamar maior. Definitivamente, é um dos fatores predominantes que alçam uma produção ou uma atuação a outro degrau. Podemos citar, por exemplo, o último premiado ao Oscar na categoria. “Vice” contou com um trabalho nesse quesito impressionante e transformou Christian Bale em Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, deixando o ator com uma aparência de cerca de 20 anos a mais. O serviço foi tão bem-feito que garantiu indicações ao Oscar para os envolvidos nas categorias Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Maquiagem e Penteados, tendo sido premiado exatamente nessa última esfera.
Ou seja, a maquiagem no cinema vai muito além de filmes de terror, que contam com unhas saltitantes, dentes afiados e olhos maquiavélicos, a fim de tornar a produção mais assustadora. Esse trabalho auxilia no processo de atuação e direção, interferindo diretamente no sucesso ou não da película, mesmo que, muitas vezes, passe despercebido. Isso acontece quando um trabalho é tão bem-feito que parece real. De fato, é um processo que merece uma salva de palmas para os profissionais desse ramo.