Melhores momentos da carreira de Chris Cornell

Cinco anos sem Chris Cornell: relembre os melhores momentos da carreira do artista

Guilherme Farizeli

Antes de mais nada, é preciso ressaltar que intenção primordial desse artigo é a celebração. Chris Cornell nos deixou há exatos cinco anos e acho que é o momento adequado para celebrar a os melhores momentos da carreira desse ícone.

Soundgarden é a minha banda preferida, Cornell foi uma das minhas primeiras e mais importantes influências na hora de compor. Sempre fui conhecido entre meus amigos mais próximos como “o maior fã de Soundgarden que já existiu”. E, apesar do exagero, a verdade é que eu senti bastante a morte do cara. E ainda sinto. Dessa forma, um dos objetivos desse artigo é estimular essa espécie de catarse através da música, que pode ser coletiva também. Basta vocês embarcarem nela comigo. Bora?

Que carreira!

O mais legal da carreira de Chris Cornell é que cada um encontra seus melhores momentos em pontos diferentes. Seja com o Soundgarden, uma das bandas mais importantes da história do rock, reverenciada por gente do calibre de Paul McCartney, Robert Plant e Jimmy Page. Ou com sua maravilhosa discografia solo. E até mesmo na sua aventura com o Audioslave, que lhe rendeu uma popularidade inesperada.

Todos esses momentos tem joias não tão conhecidas pelo grande público. E esse é o meu objetivo: mostrar pra vocês um Chris Cornell além do óbvio. Então, só aqui entre a gente, vamos considerar mudar o título desse texto para “melhores momentos não óbvios da carreira de Chris Cornell”. Pode ser? Então partiu.

Forjado na tragédia, salvo pela música

Em março de 1990, Soundgarden já era uma banda muito respeitada em Seattle e conhecida no underground, por assim dizer. Mas, nessa ocasião, Cornell perdeu seu melhor amigo Andrew Wood, vocalista da banda Mother Love Bone. Dessa história viria o nascimento do Pearl Jam, meses depois. Mas vamos focar na perspectiva do Cornell, que se trancou no quarto e escreveu quase um disco inteiro em homenagem ao amigo. Daí nasceu o Temple of the Dog, projeto queridinho de todo fã de grunge.

O álbum é maravilhoso e vai muito além de “Hunger Strike”, maior single da banda. Aqui, eu destaco para vocês “Wooden Jesus”, uma canção que fala sobre os exploradores da fé alheia. O tema continua bem atual, não acham? Cornell manda a letra de forma bem direta quando pergunta “Can I be saved? I spent all my money on a future grave; Wooden Jesus, I’ll cut you in, on twenty percent of my future sin“.

A trilha das trilhas

Eu comecei a conhecer o Soundgarden mais à fundo em 1998, lá nos meus idos 14 anos de idade. E a banda meio que tinha acabado nessa época. Chatão. No entanto, exatamente nesse período, Cornell se preparava para lançar uma leva de suas melhores músicas, naquele queria seu melhor disco solo (e um dos melhores álbuns ever, na real). A canção que escolhi aqui, entretanto, não chegou a entrar no álbum (só na versão japonesa, vai entender) mas foi trilha sonora do filme Grandes Esperanças, lançado no mesmo ano.

“Sunshower” é um ótimo exemplo do estilo de composição de Cornell, misturando tonalidades maiores e menores, usando e abusando de acordes cheios de “malícia” e cromatismos. Se você não se arrepia ouvindo o outro (parte final da música, diferente das anteriores) dessa canção, seu coração está gélido por dentro.

As the seasons roll on by“…

Não dá pra falar de carreira solo sem mencionar a primeira “aventura” de Cornell sem a banda. Lá em 1992, Cameron Crowe lança o filme Vida de Solteiro, celebrando o movimento grunge e contendo canções de Alice In Chains, Pearl Jam e do próprio Soundgarden na trilha. Mas, crowe ouviu uma fita k7 com a demo de “Seasons” e exigiu que Cornell também a incluísse na trilha do filme. O resto é história.

A letra da canção nos reserva momentos lindos como “If I should be short on words and long on things to say; could you crawl into my world and take me worlds away. Should I be beside myself and not even stay?“. Poesia pura. “Seasons” ainda voltou às telonas em O Homem de Aço (2013), de Zack Snyder.

Soundfuckingarden!

Eu volto pra carreira solo do Cornell já já. Mas vamos agora mergulhar nas maiores contribuições do cara para a história do Rock. O Soundgarden nasceu nos anos 80 e em seus primeiros trabalhos era uma mistura de muitas coisas: pós punk, metal, shoegaze. Uma doidera. No final de 1991, no entanto, a banda lançou o disco que deu início a fase mais concisa e mais popular de sua carreira: Badmotorfinger.

Aqui, os flertes com compassos compostos e afinações alternativas viraram casamento. O disco é todo lindo, incrível, ouçam à vera. E eu separei uma música de autoria do Cornell que, além de exemplificar todo o alcance vocal do cara, mostra também esses elementos supracitados e que se tornaram uma assinatura da banda. “Holy Water”, amigos:

A obra-prima

Na sequência, o Soundgarden chega com seu álbum mais famoso, o que lhe rendeu mais frutos, grana e reconhecimento. Superunknown é frequentemente apontado por especialistas como um dos melhores álbuns da história, o maior dos anos 90, etc. E é difícil contrariar essa opinião. Daqui saíram grandes sucessos da obra da banda, como “Black Hole Sun”, “Fell On Black Days” e “Spoonman” (ganhadora de um Grammy).

A música que eu separei é uma das grandes composições do Cornell, ao mesmo tempo que tem a cara do Soundgarden: “The Day I Tried To Live”. As guitarras usam uma afinação em E-E-B-B-B-B (da corda mais grossa para a mais fina) e o compasso é uma espécie de 15/8 (um ciclo de 7 e dois de 4).

Na letra, Cornell aborda sua introversão e como, muitas vezes, ele se obrigava a sair de casa e conviver com outras pessoas, se divertir e ter uma vida normal. Ele reflete que “Words you say, never seem to live up to the ones inside your head; the lives we make, never seem to ever get us anywhere but dead“.

Um melancólico “até breve”

Down on the Upside é o quinto álbum de estúdio do Soundgarden e o último antes do hiato que durou até 2012, com o lançamento de King Animal. Ele tem toda uma vibe melancólica e um gosto de despedida que acaba deixando-o ainda mais especial. Chris escreveu canções incríveis para esse disco e uma das mais especiais acabou sendo também um dos principais singles.

“Burden in My Hand” é uma espécie de “balada da derrota” ou uma jornada do herói, só que sem final. As guitarras estão afinadas em C-G-C-G-C-E (da corda mais grossa para a mais fina).

O maravilhoso Euphoria Mourning

Com o título original de Euphoria Morning (a gravadora achou o mourning meio mórbido), esse foi o primeiro álbum solo de Chris Cornell. Ele foi composto em parceria com Alain Johannes e Natasha Shneider, da banda Eleven (e que anos depois integrariam o Queens of The Stone Age). O álbum é maravilhoso, uma verdadeira obra-prima. E uma das melhores canções que Cornell escreveu sozinho para o álbum é justamente a mais famosa: “Can’t Change Me”.

A canção fala sobra uma mulher incrível, que tem o poder de mudar o mundo e ajudar as pessoas, com exceção do interlocutor. E esse momento, em que a ficha cai, é um dos mais bonitos que Cornell já escreveu. “Suddenly I can see everything that’s wrong with me, yeah; What can I do? I’m the only thing I really have at all“. De arrepiar!

A síndrome da super-banda

Muitos artistas sofrem dessa síndrome, que nem sempre acaba muito bem. Membros de bandas famosas se juntam e formam outras bandas. Mas, a história aqui é de sucesso. Em 2000, o Rage Against the Machine ficou sem vocalista. Mais uma banda em “hiato”. Magicamente, o produtor Rick Rubin deu um jeito de unir Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk ao Chris Cornell e daí nasceu o Audioslave. O primeiro álbum, lançado no final de 2002 foi um sucesso de crítica e de vendas. O disco é realmente muito divertido e consegue catalisar alguns dos melhores elementos das bandas originais, sem soar como uma cópia.

Em termos de melodia, eu destaco uma das últimas músicas do álbum e que não recebe tanto carinho quanto deveria: “Getaway Car”.

Seguindo em frente

O Audioslave acabou em 2006 e em 2007 Cornell já estava pronto para lançar seu segundo disco solo. Segundo o próprio, contendo algumas canções que ficaram de fora do derradeiro disco do supergrupo.

Carry On tem uma pegada bem pop e algumas faixas que fizeram sucesso, como “No Such Thing”, “You Know My Name” (trilha sonora do longa Casino Royale) e o inusitado cover de “Billie Jean”, sucesso de Michael Jackson. Yep, Cornell manda bem de qualquer jeito. Aqui eu separo pra vocês uma das canções mais bonitas do disco, “Safe and Sound”. Aliás, foi nessa turnê que Chris veio ao Brasil pela primeira vez e eu pude assistir na primeira fila. Incrível!

O final

O dia em que a volta do Soundgarden foi anunciada foi um dos mais felizes da minha vida. Dia 1º de janeiro de 2010, através do Twitter. E eu sou imensamente grato por ter assistido ao vivo a banda da minha vida, no no Lollapalooza Brasil de 2014. A turnê era do King Animal, último álbum de estúdio dos meus ídolos. Cornell escreveu várias canções legais para o disco e eu escolhi “Black Saturday”, como um ótimo exemplo da mistura de elementos pop a la Beatles, com toda a estranheza que é peculiar da banda, cheinha de acordes dissonantes em pleno refrão.

Viva Chris Cornell, meus amigos! Espero que essas linhas ajudem a matar as saudades ou que eu tenha contado alguma história nova pra vocês. E, claro, que vocês curtam bastante essa seleção de joias do Cornell que todo mundo precisa descobrir. Até a próxima!

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Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
NAN